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O Pernilongo: periódico litterario, critico, poetico e de variedades

por Maria Ione Caser da Costa
Lançado em 10 de outubro de 1864, uma segunda-feira, o título O Pernilongo recebeu o extenso subtítulo de periódico litterario, critico, poetico e de variedades, abarcando, desta forma, todas as possibilidades de estruturação de seu conteúdo.

Poucas são as informações que podemos destacar das páginas de O Pernilongo. Consultando o fascículo em questão, único existente na Biblioteca Nacional, foi possível saber alguns dados. O expediente, colocado logo abaixo do título, informa que a assinatura para o periódico deveria ser feita na rua da Lampadosa, número 90, no escritório da redação ou na tipografia.

Entretanto, não é possível saber o nome da tipografia responsável, pois faltam as últimas páginas do periódico. Só se encontram armazenadas no acervo as duas primeiras páginas. O nome da tipografia geralmente vem grafado no rodapé da última página.

Ainda no expediente pode-se saber o valor da assinatura: a anual valia 6$000, a semestral, 3$000 e a trimestral estava custando 2$000.

O editorial com o mesmo título do periódico e assinado por “A Redação”, explica o seguinte:

O titulo que damos ao nosso periódico, tem mais de um ponto de contacto com o programma que temos projectado levar á effeito. Representa elle um insecto insignificante, pequenino, mas ás vezes maligno e incomodo.
Pequeno, ou quase nenhum é o nosso mérito litterario, nem nos servimos da modéstia para realçar a nossa insignificância, se não para rendermos homenagem á verdade. Nem prometteremos, comtudo, se não o possível, não acreditando como escriptor latino, que nihil mortalibus arduum est; tanto cremos que há impossíveis, que os não buscaremos realisar.


O termo em latim utilizado pelos responsáveis da publicação, traduzido literalmente significa que “nada é impossível para os mortais”, e pode ser encontrado em uma Ode de Horácio dirigida ao amigo Virginio (livro I, ode III, v. 37)

Se corre o dever á sociedade de segregar dos bons os máos, recompensar uns, castigar outros, elogial-os ou vituperal-os, corre-nos, como parte integrante da sociedade esse duplo dever. [...]
Alguns jovens amantes das lettras se dignarão corresponder ao nosso appello e promettêrão-nos coadjuvação na parte poética. Já n’esse numero damos á luz algumas poesias devidas ás suas pennas. São ensaios da mocidade que devemos animar, corrigindo, não hostilisando; nunca a indifferença deve matar em embryão a aspiração cheia de seiva do joven affanoso nas lides litterarias. Avante, pois, perseverança no estudo e fé no porvir.
Nas variedades do nosso periódico, buscaremos conciliar o útil com o agradável. Se falhar o nosso intento, não attribuão á má vontade de nossa parte, antes á escassez dos nossos conhecimentos e á penúria de nossa intelligencia.
Esperamos e tudo confiamos da protecção dos homens illustrados; é a elles que não há outros que nos dirigimos.


Diagramado em duas colunas separadas por um fio simples, não apresentou qualquer ilustração nas duas páginas que podem ser consultadas da coleção. Não se tem notícia sobre a existência ou não de outros exemplares do título. A falta das páginas sequenciais já foi observada e anotada ainda no primeiro inventário feito nos armazéns de periódicos da Biblioteca Nacional, que se deu no final dos anos de 1970 e início da década de 1980. Uma observação no quesito coleção dava conta de que “faltam páginas”.

Na seção intitulada “Folhas soltas”, com o título “Tristeza”, encontramos um longo texto, assinado por Hercules, repensando o tema. E inserido nele, alguns versos, que destacamos a seguir.

Tão triste, como o surdo murmúrio,
Dos ventos lá dos bosques n’espessura,
Tão triste como a lus morta do círio,
Alvejando a triste sepultura.

Como do mocho o agoureiro pio
A tristura da soidão [sic] em terror muda,
E como em noite de invernoso frio,
Do campanário a flecha ponti-aguda.

[...]

Se a dôr os lábios meus traz resequidos,
Se meu peito as sensações tornou-se mudo
Se o rosto juvenil – é carrancudo,
E os olhos trago p’ra o céo erguidos.

Choro as horas venturosas
Que passei tão descuidosas,
No tempo da mocidade,
Choro a idade infantil,
Seus folguedos, brincos mil,
Que deixão terna saudade.

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