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Música| Dona Zica: uma liderança feminina no samba carioca

22 jan 2021

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Euzébia Silva do Nascimento, mais conhecida como Dona Zica nasceu em 6 de fevereiro de 1913, como ela gostava de lembrar, num domingo de carnaval. A sambista nasceu no bairro de Piedade, na cidade do Rio de Janeiro, e aos 4 anos de idade mudou-se para a Mangueira, onde viveu até o fim de sua vida.

Foi uma das primeiras integrantes da Estação Primeira de Mangueira, sua escola do coração, participando do primeiro desfile em 1928 quando tinha 15 anos. Aos 19 anos se casou com o jogador de futebol Carlos Dias do Nascimento, com quem teve 6 filhos, sendo um adotivo. Durante o casamento, Dona Zica trabalhava como tecelã em uma fábrica de tecidos na Mangueira, mas sem nunca abandonar o carnaval e a Mangueira. Com 20 anos de casada se tornou viúva e passou a trabalhar com cozinha passando por algumas experiências até se tornar cozinheira do Clube Bola Preta. Depois da morte do marido decidiu morar mais perto da irmã que também residia na Mangueira e era casada como compositor Carlos Cachaça (1902-1999).

Foi na Mangueira que Dona Zica conheceu Angenor de Oliveira, o Cartola (1908-1980). Embora tenham se conhecido ainda jovens, só tiveram um relacionamento muitos anos depois, quando ambos eram viúvos. Cartola tinha parceria com Carlos Cachaça e numa das visitas de Cartola a Carlos Dona Zica chamou sua atenção. Ela conta que Cartola a observou enquanto ela lavava roupas. Antes de ir embora ele se declarou a ela. Segundo o próprio Cartola,Dona Zica não se deixou conquistar facilmente, foram várias serenatas até ganhar o coração de Dona Zica (http://memoria.bn.br/DocReader/003581/198547). O casamento ocorreu no ano de 1964 e durou até o fim da vida de Cartola (http://memoria.bn.br/docreader/004120/172712). O compositor, que então vivia problemas com álcool, encontrou em Dona Zica a força que precisava para dar a volta por cima.

Em 1963 Dona Zica e Cartola comandaram o Zicartola (http://memoria.bn.br/DocReader/092669/13408), um restaurante na Rua da carioca cuja cozinha era comandada por Dona Zica e a música por Cartola. Ponto de encontro de sambistas, o estabelecimento foi um marco na história do samba e dos bares cariocas. Reunia sambistas do morro com compositores e músicos de classe média que faziam samba enquanto se deliciavam com a comida de Dona Zica, garantindo entretenimento da melhor qualidade e casa sempre cheia. Mesmo com boa comida e boa música o Zicartola fechou as portas em 1965, pois seus proprietários, apesar do trabalho exímio na execução dos serviços, não tinham conhecimento para administrar o negócio.

Dona Zica trabalhou ao lado de dona Neuma(1922-2000) na confecção de fantasias para a Mangueira durante muitos anos. Juntas compunham a velha guarda do samba carioca e foram primeiras-damas da escola de samba. (http://memoria.bn.br/docreader/004120/292618)
Em 22 de janeiro de 2003 Dona Zica foi vítima de uma parada cardiorrespiratória e faleceu.