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O Brasil Encontra o Extremo Oriente: a Missão Chinesa (1880)

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Nosso primeiro trabalho sinológico: A China e os chins

Enquanto Callado e Mota tentavam driblar os problemas próprios dos tratados internacionais, outro diplomata, Henrique Carlos de Ribeiro Lisboa (1849-1920), mergulhava no mundo chinês, buscando conhecer mais profundamente essa cultura. Henrique era filho de Miguel Maria Lisboa (1809-1881), barão de Japurá, eminente diplomata do império brasileiro, ou seja, pertencia a uma família que já tinha certa tradição em diálogos interculturais. Ele teve uma educação erudita, e iniciou a carreira diplomática cedo. Estava servindo na Espanha, quando foi convocado a participar da missão chinesa como primeiro secretário geral, indo ao encontro da comitiva quando esta passou pela França. Ajudou a conseguir um intérprete francês, Antoine Vissiére (1858-1930), um dos maiores sinólogos da época, e de quem se tornou discípulo nos estudos da língua chinesa.

Fig. 27 - Henrique Carlos Ribeiro Lisboa. Imagem capturada em Flickr.
Fonte: Acervo fotográfico do Arquivo Histórico do Itamaraty


Fig. 28 - Folha de Rosto da 1a edição do Livro A China e os chins, 1888. Imagem capturada na Biblioteca Nacional de Portugal.
Fonte: Acervo da Fundação Biblioteca Nacional.

Henrique foi entusiasmado para a China, encantado com a ideia de ser um dos primeiros brasileiros a visitar oficialmente o país. Seu relato e reflexões sobre a missão estão em A China e os chins (1888), o primeiro livro a tratar diretamente sobre a China na literatura brasileira, constituindo verdadeira análise sobre essa civilização. Esse é o primeiro trabalho sinológico conhecido no país, e constitui uma rica e importante fonte de informações culturais e históricas. Callado e Mota adquiriram um conhecimento básico da realidade chinesa, mas foi Henrique Lisboa que a soube captar com maior profundidade. Sua imersão na vida cotidiana chinesa o levou a observar práticas, costumes e hábitos que o permitiriam construir uma imagem mais consciente e realista dos chineses para o público brasileiro.

A China e os chins é um livro misto, típico do século 19, que conjuga relatos de viagem com reflexões antropológicas. O notável nessa obra é como Lisboa conseguiu superar o orientalismo brasileiro, desfazendo preconceitos e estereótipos, alcançando enfim uma visão positiva sobre os chineses. Isento do fascínio ingênuo ou da aversão recalcitrante, Henrique Lisboa conseguiu produzir uma obra crucial para entender a China dessa época, e que veremos a seguir.

 

»Veja mais sobre Henrique Lisboa no Diccionario bibliographico brasileiro, v. 3, p. 217 e no Diccionario Bio-bibliographico brasileiro de diplomacia, politica externa e direito internacional, p. 265.


 

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