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Literatura | Cruz e Sousa, grande poeta brasileiro

03 dez 2020

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oão da Cruz e Sousa nasceu em 24 de novembro de 1861, na cidade de Desterro, atual Florianópolis, em Santa Catarina. Negro, filho de escravizados alforriados, recebeu sobrenome, proteção e apadrinhamento do ex-senhor dos seus pais, com quem continuavam vivendo. Culto e erudito, Cruz e Sousa se tornou o mais importante poeta simbolista brasileiro, condição que não amenizou o preconceito que vivenciou por toda a vida numa sociedade escravocrata.

Sua educação formal passou pelo Ateneu Provincial Catarinense, escola frequentada pelos filhos da elite de Desterro. Ali se destacou como um aluno brilhante em matemática e línguas (francês, inglês, latim e grego). Poeta precoce (escrevia desde criança), era leitor de Baudelaire, Leopardi, Flaubert e Maupassant, e sua elevada formação cultural o tornaram uma figura singular na época, como um intelectual negro. Porém, por toda sua vida, exerceu funções muito aquém de sua capacidade. Em 1883, chegou a ser nomeado como promotor em Laguna porém foi impedido de assumir o cargo por pressão dos políticos locais que não aceitavam um promotor negro.

Em 1881 fundou, Com Virgilio Varzea e Manuel do Santos Lostada, o jornal semanal Colombo, periódico crítico e literário onde publicou o folhetim Margarida e diversos poemas (http://memoria.bn.br/DocReader/886149/7 e http://memoria.bn.br/DocReader/886149/11). Já engajado na campanha abolicionista, escreveu também em homenagem a Castro Alves. Também com Virgilio Varzea, publicou em 1885 seu primeiro livro, “Tropos e fantasias”, obra em prosa em que se encontram textos contra a escravidão. Colaborou também com o jornal republicano e abolicionista Tribuna Popular e, em maio de 1885, assumiu a redação do jornal ilustrado O Moleque, que criticava os costumes e a política através do humor e das sátiras. Neste periódico foi publicado seu discurso a favor do abolicionismo.

Em busca de um ambiente menos racista e literariamente mais aberto, Cruz e Sousa se mudou para o Rio de Janeiro em 1990. Na capital, colaborou com diversos periódicos, como Cidade do Rio, Novidades, O Tempo e Revista Ilustrada. Ao mesmo tempo, convivia intelectualmente com escritores como Raul Pompéia e Olávio Bilac e fazia amizade com o grupo de poetas que constituirá o grupo simbolista do qual será o membro mais expressivo.

Em 1983, lançou seus livros Missal e Broqueis. Sua obra tem um tom rítmico, rompendo com o rigor parnasiano da métrica e traz uma diversidade de efeitos sonoros, um vocabulário rico e jogo de sinestesias e antíteses. Outra característica é a preocupação com aspectos sociais, onde a dor do homem negro (baseado nas suas próprias experiências e preconceito que sofreu) transparece e se junta à dor universal humana.

Cruz e Sousa teve quatro filhos com sua esposa Gavita Rosa Gonçalves. A família sobrevivia com sérios problemas financeiros pois, apesar de já reconhecido como escritor e poeta, o autor só conseguiu ocupação na Estrada de Ferro Central do Brasil, em cargos subalternos e de baixo salário. Em consequência de suas condições de trabalho e vida, contraiu tuberculose, doença que também mataria seus filhos. À procura de um clima melhor para tratar da saúde, mudou-se para a estação mineira de Sítio, em 1987. Uma nota no jornal O Paiz, em março de 1898, revela que “o talentoso pensador e poeta” encontrava-se “gravemente enfermo e nas mais precárias condições de existência”. A notícia é repercutida na coluna Palestra, de Artur Azevedo, no mesmo jornal, e vários colegas e admiradores do poeta iniciam uma campanha para arrecadar fundos para ajuda-lo. Tarde demais, pois com a doença já avançada, Cruz e Sousa morreu poucos dias depois, em 19 de março de 1898, aos trinta e seis anos de idade. O transporte do seu corpo e o enterro, realizado no cemitério carioca de São Francisco Xavier, foram possíveis graças à ajuda de uma lista de contribuições de diversos amigos (http://memoria.bn.br/docreader/085669/8080), entre eles, José do Patrocínio, cujo jornal “A Cidade do Rio” publicou uma homenagem ao poeta.

Em 1961, em homenagem ao poeta, a Biblioteca Nacional realizou uma exposição comemorativa do centenário de Cruz e Sousa e o catálogo pode ser visto aqui.


Nascimento de Cruz e Sousa, grande poeta brasileiro.