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Música | Cartola, o poeta da Mangueira

12 out 2020

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“Divino Cartola” foi o epíteto criado por Lúcio Rangel, jornalista e crítico musical, para Agenor de Oliveira, brincando com a junção de seu nome com seu maior sucesso “Divina Dama”. O poeta-sambista, um dos fundadores da Estação Primeira de Mangueira, compôs o primeiro samba da escola, “Chega de Demanda”, criou o emblema e as cores da verde e rosa, inspirados nas cores de seu bloco de infância, o rancho “Arrepiados de Laranjeiras”.

Dono de um refinamento na letra e melodia, ele tinha uma interpretação singular, uma melancolia na voz que era a justa medida entre a beleza e a dor. Sua primeira gravação foi “Infeliz sorte”, samba interpretado por Francisco Alves, o “rei da voz”. A partir do final da década de 1940, Cartola ficou esquecido pelo público. Foi na década de 1960 que ressurgiu como compositor. Fez sambas antológicos como “As rosas não falam”, gravado por Beth Carvalho, uma de suas melhores intérpretes. Seus principais parceiros foram Carlos Cachaça, Hermínio Belo de Carvalho, com quem compôs “Alvorada no Morro”- a poesia com as cores da Mangueira - e Elton Medeiros, com quem fez “O sol nascerá”. Foi este samba, gravado por Nara Leão, que relançou Cartola no mercado musical.

Em 1963, Cartola e sua companheira D. Zica criaram o Zicartola, um espaço de boa comida e um lugar para ouvir sambistas que estavam esquecidos do público. Acabou virando um ponto de referência de artistas e jornalistas da época e se tornou um dos espaços culturais mais importantes da história do Rio de Janeiro. Era um espaço de criação e resistência cultural. De lá saíram o grupo A Voz do Morro, o primeiro conjunto formado por compositores de escolas de samba- Zé Keti, Paulinho da Viola, Nelson Sargento, Anescarzinho do Salgueiro, Jair do cavaquinho e Elton Medeiros -; o Rosa De Ouro, que lançou Clementina de Jesus; o Show Opinião, cuja estreia levou para o palco uma crítica da realidade social do Brasil sob a forma de musicais liderados por Zé Kéti, Nara Leão e João do Valle.


Jornal do Brasil 12/11/1970