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Filosofia política | Edmund Burke, José da Silva Lisboa e a política da prudência

12 jan 2022

Artigo arquivado em Filosofia Política

"Para o triunfo do mal só é preciso que os bons homens não façam nada." (Edmund Burke)


Quase todos os que estudam as relações e influências imediatas provocadas pela Revolução Francesa no estrangeiro, costumam, ao se referirem à Inglaterra, mencionar a figura célebre de Edmund Burke, escritor e político irlandês.

Espécie de guia para a chamada "política da prudência", o pensador, nascido em Dublin, na Irlanda, no dia 12 de janeiro de 1729, foi um inimigo público da Revolução.

Sabe-se o que foi o processo revolucionário de 1789. Fruto de uma enxurrada formidável de erros do passado monárquico de França, essa Revolução começou proclamando os mais belos princípios e as mais nobres reivindicações humanitárias, que ficaram compendiadas na "Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão". Mas assim iniciada sob os mais belos auspícios, o processo revolucionário se mostrou tirânico e desastrado, praticando todos os horrores com que se celebrizou, ficando manchado na história inteira por uma série inominável de atentados e monstruosidades contra os direitos humanos.

Pois bem, logo no início da Revolução, Burke dirigiu aos franceses as suas famosas "Reflexões" sobre os métodos e processos adotados pelos revolucionários, mostrando-lhes as consequências fatais e inevitáveis, antecipando assim, quase matematicamente, todos os fatos, excessos e abusos que se praticaram.

Em sua crítica, Burke recorria à lição da experiência, sempre a demonstrar que o progresso real de todos os povos é aquele que se efetua por uma lenta adaptação, mantendo-se ao mesmo tempo a força de propulsão e a força de conservação, do justo equilíbrio das quais resulta a segurança da marcha coletiva.

Na opinião de Harold Laski, um dos intelectuais mais expressivos do Partido Trabalhista inglês, a atitude intelectual de Burke deveria ser considerada representativa de uma autêntica orientação política conservadora.

Como se poderia caracterizar com exatidão, as linhas essenciais de semelhante orientação política?

A melhor resposta nos é dada pelo próprio Burke, com sua precisão costumeira. Segundo a concepção desse famoso inimigo da Revolução, um são conservadorismo é realmente a política da prudência, aquela que procura saber quais são as concessões que devem ser feitas à pressão das novas circunstâncias e quando e como fazê-las com um mínimo de perturbação das condições sociais existentes. Um legítimo conservador, no entender de Burke, se distingue politicamente falando, é claro, por "an ability to improve" não menor que a sua "disposition to preserve". O velho conservar melhorando.

No Brasil, o estudo e difusão das obras de Burke deve-se muito a José da Silva Lisboa, Visconde de Cairu, o maior responsável pela difusão do pensamento do filósofo irlandês e pela condução prudente da ação política durante o Primeiro Reinado.

Em seus Extratos das obras políticas e econômicas de Edmund Burke, Cairu registrou o seu entendimento sobre as revoluções da seguinte forma:

“As revoluções são como os terremotos: tudo arruínam e nada reparam. A sociedade civil, depois de convulsões políticas, sempre torna a compor-se de ricos, e pobres, nobres e plebeus, bons e maus, quem manda e quem obedeça. A cena será renovada, e unicamente mudarão os atores. Só a doce influência da verdadeira religião e o progresso da cultura do espírito, podem diminuir erros e vícios dos homens, e fazer durar e florescer os impérios. Mas perfeição ideal é de absoluta impossibilidade. Que se ganha em revoluções? As ambições desordenadas se desenfreiam. É preciso confiar a força pública de novas mãos, e concentrá-las nas de poucos, ou de alguns, para se resistir aos inimigos internos e externos. Eis organizada a oligarquia, que logo finda em ditadura e tirania. Tal é o desfecho das revoluções antigas e modernas: e em algumas o despotismo se firmou para sempre.” (LISBOA, José da Silva. Extratos das obras políticas e econômicas de Edmund Burke, São Paulo: LVM Editora, 2020, pp. 32 e 35-36)

Para o nosso Visconde, o livro Extratos das obras políticas e econômicas de Edmund Burke serviria como verdadeiro “antídoto contra o pestífero miasma e sutil veneno das sementes da anarquia e tirania da França, que insensivelmente voam por bons e maus ares, e por todos os ventos do Globo”.

Em 2021, a BN promoveu uma LIVE sobre José da Silva Lisboa (1756-1835), visconde de Cairu, considerado um dos personagens mais importantes na construção do Brasil independente. A LIVE faz parte do programa 200 da Independência (ou “Lives do Bicentenário do Brasil”) da Fundação Biblioteca Nacional, que é parte do conjunto de ações em comemoração aos 200 anos da Independência do Brasil.

Para saber mais sobre José da Silva Lisboa:

http://bndigital.bn.gov.br/artigos/fundadores-do-brasil-jose-da-silva-lisboa-visconde-de-cairu-1756-1835/

https://www.bn.gov.br/acontece/noticias/2020/11/200-independencia-fundadores-brasil-visconde-cairu

https://www.youtube.com/watch?v=X1lwzuZ64iY

Para saber mais sobre Edmund Burke:

http://memoria.bn.br/docreader/830259/6413

http://memoria.bn.br/docreader/830259/6459

Para fazer o download dos "Extratos das obras políticas e econômicas de Edmund Burke", organizada pelo Visconde de Cairu.

https://digital.bbm.usp.br/handle/bbm/4224