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O Cabrião: periodico quinzenal

por Maria Ione Caser da Costa
O Cabrião: periodico quinzenal foi publicado em São Paulo no dia 15 de setembro de 1897 e impresso pela Typographia J. B. Endrizzi & Comp., que estava localizada na rua Boa Vista, 74.

Antonio Salles Junior foi o redator-chefe e, na função de redator-secretário estava Lino Moreira, pessoa também responsável por receber as correspondências, que deveriam ser encaminhadas para a rua Dr. Braulio Gomes, n. 38.

A assinatura mensal de O Cabrião valia 1$000, e a trimestral, 3$000.  Uma nota no expediente informava que “todas as pessoas que receberem o presente numero, e não o devolverem no praso de oito dias, serão considerados como assignantes”.

Como era costume, os editores dos periódicos editados nos oitocentos, utilizavam o primeiro editorial para partilhar com os leitores, as dificuldade encontradas na produção do periódico, bem como suas aspirações com o mesmo. Em O Cabrião não foi diferente. Vejamos:

 
Espinhosa, talvez, é a missão da imprensa, mas daquella que advoga os interesses da sociedade, dessa “sociedade que exige tudo e nada dá,” para aproveitarmos a phrase de Laurindo Rabello; porém a nós, que temos por escopo a cultura das lettras, a tarefa não deixa de ser agridoce e de trabalho suave, embora deponha contra nós a própria penna, que escorrega mui vagarosamente sobre o papel, e que não tem esse savoir-faire que tanto caracterisa os periódicos litterários de S. Paulo, cujo estylo fulgurante muito acatamos e respeitamos. Ora, eis ahi uma das razões, além da obrigação, que nos forçou (um modo de dizer) a solicitar a collaboração dos nossos amigos, que com os seus trabalhos, fructos de longa e assás desenvolvida cultura intellectual, abrilhantarão as nossas columnas, dando ao nosso periodico certo chiste e verve que farão a sua leitura agradavel. E o nosso intento não é outro, não será outro, e agasalharemos á todos que nos honrarem com os seus artigos, por isso que queremos angariar a sympathia dos leitores, que não desgostarão decerto uma bóa e variada leitura.[...]

Comprova a rapida marcha do nosso progresso intellectual, a recente creação da Academia de Lettras, cujo presidente, o sr. Machado de Assis, é considerado hoje como mestre emerito da litteratura nacional, e tantas outras sociedades litterarias, que avultam por toda a parte, como o Instituto Historico Brasileiro, cuja fundação deve-se aos esforços de Fernandes Pinheiro, Cunha Barbosa e Cunha Mattos.

Com este exordio cumprimos uma obrigação. Si disserem que nós somos ambiciosos, não errarão, estamos certos.

Isto é natural, desde que este periodico nasce com a alma moça; e, portanto, não é extraordinário desejar um futuro risonho.

Resta-nos agora pedir indulgencia aos nossos leitores.

Um periódico voltado para a literatura, como tantos outros que iam surgindo nas capitais, e também nas cidades do interior. Homens letrados que se preocupavam com os brasileiros que não tinham contato com a literatura. Observa-se que para eles, apresentar literatura aos assinantes, significava incentivar a leitura e assim, dignificar a nação brasileira, tão carente, em qualquer época, de boa leitura e bons livros. Assim foi com O Cabrião.

Entretanto, ao que parece, seus editores não conseguiram avançar na missão, pois no acervo da Biblioteca Nacional só existe um fascículo desse título, o descrito acima. E também não foram encontrados outros em nossas pesquisas. São encontrados apenas títulos homônimos lançados em diferentes épocas.

O Cabrião teve quatro páginas que foram diagramadas em três colunas, separadas por um fio ondulado simples. Não apresentou ilustração.

Colaboraram em O Cabrião Arthur Goulart (1872-1910), A. Machado, Jucelenio Coroado, Lino Moreira e Antonio Martins d’Araujo, que como informado na seção “Variedades”, foi um poeta paranaense “há pouco fallecido” que publicou nas páginas do periódico poemas inéditos. Dele transcrevemos o poema a seguir.

 

A’...

Foi pincel mui delicado

Que traçou teu rosto bello,

Adornando os róseos labios

Dum sorrir meigo e singelo.

 

Desde que esse olhar celeste

Meu olhar triste encontrou,

Penetrou, qual uma setta

No meu peito e o captivou.

 

Encantou-me tua imagem,

Fascinou-me teu sorriso,

Que julguei gosar, celeste,

Cá na terra, um paraiso.

 

Estavas linda no baile,

Qual aurora matutina:

Nas niveas faces brincava

Côr de rosa purpurina.

 

Desses olhos desprendeste

Um lampejo encantador.

Qu’expelliu a negra nuvem

D’um porvir cheio de amor.

 

Desde então, arde meu peito,

Qual do vulcão a cratéra.

Porque te ama, te idolatra,

Linda flor da primavéra.

 

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