BNDigital

LITERATURA IRLANDESA CONTEMPORÂNEA

< Voltar para Exposições virtuais

LITERATURA IRLANDESA CONTEMPORÂNEA

 

A literatura irlandesa é a matriz dos Estudos Irlandeses no Brasil. Esta exposição destaca escritores irlandeses cujas obras foram objeto de traduções, teses, pesquisas e encenações brasileiras, ou que visitaram o Brasil, incluindo autores convidados para a Festa Literária de Paraty e muito apreciados pelo público: Colm Tóibín, Anne Enright, Edna O’Brien, Colum McCann e John Banville.

No início e até meados do século XX, a literatura irlandesa foi liderada por Shaw, Yeats, O’Casey, Joyce e Beckett, entre outros. George Moore e Joyce estabeleceram o conto irlandês, uma tradição continuada por Sean O’Faolain, Frank O’Connor, Liam O’Flaherty, Elizabeth Bowen e Mary Lavin, abrindo caminho para o sucesso e riqueza do conto irlandês de hoje.

A visão da Irlanda foi redefinida nas décadas de 1950 e 1960 por autores como Edna O’Brien e John McGahern, enquanto escritores como Kate O’Brien, Brian Moore, William Trevor e Elizabeth Bowen tiveram que viver no exterior devido a questões práticas de censura e à estrutura da indústria editorial.

Nas décadas de 1960 e 1970, a Irlanda do Norte teve um renascimento poético, com Derek Mahon, Michael Longley, Seamus Heaney, Ciaran Carson, Tom Paulin, Paul Muldoon e Medbh McGuckian criando uma tendência original. Alguns deles, como Heaney, também experimentaram a vida na República com outros contemporâneos como Michael Smith, Paul Durcan, Michael Hartnett, Seamus Deane, Maurice Harmon e Macdara Woods.

Após a década de 1970, escritores radicados na Irlanda passaram a dirigir-se a um público global, com narrativas mais cosmopolitas e autorreflexivas. John Banville, Colm Tóibín, Anne Enright, Roddy Doyle e Patrick McCabe foram amplamente reconhecidos. Assim como Francis Stuart, Aidan Higgins e Sebastian Barry, eles trabalharam com estratégias derivadas de Joyce, Flann O’Brien e Beckett, produzindo uma obra experimental, intimista e inovadora, transformando ideias de pertencimento e senso de identidade. Nas décadas de 1980 e 1990, Dermot Bolger e Roddy Doyle abordaram os contrastes e conexões entre a Irlanda atual e um passado imaginado, retratando a vida urbana e suburbana no presente – respondendo a filmes e ao rock e dando maior visibilidade à sexualidade na Irlanda.

A década de 1990 e o início do século XXI viram um retorno do gótico. A tradição de Sheridan Le Fanu e Bram Stoker inspirou escritores, como Anne Enright, a trazer de volta a história de fantasmas e a sensação de ser assombrado ou deslocado. Essas obras movem a ação para paisagens surreais ou fantásticas, como os romances noir da série de ficção policial psicológica de Banville (sob o pseudônimo de Benjamin Black) e os livros de literatura fantástica infantil de Eoin Colfer, best-sellers no Brasil. As narrativas de Emma Donoghue ampliaram as fronteiras tanto de gênero quanto de nação. Nesse aspecto, outras mulheres poetas e escritoras de ficção indelével incluem Eavan Boland, Eiléan Ní Chuilleanáin, Moya Cannon, Claire Keegan, Nuala Ní Chonchúir, Éilís Ní Dhuibne, Paula Meehan e Mary O’Donnell. Marian Keyes e Cecelia Ahern, deve-se ressaltar, estão entre os autores irlandeses mais vendidos no Brasil.

O boom do “Tigre Celta”, nas décadas de 1990 e 2000, foi importante na construção da história da Irlanda por meio da literatura. Na Irlanda do Norte, Glenn Patterson escreveu uma ficção assombrosa sobre a violência pública e privada no Norte. Roddy Doyle, Joseph O’Connor, Sebastian Barry, Lia Mills, Mary Morrissy, Síofra O’Donovan e John Boyne escreveram meditações sobre o passado irlandês, visto através da experiência de excluídos e grupos marginalizados. Questões de emigração e imigração aparecem na obra de Frank McCourt, Colm Tóibín, Colum McCann e Hugo Hamilton.

As mudanças econômicas provocadas pelo “Tigre” desencadearam um fluxo de imigrantes, inaugurando uma nova Irlanda multicultural. Outrora um país de emigrantes, a Irlanda tornou-se uma utopia para imigrantes e requerentes de asilo, o que suscitou um novo debate e uma nova agenda que transformou a própria noção de irlandesidade. A produção literária recente é sustentada por questões de marginalidade, etnia e raça. Nas últimas décadas, escritores como Melatu Uche Okorie (nascida na Nigéria) e Adiba Jaigirdar (Bangladeshi-irlandês) ganharam bastante visibilidade pública.

Hoje, as vozes de uma nova geração de escritores irlandeses – incluindo Neil Hegarty, Kevin Power, Niamh Campbell, Colin Barrett, Donal Ryan, Naoise Dolan, Louise Nealon, Sally Rooney, Eimear McBride, Jessica Traynor, Emilie Pine e Sinéad Gleeson – estão também sendo ouvidas deste lado do Atlântico. Ecoando o poema “Scaffolding”, de Seamus Heaney, novas formas literárias imaginárias estão sendo testadas para a consolidação das pontes entre a Irlanda e o Brasil – e “[n]ós podemos deixar os andaimes cair/ Confiantes de que construímos nosso muro”.