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O Semanário – Um jornal que vale por um livro

18 ago 2015

Artigo arquivado em Hemeroteca
e marcado com as tags Barbosa Lima Sobrinho, Crítica política, Ditadura civil-militar brasileira, Economia, Frente Parlamentar Nacionalista, Henrique Teixeira Lott, Imprensa marxista, João Goulart, Nacionalismo, Nelson Werneck Sodré, Rio de Janeiro

Lançado por Oswaldo Costa no Rio de Janeiro (RJ) em 5 de abril de 1956, O Semanário foi um periódico de formato standard caracterizado pela publicação de artigos opinativos e reportagens amplas nas áreas política, social e econômica, principalmente. Mesmo sem ter firmado explicitamente suas convicções políticas, logo em 1956 a folha passou a definir sua linha editorial a favor da então chamada Frente Parlamentar Nacionalista, movimento que aglutinava agentes de forças legislativas federais, estaduais e municipais numa corrente nacionalista de esquerda, efetivamente organizado em 1957. Voltada, portanto, à denúncia de elementos e manobras considerados prejudiciais aos interesses brasileiros, a publicação foi particularmente avessa à exploração estrangeira por parte de grandes trustes internacionais. Tendo Joel Silveira como diretor substituto e contando com nomes de destaque em sua redação, como Nelson Werneck Sodré, Barbosa Lima Sobrinho, Edmar Morel, Osni Duarte Pereira, Gondim da Fonseca, Luciano Martins, Anderson Mascarenhas, Josué de Castro, Sérgio Magalhães, Francisco Julião, Plínio de Abreu Ramos, entre outros, O Semanário acabou sendo fechado em abril de 1964, com o golpe civil-militar; sua última edição, de nº 376, correspondente ao período entre 19 de março e 1º de abril, noticiava logo abaixo do cabeçalho: “‘Gorilas’, em pânico, querem depor o presidente”.

Logo após a criação da Frente Parlamentar Nacionalista, O Semanário se manteve próximo a certos deputados da corrente. Entre 1957 e 1958 o periódico se disponibilizava à colheita de denúncias variadas junto à opinião pública para, depois, remetê-las aos políticos, que em seguida abriam comissões de inquérito na Câmara para a apuração das irregularidades. Nesse sentido, segundo Marieta de Morais Ferreira, em verbete sobre o jornal no “Dicionário Histórico e Biográfico Brasileiro pós-1930”, O Semanário apresentou denúncias quanto “à interferência da Shell e da Esso na imprensa brasileira; às concessões prejudiciais à Companhia Vale do Rio Doce feitas à Hanna Corporation para a exploração de minérios, e às irregularidades cometidas pela rede Ferroviária Federal na compra de material estrangeiro para o reequipamento das estradas de ferro, preterindo os similares nacionais” (p. 5.345). No entanto, a proximidade entre o jornal e a frente parlamentar não se sustentava apenas no ataque ao capital estrangeiro: suas opiniões também convergiam em questões da política interna. Marieta de Morais também relata que, além de ter se empenhado na defesa da fundação da Eletrobrás, em seus primeiros momentos O Semanário também se destacou por “lutar contra as tentativas de alteração do estatuto da Petrobras, desmoralizando os opositores da tese do monopólio estatal” (p. 5.345). Ademais, a folha repudiava as pressões do Fundo Monetário Internacional (FMI) no Brasil, sustentando que o país deveria se empenhar em políticas de saneamento e de contenção da inflação.

As ligações entre O Semanário e a Frente Parlamentar Nacionalista se mostraram mais explícitas em 1959, quando um boletim informativo do grupo passou a ser publicado no jornal. Essa conexão atingiu níveis mais íntimos, com o periódico estreitando relações mesmo com militares da frente. Oswaldo Costa chegou a voltar a folha à cobertura de acontecimentos relativos ao Clube Militar, vindo a apoiar a candidatura do general Justino Alves Bastos à presidência do clube duas vezes: em 1958, contra o general Humberto Castelo Branco, da Cruzada Democrática, e em 1960, contra o general Peri Bevilacqua.

Nesse ano de 1960 O Semanário teve que se posicionar em uma questão que dividiu a frente parlamentar. Com a proximidade das eleições presidenciais, os membros da corrente que eram ligados à União Democrática Nacional (UDN) entraram em campanha pela candidatura de Jânio Quadros, ao passo em que políticos do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e do Partido Social Democrata (PSD) optaram pelo general Henrique Teixeira Lott – o candidato que recebeu apoio total d’O Semanário.

A vitória de Jânio Quadros nas urnas obrigou a Frente Parlamentar Nacionalista a se reorganizar. O jornal que a representava se voltou à crítica aos opositores da implementação de uma política externa independente, onde o Brasil reatava relações diplomáticas com países comunistas, e à rejeição à Instrução nº 204, proposta por Jânio para tentar eliminar subsídios do governo à importação de produtos de primeira necessidade. O posicionamento contrário ao capital estrangeiro, então, já não era uma das principais pautas do grupo político e d’O Semanário. Quando da renúncia do presidente e da posse de João Goulart, ambos passaram a adotar uma linha de defesa do governo e da legalidade, combatendo os insatisfeitos com a nova situação e, principalmente, o movimento que articulava o golpe para destituir Jango. No plano internacional, paralelamente, o jornal comemorava os avanços da Revolução Cubana.

O Semanário esteve mais restrito à denúncia da ação golpista e ao respeito à Constituição a partir de 1962, quando Leonel Brizola se estabeleceu como liderança na Frente Parlamentar. Como Brizola defendia teses consideradas radicais, deputados moderados acabaram se desligando do movimento, assim como o próprio jornal, que acabou se afastando devido a discordâncias. Mesmo assim, O Semanário mantinha-se afinado com o governo Jango, optando por não fomentar a desarticulação de sua base de apoio. Nesse período, pouco tempo antes de ser extinto com o golpe de 1964, o jornal ainda retomou sua linha aguerrida contra o capital estrangeiro: mais especificamente a partir do momento em que se posicionou a favor da promulgação da Lei de Remessa de Lucros, que procurava frear a remessa de capital para o exterior, por parte de empresas internacionais.

Ao longo de sua existência, O Semanário desenvolveu grande linha crítica à imprensa brasileira – sobretudo aos órgãos de comunicação financiados por grupos estrangeiros, a dita “imprensa sadia”, em seus próprios termos. Algumas de suas reportagens a respeito fundamentaram o capítulo “A crise da imprensa”, na “História da imprensa no Brasil”, de Nelson Werneck Sodré.

Fontes:

- Acervo: edições do nº 1, ano 1, de 5 a 12 de abril de 1956, ao nº 376, ano 8, de 19 de março a 1º de abril de 1964.

- FERREIRA, Marieta de Morais. O Semanário. In: ABREU, Alzira Alves et al. (Coord.) Dicionário histórico-biográfico brasileiro pós-1930. Rio de Janeiro: Editora FGV; CPDOC, 2001. Vol. V.

- SODRÉ, Nelson Werneck. História da imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966.

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