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Literatura | O Controverso Menotti Del Picchia

31 jan 2022

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Um dos mais conhecidos nomes do Modernismo brasileiro, Menotti Del Picchia não apenas foi escritor, ensaísta e jornalista como também tabelião, político, advogado e artista, atuante nos campos da pintura, da escultura e do cinema.

Paulo Menotti Del Picchia (São Paulo, 1892 – 1988) era filho do casal italiano Luigi Del Picchia e Corina Del Corso. Ainda criança, mudou-se com a família para Itapira, interior de São Paulo. Cursou o ginasial em Minas Gerais e se formou em Direito na capital paulista. Casou-se aos vinte anos com Francisca Rocha Sales, com quem teve sete filhos e de quem se separou em 1924 para viver um longo relacionamento com a pianista Antonieta Rudge.

Em 1913 Del Picchia publicou seu primeiro livro, “Poemas do Vício e da Virtude”, que teve boa recepção junto à crítica. De volta a Itapira, atuou como advogado, fundou o jornal “O Grito” e publicou os poemas longos “Moisés” e “Juca Mulato”. O último já teve mais de 70 edições, e alguns críticos o consideram um precursor da poesia modernista no Brasil, além de ser o trabalho mais significativo do autor.

Leia uma apreciação de “Juca Mulato”, publicada na Revista Americana em 1918.

Após residir algum tempo em Santos, onde dirigiu o jornal “A Tribuna”, Del Picchia regressou a São Paulo e passou a colaborar com vários periódicos, bem como a participar ativamente do movimento modernista. Suas ideias eram divulgadas através de uma coluna no “Correio Paulistano”, onde usava o pseudônimo “Helios”. Também publicou livros de contos, crônicas e poemas e o romance “Laís”. No início da década de 1920, fundou a Independência Filmes, que produziu um documentário sobre o município de Presidente Prudente e outro comemorativo do centenário da Independência do Brasil.

Em fevereiro de 1922, Menotti Del Picchia participou da Semana de Arte Moderna em São Paulo, além de ser um de seus maiores divulgadores no “Correio Paulistano”. Nesse mesmo ano publicou o romance “A Mulher que Pecou”. Leia uma apreciação da obra por Osvaldo Orico, publicada na revista “Fon-Fon”.

Dentre as correntes que se formaram dentro do Modernismo, Del Picchia integrava a “Verde e Amarela”, da qual faziam parte Plínio Salgado, Cassiano Ricardo e Cândido Mota Filho. Exaltando o nacionalismo e a tradição, opunha-se ao “Movimento Pau-Brasil” de que eram expoentes Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral. Algum tempo depois, intelectuais egressos do grupo “Verde e Amarelo” criaram o movimento cultural “A Bandeira”, que advogava a necessidade de um governo forte e de promover as tradições nacionais.

Segundo a professora da USP Ana Paula Freitas de Andrade, a posição de Menotti Del Picchia era contraditória. Por um lado atacava o “passadismo” e defendia a liberdade; por outro, expressava ideias próximas às do totalitarismo, as quais foram reunidas no “Manifesto Verde e Amarelo” publicado em 1929. Nunca se filiou à Ação Integralista Brasileira, fundada em 1932 por seu confrade Plínio Salgado, mas escreveu para o jornal integralista “A Ofensiva”.

Foi várias vezes deputado, atuou no programa educacional do governo paulista, apoiou a campanha de Júlio Prestes para a Presidência da República e a Revolução Constitucionalista de 1932. Em 1938, foi o primeiro Diretor da seção paulista do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), no que o sucedeu outro confrade, Cassiano Ricardo.

Ao mesmo tempo que desempenhava essas e outras funções, Del Picchia continuou a escrever, incursionando por vários gêneros literários. Foram mais de quarenta obras, entre poemas, romances, ensaios, memórias, livros juvenis, de aventuras e de ficção científica. Dos últimos, o mais conhecido é “A República 3000” (mais tarde rebatizado de “A Filha do Inca”), lançado em 1930, no qual uma expedição militar encontra uma cidade perdida no interior do Brasil. Seus habitantes seriam descendentes de cretenses dos tempos minoicos, conduzidos até ali por um navegante fenício – uma recriação da lenda de Atlântida em meio à selva brasileira.

Veja anúncio da publicação de “A República 3000” no jornal “O Paiz”, 1930.

Leia reportagem com texto de Menotti Del Picchia sobre a criação do balneário paulista de Caraguatatuba, publicada na revista “Vamos Lêr!”, 1940.

Em 1942 Del Picchia foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, onde Cassiano Ricardo o recebeu com um discurso em que recordava seu papel no movimento modernista. Continuou a atuar na política e a escrever, mas publicou bem menos a partir da década de 1950. Em 1960 recebeu o Prêmio Jabuti na qualidade de Personalidade Literária do Ano; em 1969, o Prêmio Juca Pato; em 1982, foi o quarto e último escritor a ser proclamado “Príncipe dos Poetas Brasileiros”. Morreu aos 96 anos de idade. A maior parte de seu arquivo pessoal, quadros, livros e outros objetos está sob a guarda da Casa Menotti Del Picchia, em Itapira. Na mesma cidade localiza-se o Parque Juca Mulato, assim chamado em homenagem ao escritor.


Esta imagem integra um álbum com fotografias de artistas. O ano é 1913, antes que o movimento modernista pusesse em evidência o trabalho literário de Menotti Del Picchia; ele é mencionado como escultor (Divisão de Iconografia).