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Livros de Aventura | O Faroeste de Zane Grey

24 out 2022

Artigo arquivado em Livros de Aventura

Além de piratas e espadachins, os livros de aventura também nos levam ao Velho Oeste, onde caubóis, xerifes e pistoleiros lutam para conquistar e defender seu território.

Pearl Zane Grey (Ohio, EUA, 1872 – California, EUA, 1939), conhecido apenas como Zane Grey, foi um dos mais famosos e prolíficos escritores desse gênero. Entusiasta, desde cedo, de esportes e da vida ao ar livre, ele também se dedicou ao estudo da História, em especial o período da Revolução Norte-Americana, e foi um ávido leitor de livros de aventura, como “Robinson Crusoé” e “O Último dos Moicanos”. Escreveu e ilustrou suas primeiras histórias na adolescência, embora tivesse que enfrentar a oposição do pai, um dentista que fez do jovem Zane seu aprendiz. Mais tarde, ele estudou Odontologia na Universidade da Pensilvânia -- embora as práticas esportivas o interessassem mais – e clinicou durante algum tempo, continuando a escrever nos intervalos.

Em 1905, Zane Grey se casou com Lina Roth, conhecida pelo apelido “Dolly”, com quem viria a ter três filhos. O apoio de Dolly foi de extrema importância para sua carreira, pois ela não apenas administrava os contratos literários como editava e corrigia os manuscritos. Ele parou de clinicar e se dedicou à escrita, embora com pouco sucesso nos primeiros anos. Também fazia expedições de caça, pesca e caminhada.

Após vários romances juvenis e artigos para jornais e revistas, o primeiro livro de Grey a conquistar o público foi “A Herança do Deserto” (1910). Dois anos depois sairia sua obra mais conhecida, “Riders of the Purple Sage”. O livro, que viria a ser traduzido no Brasil com o título “O Forasteiro”, conta a história de uma jovem assediada por um líder mórmon e ajudada por amigos que conhece fora da comunidade, e traz no enredo vários elementos frequentes no gênero, como o roubo de gado e duelos com armas de fogo. Como de costume, o cinema ajudou a popularizar a obra, da qual se fizeram nada menos que cinco versões entre 1918 e 1996.

Encorajados pelo sucesso de Grey, outros autores começaram a escrever livros de faroeste. Alguns, como Max Brand e Ernest Haycox, também se tornaram famosos. Por sua vez, a editora Harper, que recusara vários originais de Zane Grey, passou a recebê-los com entusiasmo e a contratar artistas de renome para ilustrá-los. A popularidade dos livros era proporcional ao ataque por parte dos críticos, que consideravam a descrição do Oeste feita por Grey muito mais violenta do que na realidade. Já os personagens, na opinião dos mesmos críticos, seriam desprovidos dos valores e da ética que deveriam nortear suas ações. Um dos livros mais polêmicos foi “The Vanishing American” (1925), que retratava a luta do povo Navajo para manter sua cultura e mostrava os missionários sob um ponto de vista desfavorável; a obra atraiu a ira de grupos religiosos, e Grey teve de concordar com algumas alterações para publicá-los. Da mesma forma, as adaptações mais recentes de “Riders of the Purple Sage” para o cinema substituíram os antagonistas: em vez de mórmons, como no livro, os heróis passaram a enfrentar magistrados e agentes da lei corruptos.

“The Vanishing American” também foi levado às telas e chegou ao Brasil, onde recebeu o título de “Alma Cabocla”. Veja o anúncio no “Diário da Manhã” - PE, 1927

http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=093262_01&pesq=%22Zane%20Grey%22&pasta=ano%20192&hf=memoria.bn.br&pagfis=599

Na década de 1930, os livros de Zane Grey começaram a ser traduzidos e publicados no Brasil. Veja, na coluna à esquerda, o anúncio de “O Caçador de Búfalos” e “A Luta das Caravanas” que saiu na Coleção Universo da Editora Globo (“Diário Carioca”, 1936). Por essa época, a Globo também publicou, de Zane, “Almas de Bárbaros” e “A Herança do Deserto”.

http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=093092_02&pesq=%22O%20Ca%C3%A7ador%20de%20B%C3%BAfalos%22&pasta=ano%20193&hf=memoria.bn.br&pagfis=26437

Tais como os super-heróis e espadachins, os cowboys e pistoleiros apareceram bastante nos quadrinhos. No Brasil, a revista “Mirim” publicou histórias estrangeiras, traduzidas, baseadas na obra de Zane Grey. Veja uma página (1937):

http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=177636&pesq=%22Rafael%20Sabatini%22&pasta=ano%20193&hf=memoria.bn.br&pagfis=247

Além de seus muitos livros de faroeste, Zane Grey escreveu algumas obras para crianças e livros de não-ficção sobre caça, pesca e basquetebol. Alguns desses livros foram publicados postumamente, até 1963, uma vez que sua editora tinha ficado com vários originais inéditos. No Brasil, seu livro mais conhecido é possivelmente “Forlorn River” (1927), aqui publicado com o título “Os Caçadores de Cavalos”, que se popularizou ao ser incluído pela Abril na Coleção Clássicos da Literatura Juvenil, com tradução de Solange Escobar, no início dos anos 1970. Na mesma década, a Edibolso publicou “Ouro do Deserto”, uma das primeiras obras do autor, que saiu originalmente em 1913.

Veja uma breve apreciação da obra no “Jornal do Brasil” (1976), em que também se comenta um livro de Dee Brown, autor do célebre “Enterrem meu Coração na Curva do Rio”.

http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=030015_09&pesq=%22Zane%20Grey%22&pasta=ano%20197&hf=memoria.bn.br&pagfis=154410
Hoje relativamente esquecidos, os livros de Zane Grey, em especial “Riders of the Purple Sage”, estabeleceram os parâmetros dentro dos quais se desenvolveria o gênero faroeste, tanto na literatura quanto no cinema.