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A Rosa

por Maria Ione Caser da Costa
O periódico A Rosa foi publicado na Cidade de Goiás, primeira capital do estado goiano, e foi considerado a primeira publicação da imprensa feminina em Goiás.

Foi lançado possivelmente no início de 1907. Na Biblioteca Nacional podem ser encontrados os números 34 até o 38, e o número 41. Todos pertencentes ao ano 2, relativos ao ano civil de 1908, como grafado em seu cabeçalho. Este título ainda não está digitalizado.

No cabeçalho, além dos dados referentes à publicação, lê-se novamente o título do periódico, agora escrito em letra cursiva e circundado por desenhos de rosas.

Cada exemplar possui quatro páginas. E o papel utilizado para a impressão de A Rosa tinha a cor do nome da publicação: era cor-de-rosa. Hoje, quase cento de dez anos depois, os originais existentes na BN se apresentam em um cor-de-rosa esmaecido, com algumas acidificações, mas o tom do papel ainda o diferencia dos demais.

O gerente de A Rosa era Heitor Fleury, Josias Sant’Anna era o redator-secretário, hoje redator-chefe. Como “redactoras as senhoritas” Rosa Santarem Godinho, Alice Augusta de Santana Coutinho, Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas (1889-1985), que assinava com o pseudônimo de Cora Coralina e Leodegária de Jesus.

As pesquisas relativas ao periódico A Rosa nos mostram que eram elas, as fundadoras, as responsáveis pela publicação, tendo sido consideradas as precursoras da literatura feminina em Goiás. Naquela época existia uma grande dificuldade para que as mulheres pudessem apresentar seu trabalho intelectual. Não poderiam estar à frente de um trabalho intelectual, talvez por isto, as figuras que representavam os gerente e secretário eram masculinas, bem como a incursão de textos de autoria masculina entremeando as crônicas e textos assinados pelas autoras.

Nos exemplares existentes na BN encontramos, como crônicas de abertura para cada fascículo, textos de Cora Coralina. Com o título “Chroniqueta”, ela escrevia sobre os mais variados assuntos, porém, sempre voltados para o estilo romântico. O segundo texto publicado no exemplar de número 34, editado em 30 de setembro de 1908 é o discurso proferido pelo Sr. Joviano de Castro, então secretário da Instrução Pública, por ocasião da Conferência Literária realizada na Soirée Rose, em 10 de setembro daquele ano. No discurso ele afirma ser aquele momento a “festa da intelligencia”, onde se comemora o primeiro aniversário do “jornal litterario” A Rosa. Muitos elogios são proferidos principalmente a Cora Coralina, que “muito jovem ainda, se tem imposto á admiração, pela expontaneidade de suas produções, onde a elegancia da forma se compadece com o brilho das idéias e com a delicadeza dos sentimentos. ” E finaliza, despedindo-se e passando a palavra para Cora Coralina: “Não peço para ella a vossa benevolencia, porque o talento se impõe. Dou a palavra á gentilíssima senhorita Anna Lins dos Guimarães Peixoto”.

Nos exemplares de números 35, 36 e 37, com o título A Belleza feminina, estão as palavras que Cora Coralina proferiu na Conferencia Litteraria realizada na Soirée Rose. Assim inicia o discurso:

Gentilissimas senhoras. Meus senhores. – Se me atrevo ante este auditório, a vestir a clamyde dos oradores, e usar da palavra para fazer esta dissertação sobre a belleza feminina, é sempre buscando, juncto aos factores desta festa commemorativa, explessar o immenso prazer que sinto ao ver erguer-se victorioso, o róseo santelmo da litteratura goyana.
Sentia a Penna me vergar nas mãos, e o braço tremer, quando a escrevia; hoje encolho me transida e pequenina perante a responsabilidade que assumi, e dea qual desejava me tirar com galhardia.


O texto segue nos três exemplares seguintes, dando inúmeros exemplos da beleza feminina e finaliza desta forma:

Que vale o corpo? O lábio doido de amor que o beija hoje, não o beijará amanhã!...
Ele desce para os vermes, a alma voa para os astros!
O primeiro decompõe se, apodrece, fica debaixo da terra; a segunda brilha, resplandece, vem para Deus.
O corpo tem um tumulo na terra, a alma um thalamo no firmamento!
Despreso a fórma, e adoro a pureza da alma! Sou idolatra do Bello, e ajoelho-me contricta, deslumbrada, diante da sublime, da egregia, da belleza que proclamo superior a todas: - A belleza da alma!


“A Rosa é orgam litteraio e tem por fim o único e exclusivo desenvolver as bellas lettras em nosso meio. Sahe tres vezes por mez e é propriedade do seu gerente”. Estas informações podiam ser lidas no expediente, localizado sempre ao final da publicação.

Também no expediente eram colocados os valores de assinatura: a anual valia 10$000, a semestral valia 5$000 e a trimestral (apenas para os assinantes da Capital) custava 3$000.
Os outros colaboradores de A Rosa são: Francisco Ferreira dos Santos Azevedo, 1875-1942, Jonas, Julio Nunes, Thalia, Aulio, W. Z., Dircinio Juran, João do Couto, Uriel Zuli, Elysio, Hermeto Lima, Syrius, Getulio Amaral, Mario D’Avila, Sebastião de Campos, Leo Lynce, C. Maia e J. Antunes.

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