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Modernos Contos

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Modernos Contos

Modernos Contos

“Há, com efeito, na mulher, certos encantos que só o homem pode dar. Nada mais poderoso para a beleza da mulher do que o amor. A mulher sem amante – amante no sentido de homem que a cultive no amor, podendo ser perfeitamente o marido... – é como a flôr sem perfume. Por mais completa que seja, tudo lhe falta. Faltam-lhe um certo brilho nos olhos, uma certa confiança no busto, um ‘que’ indefinido em toda a ondulação do corpo, alguma cousa de sonoro nas palavras, algum veludo na expressão, um ligeiro umedecimento nos lábios, um complemento em suma, às vezes insignificante, mas que tem o formidável prestígio de fazer da mulher sem característicos, a mulher verdadeira – objeto de prazer e de afeição. O meu ‘cisne branco’ estava nesse caso. Suas asas eram lânguidas demais, seu pisar era de ave por demais linda, sua voz era demasiadamente quente, rica, úmida e emotiva, para que lá em cima, nas alturas, onde o céu é muito azul e o gozo é infinito, uma outra ave mais feia, mais preta e mais robusta não a tivesse agarrado para um vôo longinquo, para um vôo de esquecimento e de beleza, lá em cima, lá muito em cima, lá nas alturas onde o céu é muito mais azul e o gozo muito mais infinito... Aquela mulher devia ter um homem.” Págs. 10-11