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A Marqueza do Norte: periódico feminino - politico

por Maria Ione Caser da Costa
O periódico A Marqueza do Norte foi publicado em 21 de dezembro de 1866 na cidade do Recife. Impresso pela Typographia da Ordem de Pernambuco, se apresentou com quatro páginas e foi diagramado em duas colunas, divididas por um fio simples. Cada exemplar era vendido ao preço de 40 réis.

Ao alto da capa de A Marqueza do Norte aparecem impressos o número do fascículo e o valor cobrado para venda. Logo abaixo, o desenho do busto de uma mulher trajada com requinte, com um olhar enigmático e esboçando um leve sorriso. O título e o subtítulo aparecem a seguir, e finalizando o cabeçalho, a data de publicação. Na parte inferior da página, na sequência, a matéria de abertura de cada fascículo.

Na Hemeroteca Digital podem ser consultados dois exemplares, o primeiro e o terceiro. Não se tem notícias de que a publicação tenha tido continuidade.

A partir do subtítulo, periódico feminino – politico, pode-se achar que se trata de um periódico dedicado às mulheres, talvez as encorajando a se familiarizarem com a política. Entretanto, a leitura atenta ao editorial é possível notar uma crítica contundente a algumas mulheres, comparando-as à Marquesa de Santos, amante de D. Pedro I, Imperador do Brasil. A tônica é criticar o poder que algumas mulheres exerciam por manterem ligação escusa com integrantes da corte. Vamos conferir:

Quando todos reconhecem que o governo do Brazil é dirigido pelos balões da corte, por essa aristocracia fêmea que tem prostituido os costumes, pervertido a moral e abismado a nação, força é que das províncias do norte se erga uma mulher de costumes oppostos e de moral religiosa para combater essa devassidão, que polue a moral e avilta a nação.
É lastimável – que um paiz qualquer se dixe fascinar por influencias femininas a pontos de entregar o seu governo a descripção de mulheres, algumas das quaes tão devassas como as mais vis prostitutas!
O governo do Brazil, especialente no actual reinado, há sido sempre dirigido por mulheres.
No reinado passado apontava-se apenas a marqueza de Santos, mas no actual reinado são tantas as Maranguapes que não se pòde descremina-las.
A influencia portugueza prevalecendo da fraqueza do sexo e da importância que este exerce nos destinos do paiz, tem-se locupletado na preponderância e no domínio do Brazil, quer no que concerne ao commercio em geral, como nas extorquidas concessões que continuamente obteem dos poderes do estado por intermédio das fidalgas da côrte titulares do passo de S. Christovão.
É, pois, dessa perniciosa influencia que a Marqueza do Nòrte se vai occupar, declarando porém, que, tanto das fidalgas da corte, como da influencia portugueza exercida por influxo daquellas, fará suas excepções.


Com quatro páginas cada exemplar, as únicas ilustrações publicadas são as das capas, já mencionadas acima. Na última página uma nota informava a irregularidade da periodicidade: “A Marqueza do Norte não tem dia certo para sua apparição e por isso annunciará pelos jornaes a sua vinda a esta capital. Entretanto offerece o seu préstimo a quem delle precisar na povoação de Beberibe onde se acha passando a festa. ”

Os nomes dos colaboradores também não são claros. Assinam com pseudônimos. Também não são encontradas quaisquer referências dos responsáveis pela publicação.

A poesia a seguir é publicada no numerou 1 de A Marqueza do Norte.

A Marqueza e suas patrícias

A voz do patriotismo
Escutai, ternas Patricias,
Vós sois pois vossos encantos
Do mundo todo as dellicias.

Uma mulher que vos ama
Que nasceu na vossa terra
É a mesma, que vos falla,
Que ao despotismo faz guerra.

No Brazil ameno e fertil
Abri meus olhos a luz
Á vossa prosperidade
Meu concelho vos conduz.

Se vós viveos n’abastardança,
Os vossos felicitai,
Aos infames marinheiros
Resolutas desprezai.

Se a probresa vos persegue
Os seus mattyruis soffrei:
Não recebais de taes monstros
Nem dinheiro, nem a lei.

É melhor, que cazeis pobres
Com um Brazileiro honrado,
Que soffrer um besuntão,
Um bajojo, um malcriado.

Do que vos servem riquezas,
Soffrendo um biltre imprudente
Um monte de porcaria,
Um labrego, um insolente?

O casamento entre elles
E uma especulação
Não tem amor, nem ternura
Teem perverso coração.

Elles não amam os filhos
(Que torpes e vis sendeiros!)
Elles até os desherdam
Só porque São Brazileiros.

Mulher e filhos espancam
Praticam ceviciais mil
Que canalha tão infame!
Meu Deus! Que gente tão vil!

Do que serve um cazamento,
Que nos traz tanto desgosto?
Á feras tão hediondas
Voltemos o nosso rosto.

Elles casam c’o as viúvas,
Se as riquezas lhes acenam,
Mas assim que estão casados
As viúvas envenenam.

Estes perversos só cuidam
Nos vis interesses seus
Diante de um marinheiro
Não há Patria, não há Deus.

Há marinheiros tão monstros,
Que nascendo lá nas ilhas
Mandam vir outros ilhéos
Para cazarem com as dilhas.

Enriqueceram aqui
São roços a nossa custa
Porém não querem que herdemos
Porque esta ideia os assusta.

Fóra patifes infames
Corja vil de vis brejeitos,
Fóra do nosso terreno
Fóra, fóra marinheiros.

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