BNDigital

Literatura | João Ubaldo Ribeiro, escritor brasileiro (m. 2014)

26 jan 2021

Artigo arquivado em Literatura
e marcado com as tags Biblioteca Nacional, João Ubaldo, Literatura Brasileira, Secult

No dia 23 de janeiro de 1941 nascia em Itaparica (BA) o jornalista e escritor João Ubaldo Osório Pimentel Ribeiro. Dois meses após seu nascimento mudou-se para a cidade de Aracaju no Sergipe, onde viveu até os 11 anos de idade.

Seu pai, que era professor e político, possuía uma vasta coleção particular de livros sobre a qual Ubaldo demonstrava interesse desde cedo, passando horas com livros abertos fingindo ler quando ainda não o sabia. Entre seus 5 e 6 anos de idade, seu pai, inconformado com o fato de o filho ainda não ser alfabetizado, o levou informalmente para a escola Dona GiIete, uma senhora que dava aulas particulares nas redondezas. Devido sua familiaridade com os livros, Ubaldo já conhecia as letras, o que facilitou seu aprendizado. Rapidamente aprendeu a juntar letrinhas e formar palavras, fazendo suas primeiras leituras nos livros de cordel de D. Gilete. Em alguns dias, já sabendo ler, ele foi tomado por uma curiosidade quase febril, precisava desvendar os mistérios da biblioteca do pai. E assim começou sua paixão pela literatura.

Formou-se em Direito em 1962, mas nunca advogou. Seu pai o preparou para a carreira de professor universitário e ele chegou a dar aulas de Ciência Política na Universidade Federal da Bahia. Mas seu fascínio pela máquina de escrever e pelas pilhas de papel em branco falou mais forte e Ubaldo dedicou sua vida à escrita.

Morou por um tempo no exterior passando por Lisboa, Berlim e Estados Unidos. No Brasil voltou a residir em Itaparica e na década de 1990 passou a residir na cidade do Rio de Janeiro, onde até o fim de sua vida.

Embora fosse fluente em inglês, tendo traduzido ele mesmo algumas de suas obras para este idioma, não gostava de escrever narrativas sobre o povo carioca. Dizia que nunca conseguiu se apropriar do vocabulário deste povo, apesar da convivência de tantos anos.

Ubaldo afirmava “não ter cara de escritor”. Para ele, o estereótipo de intelectualidade e formalidade atribuído aos escritores nada tinha a ver com sua aparência mais descontraída. De bermuda, sem camisa e com cigarro no canto da boca foi a forma que ele entregou os originais de “Viva o povo brasileiro” ao editor Sebastião Lacerda, e era dessa forma que ele gostava de passar seus dias.

Para escrever um romance ele seguia alguns rituais. Acordava bem cedo, ainda madrugada, e escrevia um mínimo de 3 laudas por dia. Precisava fazer isso todos os dias, pois se ficasse um tempo sem escrever perdia o vínculo com a história e o livro “desandava” como ele mesmo dizia seguindo a mesma expressão usada por Jorge Amado. Outro ritual de escrita era que ele sempre começava pelo título, dedicatória e epígrafe, sempre nesta ordem, somente depois começava a escrever o texto em si. Essa forma não muito estruturada de escrever fazia com que muitas vezes o escritor perdesse o controle de alguns personagens, como se eles ganhassem vida própria e não seguissem o destino que o autor queria lhes dar.

Uma curiosidade revelada pelo próprio escritor é que desenvolvia uma espécie de obsessão por algumas palavras, um fascínio que o fazia criar meios de incluir aquela palavra no texto que estivesse escrevendo. Foi o que ocorreu com o termo “edícula” que ouviu de uma tia enquanto escrevia “Viva o povo brasileiro”. Para conseguir incluir essa palavra no texto foi preciso criar uma fala da Baronesa que se estendeu por várias páginas. E em toda sua obra ele realizou processos semelhantes.

Ubaldo ganhou vários prêmios literários nacionais e internacionais como Golfinho de Ouro em 1971; Jabuti em 1972 e 1984, Prêmio Altamente Recomendável da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil em 1983; Prêmio Anna Seghers, em 1996; Prêmio Die Blaue Brillenschlange (Zurique, Suíça); Prêmio Life time Achievement Award em 2006; e Prêmio Camões em 2008. Em 1993 foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras.

O autor acreditava que “é impossível viver sem esperança”. E foi com essa crença que viveu seus 73 anos, falecendo em 18 de julho de 2014 na cidade do Rio de Janeiro.

(Seção de Iconografia)