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O Brasil Encontra o Extremo Oriente: a Missão Chinesa (1880)

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A questão sinológica – a herança da visão modelar

O trabalho de Henrique Lisboa foi basilar no desenvolvimento de uma visão cultural sobre a China no Brasil. Apesar da Sinologia não se tornar um campo de estudos acadêmicos contínuo no país, a abordagem de Lisboa ensejou a criação de uma visão modelar, que colocava a China como uma espécie de campo de experiências a ser analisado (e no futuro, comparado) pelos brasileiros. Desde Lisboa, uma série de diplomatas, viajantes e intelectuais visitou a China, avaliando seus exemplos e propondo que algumas das práticas dessa civilização poderiam ser empregadas na solução dos problemas brasileiros. Um curioso livro, Cartas de um chinez do Brasil para a China (Mantua, 1923), aproveitava para criticar a realidade brasileira a partir de uma suposta visão chinesa – hoje sabemos que se trata de uma construção fantasiosa de um autor brasileiro, mas a sátira incorporava a ideia da China como um reflexo crítico a nossa sociedade. Do mesmo modo, personagens centrais da história chinesa, como Confúcio, entraram no imaginário brasileiro, cumprindo funções diversas no campo religioso e filosófico (Bueno, 2018b).

Figura 48 - Folha de rosto do livro Cartas de um chinez para a China, parodiando a situação política no Brasil.
Fonte: Acervo da Fundação Biblioteca Nacional.
Henrique Lisboa conseguiu, por fim, qualificar-se tal como um sinólogo, e seu livro expressa na arguta observação antropológica e no domínio de conteúdos culturais acerca dessa civilização. Embora o projeto de estudar a China de forma institucional tenha se desarticulado com o fim da viagem – e do império –, a civilização chinesa continuaria a ser um objeto intrigante de estudos, e diversos pesquisadores brasileiros se debruçariam sobre ela no futuro.

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