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Guerra do Paraguai

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A Coleção Uniformes Militares

Rosangela de Almeida Costa Bandeira
Responsável pelo Arquivo Histórico do Museu Histórico Nacional


Lennon Barcellos
Estudante de História e estagiário do Arquivo Histórico do MHN

Imagens do Acervo: Coleção de Uniformes Militares

A indumentária militar em si, tem por finalidade reger de maneira simbólica toda representatividade social das forças armadas em favor de uma nação, logo, o que permite o seu esplendor e toda sua importância histórica é a bravura e a coragem que tiveram os homens que os envergaram, representando, acima de tudo, todo potencial patriótico de uma nação quanto a evocação de sua soberania, intensamente aclamada em memoráveis combates.

Todavia, a constituição de forças – até então denominadas sob o termo de Exército - apresenta-se estritamente correlacionada à estruturação de uma nação, permitindo a salvaguarda de seu povo em detrimento de todas as vicissitudes externas e internas que possam vir a corromper essa coletividade de todos os seus ideais, sustentados pela sua identificação nacional, tendo a pátria como sua progenitora.

Até a sua Independência o Brasil havia adotado uniformes militares portugueses de forma exclusiva, logo, a partir do momento que, sob determinação de D. Pedro I, se deu a criação de novos uniformes e distintivos caracteristicamente “brasileiros”, diferentes dos de Portugal, estavam lançadas as bases quanto ao prenúncio de emancipação das Forças Armadas nacionais, amalgamadas simbolicamente acerca de todo um imaginário que veio atribuir exímio prestígio à soberania, em grande parte, conquistada pelo seu Exército.

Entretanto, um dos principais símbolos referentes à importância que retratou o Exército para nação e para sua história, aparece representado por sua indumentária. Partindo desse pressuposto, toda significação histórica atribuída aos uniformes militares, encontra no Brasil considerável respaldo, sobretudo, em virtude de sua brilhante história militar refletida em singulares episódios, dentre os quais, a Guerra do Paraguai mostrou o principal marco quanto a organização disciplinada e consciente de um poderio nacional digno de ser denominado pelo Exército Brasileiro. Para tanto, em nível histórico-documental, todo material relacionado à indumentária usada na guerra, longe de ser analisado isoladamente, complementa consideravelmente todo acervo constitutivo da História Militar Brasileira.

O acervo do Arquivo Histórico do Museu Histórico Nacional referente a Coleção Iconográfica Uniformes Militares o destaque fica, sem dúvida, para as aquarelas de José Wasth Rodrigues. Como resultado da bem sucedida parceria com Gustavo Barroso, o projeto acerca dos uniformes militares resultou numa magnífica obra intitulada por Uniformes do Exército Brasileiro, 1730-1922, composta por 228 (duzentas e vinte e oito) aquarelas de José Wasth Rodrigues e texto de Gustavo Barroso, sendo em 1922, publicada em Paris e em edição especial para o Ministério da Guerra como obra comemorativa do centenário da Independência do Brasil. Todavia, esta fora uma ocasião mui especial para ambos, logo, nutriam um extraordinário zelo em favor de todo o brilhantismo resultante do empenho e da virtuosidade das forças armadas, considerados elementos propulsores de todo o processo constitutivo da nação brasileira, sobretudo no período pós-Independência.

Como prova da enorme repercussão que teve essa primorosa obra histórico - iconográfica, no início da década de 30 o Coronel José Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, idealizador da AMAM (Academia Militar das Agulhas Negras) e à época comandante da Escola Militar do Realengo, inspirou-se profundamente pela tenaz tentativa por parte de José Wasth Rodrigues e Gustavo Barroso em levar à luz da época, através da história da indumentária militar brasileira, um estudo laborioso e ao mesmo tempo indispensável acerca de todo esplendor patriótico de nossa nação refletida em sua história militar, o que levou os novos uniformes dedicados aos alunos da mencionada escola, a serem desenhados por José Wasth Rodrigues, que por sua vez, foram e continuaram sendo até a atualidade idênticos aos dos batalhões de 1851/52, período da memorável campanha militar brasileira no Uruguai e na Argentina, quase um decênio antes de estourar a Guerra do Paraguai.

Além de grande patrimônio cultural e artístico, as aquarelas de José Wasth Rodrigues imortalizaram um dos maiores expoentes de nossa arte, sobretudo, em nível de notabilidade quanto as mais profícuas manifestações de um raro patriotismo acerca do belo e do mais significativo à história militar brasileira e as suas tradições.

Nascido em São Paulo em 19 de março de 1891, não obstante, trouxera em germe toda sua virtude patriótica, uma vez que, desde cedo se dedicou à produção artística dos principais símbolos sustentáculos da nação brasileira em torno de suas tradições e de sua história militar, dentre eles a heráldica, a medalhística e por fim, considerando o trabalho mais notável, os uniformes militares.

Além de Uniformes do Exército Brasileiro, José Wasth Rodrigues foi autor de mais duas importantíssimas obras-primas, são elas: Uniformes e Armas e Dicionário Histórico-Militar, ambos resultado de um exaustivo e valoroso trabalho, estando tais obras dispostas respectivamente em 90 (noventa) e 26 (vinte e seis) volumes, sendo consagradas como os maiores clássicos relacionados ao tema. A primeira, é composta de 500 (quinhentas) aquarelas, desenhadas e pintadas à mão, com a ajuda de sua filha Raquel, a segunda tem por finalidade lançar todas as bases epistemológicas de inúmeros termos militares, utilizados pelas Forças Armadas desde os tempos imediatos à sua puerícia.

Na virada para o presente século, em homenagem ao V (quinto) Centenário da Independência do Brasil, a obra Dicionário Histórico-Militar foi escolhida pelo Exército para uma publicação ampliada e atualizada, tamanha a sua indispensabilidade até nos dias de hoje.

A “em>Coleção Iconográfica Uniformes Militares do Arquivo Histórico do Museu Histórico Nacional conta, na atualidade, com 836 (oitocentos e trinta e seis) itens iconográficos divididos em três séries:

A primeira – Série I- está composta por 228 (duzentas e vinte oito) aquarelas de José Wasth Rodrigues, dentre elas 62 (sessenta e duas) estampas reproduzidas através de um sistema empregado em tipografia, onde apresenta-se por base, o preto, meio tom sobre papel branco, retoque colorido com aquarela, aplicação de guache branco chapado, reforço de preto com a própria tinta aquarelada ou em nanquim diluído.

A segunda – Série II - está disposta em 202 (duzentas e duas) aquarelas avulsas, datadas de 1773 a 1807 ordenadas pelos Estados do Brasil que foram copiadas do Arquivo Colonial de Lisboa a mando do Ministro Plenipotenciário do Brasil, Sr. Jeronymo de A . Figueira de Mello, e que fez a conferência entre as aquarelas originais, em 1934, além de 239 (duzentas e trinta e nove) encadernadas em álbum do século XVIII.

A terceira – Série III – está composta de 105 (cento e cinco) estampas, das quais 32 (trinta e duas) são avulsas, 42 (quarenta e duas) pertencentes a um álbum intitulado por Uniformes do Exército da Armada de Portugal e os 31 (trinta e um) restantes são duplicatas destas.

Os originais das aquarelas que foram reproduzidas e publicadas em Uniformes do Exército Brasileiro - com exceção de 4 (quatro) - encontram-se no acervo do Arquivo Histórico do Museu Histórico Nacional, por doação de Dr. Pandiá Calógeras – Ministro do Exército, 1937 e do próprio José Wasth Rodrigues. Dentre as aquarelas existentes no acervo, as que abordam o contexto sócio-cronológico da Guerra do Paraguai quanto os uniformes adotados pelo Exército brasileiro, encontram-se abrigadas pela sigla UM do número 108 (UM 108; UM 109...) ao 120, estando todas em bom estado de conservação e propícias para pesquisa.

Esta Coleção é composta por doações, transferências e compra, em 1926, 1936, 1937 e 1947. Dentre os doadores podemos citar: Dr. Pandiá Calógeras, Ministro do Exército; Sr. José Wasth Rodrigues; Manoela Osório Mascarenhas; Ministro Jerônimo de Avelar Figueira de Melo; Brigadeiro Rui da Cunha Meneses; transferências do Arquivo Público do Império; Arquivo Nacional; e compra de um álbum do século XVIII, em agosto de 1933.

Não deixa de ser notável e substancial todo o trabalho desenvolvido por José Wasth Rodrigues, levando à memória da nação brasileira, através de sua erudição histórico-literária e artística, toda a peculiaridade quanto a caracterização simbólica de suas Forças Armadas, refletida em seus uniformes e distintivos, todavia, imersos num oceano de tradição e glória.

Fonte: Arquivo Histórico do Museu Histórico Nacional

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