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Revista contemporanea: politica, commercio, industria, actualidades, finanças, letras

por Maria Ione Caser da Costa

Lançada no Rio de Janeiro a 7 de novembro de 1918, a Revista contemporanea era propriedade de José Lopes e Veiga, que também desempenhava o papel de editor gerente. A redação e a administração localizava-se à rua Sete de Setembro, 42 e a revista era impressa nas Oficinas Gráficas d’ A Noite, localizada na rua do Carmo 29. O valor do número avulso era de 200 réis. A assinatura anual saía ao preço de 10$000 e, “para o estrangeiro” o preço era de 30$000. O número atrasado era vendido por $400. Raphael de Hollanda e Gilberto Amado respondiam respectivamente as funções de diretor e redator chefe. O escritor, conferencista, diplomata e político Gilberto Amado permaneceu no cargo até janeiro de 1919, quando se demitiu por motivo de doença.


Na Biblioteca Nacional são encontrados 32 exemplares do periódico em formato A4, com uma média de 20 páginas cada, sendo o último exemplar desta coleção publicado em 26 de julho de 1919. De maneira geral, foram publicadas notas políticas, artigos e comentários sobre os assuntos da época. No exemplar de número 1 encontra-se o propósito da revista:


informando e discutindo, servir ao Brasil, estimulando o seu trabalho, pugnando pelo seu progresso, collaborando no movimento das idéas que agitam e embellezam o nosso tempo. [...] A Revista Contemporanea vem falar no meio dos que falam, combater no meio dos que combatem, cheia da grande fé que anima o Brasil, alevantado, no momento culminante de sua historia, ao ponto donde começa a encaminhar-se na direcção de seus esplendidos destinos humanos.


Está neste exemplar que lemos uma nota explicando o atraso do lançamento da revista, que, de acordo com a propaganda veiculada em periódicos da época, deveria ter sido lançada no dia 17 do mês anterior:


A subita e violentissima irrupção da peste, com todas as suas tremendas consequencias, porem, nos obrigou a transferir para data indeterminada a sua publicação. Para se ter uma idea das formidáveis difficuldades em que nos vimos envolvidos, basta dizer que, dos operarios, da empreza editora da nossa revista, só um não cahiu dominado pelo mal reinante. A geral paralisação da vida nesta capital impediu que tomassemos qualquer providencia para vencer o obstaculo que se nos apresentára.


Era a pandemia que ficou conhecida como gripe espanhola, e somente muitos anos depois os estudos mostraram o mal que esta endemia gripal trouxe para a humanidade de um modo geral, matando milhões de pessoas ao redor da terra.


As doze primeiras capas da revista têm a mesma diagramação: emoldurando o título, que se sobrepõe ao desenho de uma pena de ave, um box ornado por vinheta. Logo abaixo, numa composição modular com boxes de fios duplos, onde se lê o subtítulo da revista, com as palavras ajustadas uma abaixo da outra, preenchendo o espaço do lado esquerdo até o final da página: “politica, commercio, industria, actualidades, finanças, letras”, indicando a pretensão de seus editores em explorar os mais variados temas. O lado direito mostra numa terceira moldura, texto de apresentação para cada exemplar da revista. Entre o primeiro e o segundo box, algumas informações pertinentes a revista.


Publicação ilustrada, alguns de seus exemplares tiveram a colaboração do artista português Fernando Correia Dias, ilustrador, que chegou ao Brasil em 1914. Mais tarde ficaria conhecido como o ‘poeta do traço’, e se casaria com Cecília Meireles.


A partir do décimo terceiro exemplar, publicado em 15 de fevereiro de 1919, até o de número 25, de 10 de maio do mesmo ano, o subtítulo se apresenta na moldura separada, abaixo do título, diagramado na posição horizontal, diferentemente da diagramação anterior, que as palavras eram colocadas umas sobre as outras. Logo abaixo dele, do lado esquerdo, as relações dos “collaboradores efecttivos” e  dos artigos publicados em cada número, e, do lado direito, emoldurado por um box ornado, um texto de chamada para o número editado.


O expediente do semanário, que saia sempre às quintas-feiras, é apresentado na contra capa, onde também são encontradas, inseridas em boxes, propagandas dos anunciantes. Em várias páginas aparecem interferências na mancha gráfica com algumas ilustrações.


A partir do número 13, de 15 de fevereiro de 1919, aconteceram algumas modificações: a função de redator chefe passa a ser de Adoasto de Godoy e, o semanário muda o dia de distribuição, conforme informação publicada em um box na página [9]:


por conveniência de ordem toda intima a ‘Revista contemporanea” deixou de ser publicada na ultima semana, que aproveitamos para reorganizar nossos serviços.


A “Revista contemporânea” passa a ser distribuida aos sabbados, com uma collaboração mais cuidada e, como anteriormente, obedecendo a um programma único: servir á cauda de reacção de cultura contra os incompetentes e os deshonestos que se procamam os donos do Brazil.


Além de seus editores e proprietários, também colaboraram na revista: Belizario Penna, Nicanor do Nascimento, Antonio Torres, Alvaro Paes, Gilberto Amado, Xavier de Barros, Alvaro Paes, Evaristo de Moraes, Nicanor Nascimento, Xavier de Barros, Raymundo Magalhães, João Cabral, Viriato Corrêa, Abdias Neves, Antonio Torres, Miguel Mello, Mario Rodrigues, Gal Muller, Mario Vilalva, J. Braz, Raul Damazio, Tolentino do Rego Lengruber, Hercilio Schmidt deixando evidente a diversidade de grupos literários que eram acolhidos nela.


E, para comprovar a afirmação, é com um pequeno excerto de Histrião ou literato?, texto de Lima Barreto publicado no número 13, que finalizamos este artigo:


A missão da literatura é fazer comunicar umas almas com as outras, e dar-lhes um mais perfeito entendimento entre ellas, é ligal-as mais fortemente, reforçando desse modo a solidariedade humana, tornando os homens mais capazes para a conquista do planeta e se entenderem melhor, no único intuito de sua felicidade[1].


[1] Artigo de Lima Barreto, Histrião ou literato, publicado no número 13, excerto localizado na segunda coluna.

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