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O Badalo: periódico satyrico, humorístico, epigrammatico e debochatico

por Maria Ione Caser da Costa

O Badalo é um semanário que apareceu no Rio de Janeiro, nos idos de maio de 1893. Uma simples olhada no cabeçalho e na caixa do expediente informa ao leitor que a publicação se alinha na tradição satírica e autodenominada joco-séria. O subtítulo é extenso: periódico satyrico, humorístico, epigrammatico e debochatico. O local da publicação seria “O Mundo da Lua”.


A informação “O Badalo é a folha de maior tiragem e de maior circulação da rua do Ouvidor”, colocada antes do texto de apresentação do periódico, mantém o tom de brincadeira, mesmo que tenha o cuidado de informar que os editores tinham interesse que seu trabalho marcasse presença na rua mais importante da cidade na época. O deboche e a galhofa eram tão centrais que apenas na edição 18, publicado na segunda semana de setembro de 1893, aparece o endereço completo do escritório e da redação, rua do Ouvidor, 143, 1º andar, Rio de Janeiro.


Observando a coleção, é possível constatar algumas alterações ocorridas em seu subtítulo: no exemplar de número 4, da segunda semana de junho de 1893, aparece epigramático e debochativo. A partir do número 18, da segunda semana de setembro do mesmo ano, o complemento passa a epigramático e trocista. O trigésimo exemplar, publicado na segunda semana de dezembro, retorna ao anterior, epigramático e debochativo,  seguindo desta forma até o número 42, da segunda semana de maio de 1894. Este número é o último da coleção existente na Biblioteca Nacional.


Não se encontram nomes de pessoal responsável pelas edições, o que se lê é que O Badalo é “propriedade e redacção de varios anonymos de muita força”. Anônimos que se preocupavam em entreter seus leitores com o gracejo e a troça. No primeiro editorial se apresentam:


Isto de fazer programas é uma historia muito velha e muito sem jeito.Os senhores, com franqueza, não se importam muito de ler um artigo de fundo todo tirado á sustância, promettendo mundos e fundos, porque já sabem que dahi a pouco, nem fundos, nem mundos.


[E e]ntão, é assim mesmo.


[E] nós cá não temos disso.


[Tamb]em o que é que queremos? Troçar com espírito, sempre que houver disponível; quando não houver, arranjaremos da melhor maneira, attendendo a que quem não tem cão caça com gato.


Uma observação necessaria: O Badalo, não tem amigos, não poupa neinguem: apanhando a jeito um sugeito, está sujeito p dito ás penas das nossas pennas, por gracejos apenas, sem ofensas sempre.


No que se refere ao trabalho gráfico, muito se assemelhava aos jornais da época. As páginas são divididas em três colunas, separadas por um fio simples. Para separar os artigos e os anúncios aparecem vinhetas delicadas. Em alguns exemplares, pequenas ilustrações ilustram algumas matérias. São desenhos pequenos, que não chegam a ultrapassar os limites das colunas.


O exemplar era vendido ao preço de 100 réis, e o “número atrasado” a 200 réis. A informação: “Não se aceitam assinaturas” aparece à direita, logo abaixo do título. A partir do número 13, editado na segunda semana de agosto de 1893, isso muda e, na coluna Noticiário, pode-se ler:


Acendendo aos instantes pedidos que temos recebido, resolvemos aceitar assignaturas para O Badalo, sómente para fora desta capital, ao preço de 2$ por série de 15 numeros, a contar do n. 15.


O pagamento será feito asiantadamente.


Está aberta a assignatura para a série de 15 a 29.


Telegramas, Noticiário, Anúncios, Avisos e Folhetim são seções que aparecem em O Badalo. O periódico publica também contos e crônicas. Todas as notícias e, até mesmo, os anúncios são sempre escrito em tom jocoso e de deboche. Como exemplo pode ser citado o anúncio colocado na página 3 do último exemplar do ano de 1893: “Aluga-se um burro chocro, para ir a Copacabana, ver navios”.


Outro periódico homônimo foi publicado também no Rio de Janeiro, anos antes, em 1881. Este, com o subtítulo “orgão dedicado às pessoas que soffrem de hypocondriauma”. Como este, ele está disponível na Hemeroteca Digital.


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