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Acervo da BN | O Novo Farol Paulistano: pouco a ver com o original

29 dez 2020

Artigo arquivado em Acervo da BN
e marcado com as tags Império do Brasil, Imprensa Áulica, Imprensa Paulista, Liberalismo, Período Regencial, Secult

Já foi falado aqui sobre O Farol Paulistano, o primeiro jornal periódico paulista: pedra liberal nos sapatos de Dom Pedro I, de cujo reinado fazia franca oposição. No entanto, existiu também Novo Farol, criado pouco mais de um mês após a extinção do pioneiro. Lançado em 6 de agosto de 1831 na capital paulista, pouco depois da abdicação do imperador (e também por causa disso), O Novo Farol Paulistano vinha como legítima continuação de O Farol Paulistano. Seu contexto político era outro, totalmente diferente, assim como seus editores: sua fundação e sua direção ficaram a cargo de José Manuel da Fonseca e Francisco Bernardino Ribeyro – José da Costa Carvalho, o editor do Farol original, passou a fazer parte da Regência com a saída de Pedro I.

Impresso inicialmente na Typografia do Farol Paulistano (no nº 33 da antiga Rua São José) e politicamente liberal moderado, assim como seu “progenitor”, o novo jornal era visual, editorial e politicamente muito próximo à publicação da qual originara. No entanto, era um periódico distinto. Inserta em um momento político diferente, a nova folha era situacionista, favorável ao governo Regencial. Praticamente uma publicação do poder estabelecido, O Novo Farol Paulistano, além de publicar inúmeros atos oficiais, por volta de abril de 1835 foi temporariamente impresso na Typografia do Governo. Em suas páginas de rosto vinha com a sugestiva epígrafe “Celui que dedaigne la moderation repousse la justice” – traduzida livremente para “Aquele que desdenha da moderação repele a justiça”.

Publicado às quartas-feiras e sábados, quando lançado, O Novo Farol Paulistano tinha quatro páginas em tamanho próximo a 31 x 21cm, o mesmo do antigo Farol. Sua assinatura trimestral podia ser feita a 1.200 réis, pagos adiantadamente. Por volta de julho de 1835, pouco depois do jornal passar a ser impresso na Typografia Patriótica (de Costa Silveira, no nº 14 da Rua São Gonçalo), sua epígrafe foi substituída pela mesma que abria as edições da folha de Costa Carvalho: “La liberté est une enclume que usera touts les manteaux”, ou seja, “A liberdade é uma bigorna que desgastará todos os martelos”. Quando da mudança, a periodicidade do jornal já havia oscilado, sendo O Novo Farol, à época, praticamente uma publicação semanal, lançada somente aos sábados.

Ao longo de sua existência, O Novo Farol publicou principalmente artigos políticos favoráveis ao governo e à política liberal moderada, avaliações do momento político nacional (na seção “Interior”), notícias e questões políticas relativas a São Paulo, correspondência de leitores (de grande destaque, em vista dos assuntos abordados e das polêmicas provocadas) e inúmeros atos oficiais, em comunicados, ordens do dia, ofícios, proclamações, atas, circulares, decretos, editais, relações, saldos de despesas públicas, etc. No entanto, o jornal também trouxe ataques a determinados políticos e pessoas públicas, notícias de outras províncias que não a paulista e do interior brasileiro, ofícios enviados por vilas brasileiras variadas, polêmicas contra outros órgãos de imprensa (como Voz Paulistana e, mais intensamente, O Observador Constitucional), artigos com questões de ordem econômica e comercial, artigos sublinhando a necessidade da industrialização brasileira, notícias internacionais, transcrições de discursos de figuras públicas e de artigos de outros periódicos (como Aurora Fluminense, Diário do Rio de Janeiro, Diário do Governo, Diário Official, O Recopilador, O Independente e Jornal do Commercio), assuntos relativos ao sistema legal brasileiro, uma seção de variedades (onde eram comuns textos com ensinamentos morais, políticos e filosóficos, anedotas, máximas, etc.), anúncios de serviços e compra e venda de produtos, entre outras coisas.

De acordo com Werneck Sodré, O Novo Farol Paulistano foi um “bi-semanário oficioso, sucedido, em 1835, pelo O Paulista Oficial, porta-voz do governo da província até março de 1838, dirigido por Emídio da Silva e substituído pelo Paulista Centralizador” (p. 203). Embora sejam folhas distintas, todos estes jornais são, de fato, continuações da mesma linha política liberal inicialmente defendida pel’O Farol Paulistano. No entanto, o surgimento de um não significou o fim de outro: O Paulista Official foi lançado por Luiz Maria Paixão em 23 de outubro de 1834, ao passo que a edição mais recente conhecida d’O Novo Farol Paulistano é o nº 508, de 1º de março de 1837. Segundo Julio Couto Filho, no artigo “A Imprensa Oficial no Período Imperial na Província de São Paulo”, após o lançamento de O Paulista Official, as publicações oficiais deixaram de sair n’O Novo Farol, passando este a ser “um semanário independente, publicado apenas às quartas” (p. 3). No entanto, o nº 508 d’O Novo Farol trazia uma “Rezenha dos principaes trabalhos da Assembléa Legislativa d’esta Provincia no 2º mez da sessão ordinaria d’este anno”, um comunicado assinado pelo regente Diogo Antonio Feijó e por Gustavo Adolfo de Aguilar Pantoja e números relativos às finanças públicas.


Primeira página padrão de uma edição de 1831 de O Novo Farol Paulistano.