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Calungasinho: órgão do novo club Terpsychore

por Maria Ione Caser da Costa

Em 24 de janeiro de 1886 circulou na cidade do Rio de Janeiro o primeiro número do periódico denominado Calungasinho: órgão do novo Club Terpsychore. A publicação continuou até 28 de abril de 1888 e registrou poesias, anagramas, charadas, contos, notas avulsas, e toda série de noticias que envolve o Club Terpsychore, carinhosamente chamado pelos seus editores de o “Castelo Musical Dançante”, fundado em 15 de agosto de 1885, e situado à rua do catete, n. 54.


 A coleção de Calungazinho da Biblioteca Nacional é formada por 22 exemplares. Inicialmente, o título foi impresso pela Typographia Italiana de Leo F. Spandonari, na rua Nova do Ouvidor, n. 15. A partir da terceira edição, mudou para a Typographia Esperança, situada à rua de são José, n.14. O ano 2, n.11 passa a ser publicado pela Typographia da Escola, situada à rua Sete de Setembro, 83. Todos os exemplares possuem quatro páginas, e suas matérias são organizadas em três colunas. Existem várias ilustrações ornando os textos.


Logo abaixo do título a informação de que Calungasinho é “publicado por um bandão de rapazes do dito cujo em commemoração ao passeio á Paquetá”. Ou seja, o jornal é editado sob o signo da brincadeira, por sócios e frequentadores de um clube, que, em virtude de um passeio a ser realizado, decidiram elaborar um periódico, batizando-o com o nome de Calungasinho. A escolha do nome foi em virtude do Tango Calunga, muito dançado na época e que deixava os rapazes “de queixo cahido”. Essa vertente é confirmada em seu primeiro editorial, intitulado Meio... Programma, quando seus editores explicam que


o Novo Club Terpsychore, composto de uma bela rapaziada, torturada pela lida diaria, escolheu o dia de hoje para sermos até literatos, ousadia superior ás nossas forças, mas enfim... como um dia não são dias, perdoemos os vates, e nada de tristezas, toca a folgar!


Vamos para longe, é verdade, mas o que quer o leitor? Se não podemos, com o calor diario, gozar um momento de prazer!


Vamos para longe, sim: vamos para aquella Veneza americana que se chama Paquetá, onde mansamente se debruçam as ondas do grande mar, e lá, entre o soluçar da doce brisa, e a libação do vinho fino, descansaremos das fadigas diarias...


Calungasinho, “um jornalzinho alegre e cheio de boas qualidades em proza e verso”, era distribuído à meia noite, nos salões do clube, que “scintillantemente ornamentados, regorgitavam de convidados e sócios e os constantes sorrisos misturavam-se com os sons harmoniosos da musica”[1].


A indicação de responsabilidade pela edição do periódico vai mudando, de acordo com o momento de edição. No segundo exemplar temos que é “publicado por uma porção de rapazes do dito cujo”. Do terceiro ao sétimo número, lê-se que é “publicado pelos rapazes cá do gremio galhofático”, sendo quem neste último, com a continuação: “em comemoração ao primeiro anniversario do club”.


As matérias e notícias indicam alguns de seus colaboradores, aparentemente misturando nomes civis e suas variações, além de pseudônimos, seguindo a tradição de periódicos jocossérios: José Simeão, Bacharel, Bachareu seu Chiquinho, Dr. Vinagrinho, Acrisio Gilberto, Francisco Simeão, K. TTT. Pero, Telles de Menzses, J. F. Perpetua, Dr. Violeta, T. A. Souza, José Francisco Perpetua, Bernardino V. do Amaral, F. Corrêa, F. Corrêa da Silva, Francisco Correia, José Simeão, Tito Bruno, José S. Corrêa da Silva, Mephistopheles, J. M. Nunes, J. M. Nunes Junior,  Pedro José Ribeiro, J. M. Fraga e Corrêa da Silva.



[1] Cf O Cherubim, ano 2, n.50, 22/08/1866, p.3.

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