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Cinema | King Kong estreia no Radio City Music Hall de Nova York - 2 de março 1933

02 mar 2021

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Na cidade de Nova York o diretor de cinema Carl Denham, vivido por Robert Armstrong, procura uma atriz para seu próximo filme, uma produção fantástica em um lugar misterioso. Finalmente encontra a jovem Ann Darrow (Fay Wray), que passa por problemas financeiros e deixa ser convencida pelo produtor para sua nova empreitada. Em seguida, é organizada a expedição marítima que levará a equipe de produção para uma ilha desconhecida no oceano pacífico. Lá encontram nativos que dividem a ilha com seres pré-históricos, entre eles o gigantesco rei Kong tratado pelos humanos com muita devoção. Os nativos realizam sacrifícios em nome de Kong, entre eles a oferta de companheiras para o gorila, ocasião em que a jovem atriz, recém-chegada à ilha é capturada para cumprir a difícil tarefa. Dali em diante, disputas pela mocinha e lutas pela sobrevivência em um ambiente inóspito dão o tom da produção.

Assim é o enredo de King Kong (1933), um clássico do gênero de terror e ficção científica, período marcado pela produção de “filmes monstro”. A ideia original partiu de desenhos de animais antediluvianos feitos por Willis’O Brien, trazendo à tona toda sorte de animais da pré-história para uma trama de muito embate, um épico no qual a atmosfera platônica do mito da bela e a fera é reencenado. Para tanto, a apresentação de uma fera sobrenatural, “a oitava maravilha do mundo”, como bem avaliou o ganancioso diretor,serviria como mote para o desenrolar da narrativa. King Kong, o rei da ilha das caveiras, se torna a isca perfeita para o sucesso daquela empreitada.

Filmado nos estúdios da R.K.O – Radio, a obra de Edgar Wallace também é baseada em thrillers de aventura e suspense, tendo como inspiração a célebre obra “Os Crimes da Rua Morgue”, de Edgar Allan Poe. O desenrolar da história apresenta a tensão entre os imperativos de agentes oriundos de uma Nova York moderna e a transfiguração gradual de uma grande besta em uma versão civilizada do gorila.

Ao longo da filmagem algumas sequências foram cortadas. Censores americanos pautados pelo Código de Hays reprovaram cenas consideradas muito violentas e ou obscenas. Cenas de luta com aranhas, take conhecido como "Spider Pit Sequence" e outras quando, por exemplo, Kong manuseia curiosamente as vestes da mocinha, foram sumariamente rejeitadas. Mais tarde, novas versões recuperaram e reeditaram alguns trechos. Uma versão restaurada encontra-se no Lacma – Museu de Arte de Los Angeles.

Apesar do orçamento considerado moderado para a época (cerca de U$650.000) o emprego de variados recursos tecnológicos permanece referencial para amantes e especialistas da história do cinema.Uso de maquetes e cenas miniaturizadas para fazer parecer maior a réplica de King Kong. Ao todo foram 74 réplicas feitas de arame e borracha exatamente iguais, resultado de pesquisas em museus de história natural na busca pela espécie de grande porte. A maior delas atingiu a marca de 40m de altura. Cenas de “stop-motion” e movimentos articulados do gorila em “stop-action”, conferindo dinamismo e realidade,são alguns dos efeitos especiais do filme.

Críticos avaliam que King Kong embora não seja a película mais impressionante e convincente em termos técnicos,guarda algo na produção que o mantém interessante. Preservado no imaginário popular pelo seu desfecho catastrófico – o duelo entre a fera e a bela no topo do Empire State Building, King Kong permanece como um verdadeiro cult do gênero de ficção científica.

Críticos não deixam de apontar sobre o contexto histórico e político da produção. A trama de aventura e terror evidencia uma visão estereotipada dos nativos e a polêmica associação entre primitivo e natureza ou nativo africano e selvagem, arquétipos frequentemente presentes nas películas de Hollywood no início do século XX. Visão esta perpetuada até os nossos dias.

Outras versões foram realizadas nos anos de 1976, 2005 e 2017, mas é a versão original que foi escolhida pelo National Film Registry para compor o acervo da Biblioteca do Congresso americano, conforme política para a preservação da memória cinematográfica americana.



Hemeroteca Digital: Revista O Cruzeiro, 1933

http://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=003581&pagfis=9129
http://memoria.bn.br/docreader/003581/9130

(Seção de Iconografia)