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Acervo da BN | Quando o futebol dava as caras na revista O Tico-Tico

06 jul 2020

Artigo arquivado em Acervo da BN
e marcado com as tags América, Biblioteca Nacional, Botafogo, Flamengo, Futebol, São Cristóvão, Vasco

Já imaginou pegar uma tesoura, ou um estilete, e recortar uma ou duas páginas de alguma
edição valiosa do acervo da Biblioteca Nacional? É melhor nem pensar: além de sacrilégio com
a memória nacional, o elemento estaria cometendo crime federal. Ainda assim, hoje apresentamos algo que, nesse sentido, deixaria coçando as mãos dos leitores mais chegados em futebol. São as figurinhas recortáveis de cada jogador titular de cada time do Campeonato Carioca de Futebol de 1939, publicadas pela revista infantil O Tico-Tico, naquele ano. Por obra e graça da nossa Hemeroteca Digital, o aficionado em questão pode imprimir em casa os modelos de craques como Domingos da Guia e Assad Alberto Zarzur – respectivamente os craques de Flamengo e Vasco naquela temporada – e botá-los frente a frente. Sem ter que acertar contas com a Dona Justa.

Certamente, algum rubro-negro raiz vai puxar a brasa para sua sardinha e falar: “Naquele ano
de 1939 deu urubu!”. É verdade. E, no caso, há motivos para se gabar: seu escrete há 80 anos
contava com Walter Yustrich, Domingos da Guia, Newton, Jocelyno, Carlos Volante (o jogador
argentino que acabou nomeando a função defensiva no meio de campo, que cumpria com
maestria), Médio, Marim, Valido, Gonzalez, Jarbas e ninguém menos que Leônidas da Silva. Foi
ele, o Diamante Negro, um dos responsáveis por boa parte da ampliação da massa flamenguista de então. Empolgou multidões, arrastando-as para onde quer que fosse naquele ano, quando o clube da Gávea conquistou seu 7° Cariocão: título que veio, aliás, com uma rodada de antecedência, infelizmente num empate morno, sem gols, com o América, em São Januário.

De qualquer forma, não deu para os demais, nos pontos corridos. Para o Flamengo foram 16
vitórias, 4 empates e 4 derrotas, somando 36 pontos. Foram 67 gols a favor e 34 contra, saldo
positivo de 33 tentos. Mas o segundo colocado, cabe dizer, também botava banca e impunha respeito: era o Botafogo de Aymoré, Bibi, Nariz, Zezé, Martim, Canalli, Alvaro, C. Leite,
Paschoal, Peracio e Patesko, que ficou atrás na tabela por apenas 3 pontos. O alvinegro, que
na época ainda não contava com a estrela solitária no escudo, teve 14 vitórias, com empates e
derrotas somando 5, cada. No balanço de gols, aí sim, superava os demais: em 24 jogos o Glorioso meteu o mamão no fundo do balaio nada menos que 80 vezes. Acabou sendo vazado em 42 oportunidades, mostrando defesa mais frágil que a do Flamengo, mas seu saldo acabou positivo em 38 gols. Nada mal.

Mas, e a Tico-Tico, a revista que publicou as figurinhas recortáveis que hoje apresentamos? Também era campeã. Lançada por Luís Bartolomeu de Souza e Silva em 1905, através da editora de O Malho, seguia os moldes da revista francesa La Semaine de Suzette. Foi a pioneira do gênero infantil no Brasil, fornecendo tanto conteúdo voltado ao lazer, como quadrinhos de aventuras ou galhofa, quanto material pedagógico, enciclopédico. Contou com personagens que faziam a alegria da criançada – Chiquinho (uma versão brasileira de Buster Brown), Lamparina, Juquinha, Bolão, Reco-Reco e Azeitona, desenhados por craques da pena como J. Carlos e Luiz Sá. Alguns dos moleques que não perdiam as travessuras e variedades de suas páginas foram Carlos Drummond de Andrade e Ruy Barbosa.

Na década de 1930, Tico-Tico volta e meia trazia conteúdo ilustrado recortável, para brincadeiras, em suas páginas centrais: desde tabuleiros para jogos a pequenas formações militares. Naquela época, a revista começava a passar por dificuldades, com a inserção equadrinhos norte-americanos no Brasil: seu concorrente, nesse sentido, era o Suplemento Juvenil, de Adolfo Aizen, fundado em 1934. Ainda assim, Tico-Tico manteve-se até a década de
1970.

Explore os documentos:

Flamengo

Botafogo

São Christovão

América

Vasco