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O Garoto: publicação semanal illustrada

por Maria Ione Caser da Costa
Lançada no Rio de Janeiro no dia 13 de abril de 1915, O Garoto: publicação semanal illustrada teve como proprietário e diretor Hygino Santiago.

Os primeiros exemplares apontam um sobrado na rua do Ouvidor, 155, como endereço provisório da redação. A redação de O Garoto continua neste local até o número 11, que sai publicado no dia 22 de outubro. Os fascículos seguintes passam a ser editados num sobrado do número 32 no Largo do Rosario, mas, uma observação entre parêntesis indicava ser também este, um endereço provisório.

O semanário era vendido por 100 réis cada exemplar, e, caso o interesse do leitor fosse por algum número atrasado, o valor cobrado passava a ser 200 réis. O Garoto teve como fio norteador para seu surgimento, a vontade de poder transformar os acontecimentos negativos em sinais de positividade, e ajudar aos seus leitores a trilharem por melhores e mais felizes caminhos. Com o mesmo título da publicação, assim inicia o editorial:

“O Garoto”, nem sempre é o rapazola alegre e traquinas que da troça e do folguedo faz a sua existência inteira... Nem sempre é o vagabundo “mingnon”, audacioso e atrevido, que prega as mais interessantes e chistosas “peças” aos que têm a “ventura” de cahir-lhes em graça...
“O Garoto”, na expresssão genuína da palavra, póde ser tudo isso, mas, tambem póde ser um ente útil e agradável, um auxiliar indispensável nas emergências mais criticas da vida.
Na historia da vida dos povos tem se visto tanto disto como aqui escrevemos...
Quantas vezes uma “garotada” qualquer nos vem livrar do “splen” que nos invade a alma?!...


Continua descrevendo, com inúmeras provocações, os vários momentos em que um “jovem” ofereceu seus ensinamentos aos mais experiente ou mais afortunados. Finaliza com a explicação seguinte: “Fazendo aqui a apologia do garoto em sua genuína qualidade, queremos dizer que “O Garoto” que hoje apparece, deseja com suas “garotadas”, ser útil e agradavel e fazemos votos para que elle, novel e enexperiente, possa colher do publico os favores necessários.”

Na mesma página em que aparece o editorial, e repetindo o mesmo título: O Garoto, encontra-se um artigo assinado por Martinho Caldas que prestigia o lançamento do semanário e prenuncia os caminhos que os editores deverão trilhar:

Sae hoje pela primeira vez “O Garoto”.
A tarefa é rude e ardua, mormente em tempos críticos como os actuaes. Mas o amigo director entendeu de pôr p’ra ali, na rua, “O Garoto” a fazer das suas, vadiando em busca de noticias e á surrelfa rebuscando, nos escaninhos das algibeiras de quem passa, algum desejo novo, alguma sensação inédita, assim como quem não quer a cousa, no fito de a collocar bem á luz do dia, em letra de forma, com commentarios e tudo.
Desejamos bem, que o atrevidote dê bôa conta do recado, mostrando-nos em toda sua nudez o que houver de condemnavel, verberando acremente o vicio, e, ao mesmo tempo, desopilando o fígado de todos nós, fazendo-nos rir a bom rir, com honesto e são humorismo, não esquecendo as farpas, nem os alfinetes, e, sobretudo o assobio... [...]
E, por este caminho, em todo o tempo enérgico, a todo o momento altivo, vibrando a harpa do sentimento com seriedade e nobresa, desejando vêl-o, prosperando, subindo sempre, de modo a, assim, terem os seus redactores um allivio bom ás dores e desenganos que, inevitavelmente, da lide lhe virão...


Além das troças e piadas, que serviam para “desopilar o fígado” de seus leitores, O Garoto publicou poesias, prosas, crônicas, notícias dos teatros e sobre os esportes e o que ia pela moda, com fotos ilustrativas. As ilustrações sempre em nuances de preto e branco. Nas capas, além do título e do cabeçalho, um desenho ironizando um fato político ou um momento da história, acompanhado de um diálogo, ao pé da página, do que estaria sendo conversado pelos personagens.

Com oito páginas cada exemplar, grafado em quatro colunas cada página, foi confeccionado em papel jornal. Os fascículos estão com as folhas soltas e muito acidificadas nas extremidades, dificultando o manuseio. A coleção ainda não está digitalizada, devendo ser consultada, in loco, na Coordenadoria de Publicações Seriadas da Biblioteca Nacional.

A coleção de O Garoto é formada por quatorze exemplares. O último, o de número quinze foi publicado em 19 de novembro de 1915. Existe uma falha, o décimo quarto exemplar. Não foi encontrado este título em outras bibliotecas, nem qualquer informação na web.

Muitos foram os colaboradores, dentre eles citamos Abilio Barreto, Candido Costa, Domingos Correa, João Barbosa Dey Burns, Mario Hora e Oliveira-Herencio com seus poemas. Carlos Rubens, Garoto Trinca, J. J. Botta, José Hora, Lucius, Veiga Cabral e Vôvô Garoto.

Selecionamos o soneto de Oliveira-Herencio intitulado O Lenço, publicado na página dois do exemplar de número nove, publicado em 8 de outubro de 1915.

O Lenço

Entre anjos em revoada e frêmitos de incenso
Eu comtigo rasguei promontorios de Sonhos
Firmamentos irreaes... eu... num transporte immenso...
Fui, cortando, roçar... sobre fluidos risonhos...

Cordilheiras de Luz, meu alvíssimo lenço,
Nós subimos... os dois... e rolámos tristonhos,
Sem acharmos teu par, que é muitas vezes penso,
O inflammado brancor de dois seios inconhos...

E inda respiras. Lenço, os perfumes hostiaes
De suas brancas mãos – camélias entreabertas
De carne e tentação... finas mãos imperiaes...

Eis porque eu te procuro e, em beijos, te contemplo,
- lenço... manto de altar... duas azas abertas
No côncavo reccesso abobadal de um templo...

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