BNDigital

História do Livro | O livreiro-editor Paulo Martin

31 maio 2021

Artigo arquivado em História do Livro

Desde meados do século XVIII até o início do XIX, a aquisição de livros, no Brasil, ocorria por meio da importação de Portugal e passava por autorização dos órgãos de censura, instalados neste país e no Rio de Janeiro. A partir de 1808, quando a família real portuguesa chegou ao Brasil, foi criada a Impressão Régia, tornando possível a compra de livros impressos no Brasil, e a importação de outros países, além de Portugal, através de autorização submetida à Mesa do desembargo do Paço, localizada no Rio de Janeiro. Segundo Rubens Borba de Moraes, houve uma mudança no comércio de livros, surgiram livrarias vendendo publicações brasileiras e livros importados da Europa. As obras à venda eram anunciadas no jornal Gazeta do Rio de Janeiro ou numa lista impressa nas últimas páginas de algumas obras.

Nesse contexto, surgiu a livraria de Paulo Agostinho Martin, filho do famoso livreiro francês Paul Martin, que vivia em Lisboa. Sua atuação, no Rio, remonta ao final do século XVIII. Instalado à rua da Quitanda, 34, era conhecido como loja da gazeta devido à exclusividade na venda e subscrição do jornal, considerado o primeiro do Brasil. Martin Filho estabeleceu-se como livreiro, no Rio de Janeiro, no início do século XIX e é considerado o primeiro livreiro-editor, editando livros de variados gêneros pela Impressão Régia. Lançou os primeiros romances publicados no Brasil, que, em geral, eram traduções de obras francesas impressas pela Impressão Régia, e a primeira novela publicada no Brasil, intitulada "Le diable boiteux", traduzida como “O diabo coxo”, de autoria de Alain-René Lesage.

De acordo com pesquisa realizada pelas historiadoras Tânia Bessone e Lúcia Bastos, sabe-se que Paulo Martin Filho encomendou, até 1808, livros sobre Religião, Filosofia, História, Literatura, dicionários, livros científicos, dentre outros assuntos. Mandou imprimir vários catálogos, o primeiro deles impresso no final da obra intitulada “O Plutarco revolucionário” de 1810, depois foram publicados dois catálogos, em 1821. Grande parte das obras vinha de Portugal, já que as tipografias particulares estavam começando a ser criadas, a partir de 1821. Ademais, a tipografia régia não conseguia dar conta da publicação de uma quantidade tão grande de obras. O livreiro trazia as novidades de Portugal, sempre antenado com os acontecimentos da época. Em 1822, no período próximo à independência, foram anunciados alguns livros, folhetos e estampas, que demonstravam obras de cunho político relativos ao movimento de constitucionalização de Portugal, em 1821. Com o fim da censura prévia, passou a importar obras antes proibidas.

Vale ressaltar que havia uma relação comercial entre os irmãos Martin em Lisboa, que continuaram o negócio da família, mesmo após a morte do pai, e Paulo Martin Filho, no Brasil. Na verdade, a circulação de impressos era de mão dupla, já que obras impressas no Brasil também eram divulgadas e comercializadas em Portugal, na Loja de Paulo Martin e Filhos. Em 1812, é publicado o “Catálogo das obras impressas no Rio de Janeiro e que se acham à venda em Lisboa na loja de... Paulo Martin e Filhos”, que está hoje sob a guarda da Biblioteca Nacional de Portugal.

Paulo Martin Filho faleceu no Rio de Janeiro, entre o final de 1823 e início de 1824. Seu primo, o livreiro também de origem francesa Jean-Baptiste Bompard, que trabalhava como caixeiro em sua loja, tornou-se proprietário da livraria, em 1824, onde permaneceu até 1828, quando retornou para a França. Bompard teve fortes vínculos com o mercado livreiro francês e manteve encomendas de livros dos irmãos Martins, em Portugal, em sua maioria para o Rio de Janeiro, mas também para o Maranhão e a Bahia.

A Seção de Obras Raras da Biblioteca Nacional guarda a obra “O Plutarco revolucionário”, de 1810, que contém um dos catálogos citados, impresso no final, além de três catálogos, publicados em 1821 e 1822, que arrolam livros e periódicos à venda na loja de Paulo Martin. Todos encontram-se digitalizados, no sítio da BN Digital, acessíveis através dos links:

http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_obrasraras/bndigital1556/bndigital1556.pdf

http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_obrasraras/or1467074/or1467074.pdf

http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_obrasraras/or1467075/or1467075.pdf

http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_obrasraras/or1467088/or1467088.pdf


O PLUTARCO REVOLUCIONÁRIO