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O Papagaio: periodico critico e joco-serio

por Maria Ione Caser da Costa
O Papagaio: periodico critico e joco-serio foi publicado em Maceió, capital alagoana. Seu lançamento deve ter sido em 1875, pois o primeiro exemplar encontrado no acervo da Biblioteca Nacional é o número 32, de 28 de julho de 1876, que corresponde ao segundo ano da publicação.

Para consultar este título na Hemeroteca Digital da BN, o pesquisador deverá observar que a publicação aparece em dois blocos, ambos tendo como referência a sigla do estado de Alagoas (AL).

Aparentemente são dois títulos diferentes, mas um olhar atento indica fazerem parte da mesma coleção. Em um bloco estão arrolados 13 exemplares publicados entre os anos de 1876 e 1887. No outro bloco aparecem dois exemplares, um do ano de 1882 e outro de 1884.

Existe um fascículo na coleção que ainda não foi digitalizado, é o publicado no dia 23 de janeiro de 1880, e corresponde ao ano 6, número 3. Para consulta-lo, o pesquisador precisa se dirigir à Coordenadoria de Publicações Seriadas da BN.

As falhas existentes na coleção não permitem indicar com precisão as datas exatas das mudanças ocorridas na publicação, mas, a partir de 12 de julho de 1877, o subtítulo passa a ser periódico chistoso, critico e noticioso.

Através dos subtítulos escolhidos pelos responsáveis da publicação, pode-se afirmar que esse é mais um periódico que se propunha a enveredar pelos caminhos do chiste e da pilhéria. Foi publicado na Província de Maceió e não teve vida efêmera, como acontecia com a maioria dos títulos publicados à época, que não se mantinham por mais de um ano. O Papagaio conseguiu se manter, mesmo com algumas interrupções, por mais de dez anos.

A publicação teve como editor e proprietário Guilherme P. de Amorim (Guilherme Pinto de Amorim) e Luiz Brasileiro, e como redator Dr. Catana.  Os primeiros fascículos foram impressos pela Typographia do Partido Liberal, que estava situada no número 1, da rua 1º de Março.  A partir de 1877 passa a ser impresso pela Typographia Popular do Papagaio, localizada na rua do Commercio, n. 131, local que aceitava “noticias de interesse publico”. O editor da publicação era também proprietário da tipografia.

A “folha avulsa” foi vendida pelo valor de 200 réis, enquanto que a assinatura mensal na capital valia 1$000 réis. Fora da capital, somente assinatura semestral, e para isso, o interessado deveria fazer o pagamento adiantado de 6$500 réis.

No texto inicial do primeiro exemplar existente na Biblioteca Nacional, está um programa cuja proposta é manter a retidão moral e ética dos artigos a serem publicados. Nos fascículos subsequentes este programa também aparece grafado logo abaixo do título, na coluna da esquerda.

 
Programma

Este periódico destina-se aos seguintes fins:

1º Auxiliar as autoridades superiores e inferiores no bom desempenho da justiça.

2º Defender o fraco e o innocente contra o forte e o criminoso.

3º Denunciar os vícios e os abusos combatendo-os sem tréguas.

Além das notícias informadas de maneira espirituosa, podem ser encontrados também nas páginas de O Papagaio, poemas, prestação de serviços à população, propagandas e folhetins.

O corpo do texto foi diagramado em quatro colunas e os assuntos foram separados por traços verticais e vinhetas.

Vários foram os colaboradores, a maioria assinando com pseudônimo, dentre eles citamos Casca-Grossa, Cunha Werres, Dr. Catana, Extr., G. de S., Ferreira Lima, Ignacio de Barros, Lidio e Viriato Guimarães. Para ilustrar, um poema com o título “A Música” que foi publicado na página 4 do número 21, de uma pessoa que assinou G. de S.

 

A muzica

É a muzica o incenso mais puro

Que se queima nas aras de Deus;

É a prece mais santa e piedosa

Que da terra remonta-se aos céos.

 

É a voz infantil maviosa

Com que o anjo a Maria saudou;

É a pomba, que apóz o diluvio,

O signal da bonança levou.

 

É a muzica a doce linguagem

Das paixões, da ternura e do amor,

É a maga expressão da saudade,

É a lagrima triste da dor.

 

Tem os doces perfumes do lyrio,

Os mysterios de um brando luar,

Os rumores da tarde que expira,

Os ruidos da vaga do mar.

 

É também a linguagem sublime

Com que Deus fulminou a impiedade,

É o rouco clamor das trombetas,

Ante os muros da invicta cidade.

 

É a muzica o anjo dourado,

Á donzella do meu coração;

É nas formas igual a poesia,

Baptisou-se no mesmo Jordão.

 

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