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Primeiro Ato - O Teatro

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Primeiro Ato - O Teatro

DESCRIÇÃO CONTEMPORÂNEA DE MARIA GRAHAM

“Um terreno perto da igreja de São Francisco de Paula havia sido reservado para fazer uma praça; mas apenas umas escassas doze casas se erguiam entorno e um tanque lamacento ocupava o centro; dentro dele, os negros costumavam atirar todas as imundícies da vizinhança e ainda não estava aterrado. Em um dos lados da praça, começara a construção de um teatro, não inferior aos da Europa em tamanho e em acomodações, e colocado sob o patrocínio de São João.

O teatro é muito bonito, em tamanho e proporções, e alguns de nossos oficiais julgam--no tão grande quanto o de Haymarket, mas é diferente deste. Foi inaugurado em 12 de outubro de 1813, dia do aniversário de Dom Pedro. Os camarotes são confortáveis e, dizem, a parte não vista do teatro é cômoda para os atores, vestiários, etc.; mas a maquinaria e decorações são deficientes. “


Figura 2: Jacques Arago - vista da Sala de Espetáculos na praça do Rocio, no Rio de Janeiro. Atlas Freycinet .

Figura 3: SOUSA?[Largo do Rocio], c. 1822, Silva, José Bonifácio de Andrada e, 1763-1838?

Figura 4: Debret Aclamação provisória da Constituição de Lisboa no Rio de Janeiro, em 1821
THIERRY FRÈRES. Acceptation provisoire de la constitution de Lisbonne, : à Rio de Janeiro, en 1821.[. Paris [França]: Firmin Didot Frères, 1839. 1 grav, litografia, col, 22,3 x 35,4cm em f. 52,6 x 34,6.


Figura 5: H. Taunay. Real Theatro São João. 26 de fevereiro de 1821, o Príncipe Dom Pedro jura em nome do pai, a Constituição “tal qual fosse redigida pelas Cortes de Lisboa”. O palco era a sacada do teatro.


O JURAMENTO DA CONSTITUIÇÃO EM 1821
DESCRIÇÃO CONTEMPORÂNEA DE MARIA GRAHAM


“Todas estas pessoas estavam ansiosas em reter o rei no Brasil. Pela maior parte eram brasileiros e haviam sentido a vantagem de ter no meio deles a sede do governo, e, posto que os aliados estrangeiros do rei e seus súditos portugueses insistissem junto a ele para que voltasse à Europa, o pavor que este tinha pelas Cortes de Lisboa, aliado com o natural desejo de detê-lo no Brasil, tiveram como consequência um manifesto, datado de 21, pondo em relevo a afeição que tinha pelos súditos brasileiros, e a confiança que neles depositava. Declarava que estava decidido a enviar o príncipe Dom Pedro a Lisboa, com plenos poderes para tratar cm seu nome com as Côrtes, que ele parecia considerar como compostos de súditos rebeldes. O príncipe deveria também ouvir as Côrtes acerca da redação de uma constituição e o rei prometia adotar os pontos que fossem achados aplicáveis às circunstâncias existentes e à situação peculiar do Brasil. Este manifesto parece que produziu efeito muito diverso do visado.

Às quatro da madrugada de 26, todas as ruas e praças da cidade encontraram-se cheias de tropas. Seis peças de artilharia estavam colocadas na entrada das principais ruas e todas as partes da cidade agitadas pela mais viva sensação. Logo que estas circunstâncias foram conhecidas em São Cristóvão, o príncipe Dom Pedro e o infante Don Miguel vieram para a cidade. A Câmara estava reunida no salão nobre do teatro. O príncipe, após conferenciar pouco tempo com os membros dessa corporação, apareceu na varanda para a qual dava o salão e leu para o povo e para a tropa uma proclamação real antedatada de 24, prometendo a aceitação da constituição, tal como fosse elaborada pelas Côrtes de Lisboa. Isto foi recebido com altos gritos de Viva o Rei, Viva a Religião e Viva a Constituição. O príncipe voltou então ao salão e ordenou ao secretário da Câmara que lavrasse um termo de juramento de observar a constituição e também uma lista de novo ministério a ser submetido ao povo para sua aprovação. A lista dos ministros foi primeiro lida e cada nome aprovado. Sua Alteza Real prestou então juramento em nome de seu pai, da seguinte maneira: -- "Juro, em nome d'El Rei, meu Pai e Senhor, veneração e respeito pela nossa Santa Religião; observar, guardar e manter perpetuamente a Constituição tal qual se fizer em Portugal pelas Côrtes. O bispo apresentou-lhe, então, os Santos Evangelhos nos quais pos a mão direita e solenemente jurou, prometeu e assinou. (...) Entrementes o príncipe cavalgava para São Cristóvão, casa de campo do Rei, punha-o ao par de tudo o que se havia passado, e suplicava sua presença na cidade, como o melhor meio de garantir a ordem e a confiança. (...) A tropa então se dispersou e o Rei convocou um conselho que teve numerosa concorrência. O dia terminou no teatro da ópera, tendo o povo se reunido de novo para puxar o carro do rei para ali. (...) Dom João VI, apaixonado cultor da música, foi puxado por um povo, grato pela graça concedida naquele mesmo dia, para um teatro construído por ele próprio, onde toda a parte vocal e instrumental foi escolhida com gosto exímio e onde se apresentou uma peça que era sabidamente sua predileta (La Cenerentola, de Gioachino Rossini, baseada no conto de fadas da Cinderela).”

Figura 6: Von Theremin Teatro Imperial
LOEILLOT, W. Theatro Imperial. (1835) = Theatre. [S.l.: s.n.], [1835]. 1grav, aquarela, pb, 48 x 30,5.

 

O “DIA DO FICO TERMINA NO TEATRO
DESCRIÇÃO CONTEMPORÂNEA DE MARIA GRAHAM


“Quinta-feira, 10 de janeiro. - Houve ontem uma reunião da Câmara do Río e, após uma curta deliberação, os seus membros foram em procissão, acompanhados de grande concurso de povo ao Príncipe, com uma enérgica petição contra sua saída deste país e uma viva súplica para que ele ficasse no meio de seu fiel povo. S. A. R. recebeu-os gentilmente e respondeu que, desde que parecia ser a vontade de todos, e para o bem de todos, ele permaneceria. Esta declaração foi recebida com gritos e com entusiasmo, correspondidos com descarga de artilharia e com todos os sinais de regozijo público. O dia, como de costume em qualquer ocasião de interesse público, findou no Teatro.  (...) O edifício estava iluminado. O príncipe e a princesa apareceram em grande gala no camarote real, que é no centro da sala. Foram recebidos com entusiasmo pelo povo, cantou--se o hino nacional e, no intervalo dos atos, o público chamou vários de seus oradores favoritos a fim de que falassem ao Príncipe e a todos sobre o acontecimento do dia. Este apelo foi atendido por diversos oradores e alguns dos discursos foram impressos e distribuídos pelo teatro. “

Figura 7: PUSTKOW, Friedrich. Vistas do Rio de Janeiro : collecção Pustkow. Rio de Janeiro, RJ: G. Leuzinger Ed., [1850].
PUSTKOW, Friedrich. Vistas do Rio de Janeiro : collecção Pustkow. Rio de Janeiro, RJ: G. Leuzinger Ed., [1850]. 11 gravuras, litografia, pb, 24 cm.