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Música | Aracy de Almeida: Um tributo à Dama do Encantado

21 jun 2021

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e marcado com as tags Aracy de Almeida, Dama da Central, Dama do Encantado, Samba em Pessoa, Secult

Nasci no Estácio
Eu fui educada na roda de bamba
E fui diplomada na escola de samba
Sou independente, conforme se vê
Nasci no Estácio
O samba é a corda, eu sou a caçamba
E não acredito que haja muamba
Que possa fazer eu gostar de você

Eu sou diretora da escola do Estácio de Sá
E felicidade maior neste mundo não há

Já fui convidada
Para ser estrela
Do nosso cinema
Ser estrela é bem fácil
Sair do Estácio é que é
O 'x' do problema

Você tem vontade
Que eu abandone o Largo do Estácio
Pra ser a rainha de um grande palácio
E dar um banquete uma vez por semana

Nasci no Estácio
Não posso mudar, minha massa de sangue
Você pode crer que palmeira do Mangue
Não vive na areia de Copacabana

Já fui convidada
Para ser estrela
Do nosso cinema
Ser estrela é bem fácil
Sair do Estácio é que é
O 'x' do problema


(O X do Problema. Autor: Noel Rosa. Intérprete: Aracy de Almeida)


Uma das vozes mais singulares do Brasil, suas primeiras gravações, no ano de 1934, a distinguiam, não só pelo estilo musical preferido - o samba - como também pela originalidade que interpretava as canções. Aracy Teles de Almeida(1914-1988), também conhecida pelos amigos como, “Araca”, “Araça”, “Dama do Encantado”, “Dama da Central” (A Cigarra), “Samba em Pessoa”, se notabilizou pela gravação das músicas de um dos maiores compositores brasileiros: Noel Rosa (Estado de Florianópolis). Levada para a rádio Educadora, através das mãos de Custódio de Mesquita, em uma ocasião encontrou Noel que, por sua vez, enxergou em Aracy uma chance de modernizar o samba e a própria música popular brasileira. Como resultado, Aracy de Almeida é considerada, ao lado de Carmen Miranda, uma das maiores intérpretes da década de 1930, e a primeira dedicada a cantar a dor feminina nas músicas brasileiras:

Junte tudo que é seu!
Seu amor, seus trapinhos…
Junte tudo que é seu
E saia do meu caminho!


(Saia do Meu Caminho. Autores: Custódio de Mesquita e Evaldo Ruy. Intérprete: Aracy de Almeida. A Scena Muda).

Na época, o cenário musical feminino era monopolizado pela imagem e atuação de Carmen Miranda, a quem Aracy chegou a tentar assimilar em suas performances e que, felizmente - segundo seus fãs -, acabou não surtindo o efeito desejado. Com o afastamento de Carmen do cenário musical nacional (A Cigarra), Aracy teria a chance para, com sua originalidade e perfil diferenciado, consagrar-se como uma das maiores sambistas brasileiras (Arlequim; A Noite).

Criada no bairro do Encantado, Zona Norte do Rio de Janeiro, e vinda de uma família de religião protestante, a amizade com o compositor de Vila Isabel levou aquela “escurinha”, nas palavras dela mesma, ao mundo da boemia (Jornal do Brasil). Consagrou, com sua interpretação única, sambas como: Com que Roupa, Fita Amarela, música que abre esse artigo, Seu riso de Criança e outras canções.

Mas nem só de Noel vivia Aracy de Almeida. Interpretou composições de Custódio de Mesquita, Júlio Cristóbal (A La Aracy), Haroldo Lobo (A Mulher do Leiteiro), Antônio Maria (Se eu morresse amanhã.), e tantos outros artistas das décadas de 1930 a 1950. Suas gravações ficaram no Top 10 das mais vendidas, em rankings como os dos anos 1948 (Scena Muda), 1949 (A Scena Muda), e 1953 (A Noite).

Tendo começado na rádio Educadora, passou ainda pelas Cruzeiro, Mairynk, Ipanema, Nacional e Tupi, entre outras (A Scena Muda). Recebia críticas à sonoridade de sua voz (A Scena Muda), e as respondia à altura: "Fale mal, mas fale de mim" (Vamos lêr!). Chegou a ameaçar não se apresentar mais nas rádios, mas lá permanecia (Vamos lêr!). Aliás, diga-se de passagem, as respostas contundentes sempre foram sua marca, pois não havia desaforo e provocação que ficasse sem resposta e, não raro, seus desafetos se davam em público, como a briga que teve com o comediante Pedro de Lara (Jornal do Commércio-AM) e com o artista Celso Teixeira de Castro (Diário da Tarde-PR).

Explorando outros meios artísticos, participou de alguns filmes nacionais, como: Segura essa Mulher, de 1946,(O Dia-PR), Esta é Fina, de 1948, (Estado de Florianópolis),
Carnaval em Lá Maior, de 1955, Perpétuo contra o Esquadrão da Morte, de 1967, e o curta Cordiais Saudações, de 1968.

Enfrentava as turnês (O Cruzeiro), e a ponte Rio-São Paulo - na época que trabalhou como jurada no programa Show de Calouros (SBT) -, sempre de trem. Tinha receio de viagens de avião e, por isso, seu transporte preferido era o trem de prata (Manchete).

Transferiu residência para São Paulo, em seus últimos anos de vida. Infelizmente, acometida por uma embolia pulmonar, entrou em coma por duas semanas. Nesse meio tempo, foi eleita melhor jurada do programa do SBT, pelo voto popular, e receberia o Troféu Imprensa. Entretanto, faleceu antes de ser agraciada, em 20 de junho de 1988, devido a um incontrolável aumento da pressão arterial (Jornal do Brasil). Seu cortejo se deu no Rio de Janeiro, passando pelos bairros que frequentou e morou, como Vila Isabel, Copacabana, Méier e seu querido Encantado.

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