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A Mutuca: semanário critico e noticioso

por Maria Ione Caser da Costa
A Mutuca: semanário critico e noticioso foi um periódico lançado no dia 2 de março de 1930 na longínqua Sena Madureira, localizada no estado do Acre.

Na diagramação do periódico, lemos logo abaixo do título à esquerda, quatro informações para os leitores: “A MUTUCA sahirá aos domingos e quando os Redactores entenderem”. Apesar dos editores terem inserido no subtítulo a palavra semanário como definição de periodicidade, esta pode ser alterada; “Não se publica nada que venha a offender a marcha governante”. Chega-se à conclusão de que o periódico não tinha a intenção de se indispor com o governo de então; “Numero avulso 2 nickeis de tostão”. O valor cobrado por cada exemplar; e, “Não se publica nada que offenda a vida dos mortos”. Indica respeito aos que já não fazem mais parte do mundo dos vivos.

Sem informar nome dos editores ou fazer qualquer menção a autoria das matérias publicadas, assim inicia o seu editorial:

Nos confins do Brasil, no Acre onde estamos, uma melancholia profunda nos acompanha, a falta de um estimulo, de um riso ou de uma boa [ilegível] que venha dar assumpto proveitoso ao povo desta terra.
Não temos assumpto, não temos novidades, a não ser essas que por aqui correm quando um segundo tomo de Bras Cubas ou um Cairara se arroga a galgar tribunas, ou quando um Jovelino sonha com dinheiro de outras eras, de outros mundos!
Torna-se, pois, necessário o apparecimento de um jornal, e, já que estamos na terra desses oradores e sonhadores que teem coragem de mamar em onça, nós também a temos e por isso fazemos apparecer hoje A MUTUCA, este jornalzinhp escripto em linguagem embora rudimentar, mas moderada e respeidorata.
Critico, humorístico e noticioso, este pequeno orgam procurará sempre, debaixo de normas rasoaveis, desenvolver as suas criticas sobre as paixonites e costumes de nossos “cricris”, procurará sempre trazer aos amáveis leitores um pouco de alegria, humorismo e as mais palpitantes novidades que se forem occorrendo dentro do seu itinerario. ALEA JACTA EST! [Traduzindo: A sorte foi lançada! ].


A Biblioteca Nacional possui somente um exemplar, o descrito acima, que pode ser consultado na Hemeroteca Digital. O exemplar possui quatro páginas que foram diagramadas em três colunas separadas por um fio duplo. Não recebeu ilustração.

Além de notícias dos eventos que aconteceriam, notas relativas à vida social da cidade, alguns poemas e também propagandas de pontos comerciais, a publicação faz menção a um concurso. O concurso que premiaria a dançarina que mais se destacasse. Em uma das páginas de A Mutuca encontra-se um cupom para preencher e recortar, para participar do “Concurso Choreographico”.

A seguinte pergunta deveria ser respondida: “Qual das senhoritas de nosso meio social a que dança com arte e elegancia?”. Só não está publicado para qual endereço deveriam enviar o voto.
Ilustraremos este título com o poema “Pescando: um de cada vez”. Não é possível identificar a autoria, quem assina usa o pseudônimo de Pescador.

Pescando
Um de cada vez


Com a minhoquinha nagua
Vou cavando a minha vida,
Nesta luta esqueço magua,
Levo tudo de vencida.

Eis pois a profissão minha
Nesta crise de espantar,
Pescando sempre sardinha,
Ovadas e por ovar.

As vezes tenho desdita
Mas não sei me lastimar
A peixa vem expedita,
A minhoca me roubar.

Meus peixinhos vou vendendo
Lá pra banda do Mercado,
E ao meu freguez vou disendo
- Sou inimigo do fiado.

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