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Ao Encontro da Cor

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As técnicas de impressão da Biblioteca para a Juventude

Antes de eleger os livros da Laemmert para esta análise, foram pesquisados outros livros pioneiros da literatura infantil no Brasil, porém, em relação às técnicas de impressão de imagens, essas publicações mostraram-se de menor complexidade do que as oferecidas por aquela editora. As variações de técnicas em suas cromos definiram a escolha daquelas para análise. O termo “cromo” é uma abreviação de cromolitografia, técnica inventada em 1837, pelo francês Godefroy Engelmann, que designa uma estampa litográfica impressa em múltiplas cores, superpostas e em registro, a fim de constituir uma única imagem colorida. Tais edições apresentavam entre quatro e sete cromos no miolo, em folhas avulsas, sem paginação, com o verso em branco e encartadas na publicação após a impressão do texto.

Enquanto o texto era impresso em tipos de metal, processo em relevo, a litografia é um processo plano, inventado por Alois Senefelder no fim do século XVIII, em 1796. A técnica baseia-se na repulsão entre água e óleo, tendo como matriz blocos de pedra calcária, gravados diretamente por instrumentos de desenho como crayon, bico de pena e pincel. Depois de tratado quimicamente, o desenho feito em base gordurosa atrai a tinta, também gordurosa, sendo contido nas áreas gravadas pela ação da água, já que a pedra é constantemente umedecida durante a impressão.

A cromolitografia consiste em uma impressão litográfica colorida na qual a imagem se compõe por pelo menos três cores. Cada uma delas é aplicada no impresso por uma pedra diferente. Ao contrário da litografia entintada, em que a segunda e a terceira cores distribuem matizes sobre a primeira impressão, as de uma cromo constituem a figura em si. A cromolitografia é, portanto, uma técnica muito complexa que requer um registro perfeito e um sofisticado entendimento da cor (MARZIO, 1979, p. 9).

Os estilos de desenho e as técnicas de gravação presentes na Biblioteca Juvenil representam uma variada amostragem de recursos cromolitográficos, com expressivo uso das cores. Vale dizer que os livros não são diretamente ilustrados pelas aquarelas originais. Isso porque, nessa época, antes da reprodução de imagens fotográficas coloridas ser tecnicamente viável, para se reproduzir um desenho original, eram necessárias a interpretação e a replicação manual do desenho nas matrizes compatíveis com a técnica de impressão seriada. Nesse caso, em função da reprodução das cores, era adotada a técnica cromolitográfica. Assim, torna-se necessária uma complexa decomposição da imagem, distribuída em camadas de cores de impressão, trabalho planejado e executado por profissionais específicos: os cromistas.

Quanto à seleção e ao número de cores utilizadas nas tintas de impressão, cada edição apresenta um elenco diferente, designado pelo cromista, de maneira a dar conta do conjunto de ilustrações e de seu espectro cromático específico. A partir da observação microscópica, foram identificadas as tintas operantes em cada edição, isto é, as tintas impressas em cores que operam isoladamente e em sobreposições, de forma a produzir os resultados coloridos.

De modo geral, o padrão que se pode observar nesses projetos editoriais é o uso de uma mesma paleta de cores para a execução de todas as ilustrações de cada edição. A escolha da paleta de cor torna-se, assim, um parâmetro que caracteriza e favorece o conjunto como integrante de uma mesma unidade gráfica, sem, no entanto, prejudicar a obtenção dos resultados individuais de cada reprodução. Por exemplo, destacamos as seis ilustrações presentes em Contos seletos das mil e uma noites (1882 e 1908), que são executadas com a mesma paleta de sete cores, como se vê na Figura 1. A visibilidade do conjunto de imagens, associada à paleta de tintas operantes utilizada, evidencia o método empreendido pelo cromista.


Fig. 1 - As seis cromos de Contos Seletos das Mil e Uma Noites (Laemmert, 1882, BN e 1908, BBM e CRB) e sua paleta de 7 cores de impressão composta por Rosa amarelado vívido, Laranja avermelhado vívido, Amarelo alaranjado pálido, Amarelo claro, Branco esverdeado, Verde azulado claro e Preto.

Pode-se observar um elenco de cores suave e luminoso, em tonalidades pastel, à exceção do laranja avermelhado vívido. As tonalidades esverdeadas são adquiridas a partir da sobreposição das duas tonalidades azul-esverdeadas em sobreposição ao amarelo claro. Assim, cada paleta de cor em uso na impressão é capaz de produzir novas cores diferentes a partir de suas misturas e sobreposições, sendo chamadas então de tintas operantes. O conjunto de imagens dos contos orientais é leve e alegre.

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