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TEATRO DO MUNDO I

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TEATRO DO MUNDO I

Gabinete de Curiosidades


Considerados “pais dos mu­seus”, os gabinetes de curiosi­dades eram locais de estudo de eruditos, naturalistas, no­bres, profissionais liberais e apoticários que os organiza­vam, sendo assim seus me­cenas e patronos. Verdadeiras Arcas de Noé, os gabinetes reuniam exemplares das obras de Deus e do Homem. Tudo o que vinha de longe no tempo e no espaço era exposto, obede­cendo a uma lógica de associa­ção visual ou de ideias que não desprezava o contraditório e o aparentemente aleatório: anti­guidades e obras de arte faziam parte de uma mesma coleção que incluía flores e aves exóticas, animais empalhados, minerais e vestígios de vidas imprová­veis como a do unicórnio.


Citado na Bíblia e pelos antigos, como o naturalista romano Plínio, o Velho, o unicórnio é um cavalo mitológico, geral­mente branco, dotado de um único chifre. Sua intemperança e ferocidade só eram aplacadas pelos odores de uma jovem virgem, no colo de quem ele se aninhava e dormia, sendo en­tão capturado pelos caçadores. Seu chifre era tido como pode­roso antídoto contra as mortes por envenenamento, muito comuns à época.


Sua existência e suas virtudes curativas foram temas de po­lêmicas que se estenderam por um século (do XIV ao XV) e foi o médico dinamarquês Olaus Worm quem, em sua obra Museum Wormianum (1655), deu início ao fim da lenda. Contudo, ela permanece como signo poético de uma época em que o real e o fabuloso compu­nham os gabinetes do pensa­mento e das paixões.