BNDigital

Quando Eu Era Vivo

< Voltar para Exposições virtuais

Quando Eu Era Vivo

Quando Eu Era Vivo

Neste livro, misto de memorial e diário, Medeiros e Albuquerque vai ao extremo do personagem dandy, com suas múltiplas faces.
O autor era personagem preferencial da imprensa carioca:

Teve sua fase de gostos bizarros, de vestimentas surpreendentes, mas evoluiu, tornou-se uma das mais potentes mentalidades do país inteiro, um fogoso e temível jornalista e suas bizarrices de ontem se transformam em um gosto pronunciado pelos perturbadores mistérios do ocultismo. E veja como um homem de espírito se declara governado pelos espíritos! Afinal, não é, ele mesmo um Imortal? ass. Chambrenoir. Fon-Fon, 6 de Julho, 1907. Texto original em francês, tradução nossa.


Eu não fui, de modo algum, menino-prodígio. Nem menino, nem homem. Mas aos quatro anos de idade sabia ler perfeitamente bem. Isso provava, não o meu talento, mas o talento e o carinho de minha mãe, que, com cubos e cartões, em que havia letras e sílabas, brincando, ensinou-me alegre e rapidamente o que para tantos é de uma aprendizagem longa e laboriosa. Dizia-se de mim aos quatro anos, quando me queriam elogiar, que eu já lia o ‘Jornal do Comércio’. Não sei si foi esse envenenamento precoce que me levou para o jornalismo... Aquela afirmação era, porém, feita porque o tipo do ‘Jornal do Comércio’, sendo extremamente pequeno, a sua leitura oferecia mais dificuldades que a dos outros jornais. Mas de que não deixava por isso de ser um patetinha infantil, como os da minha idade, dei bem a prova, quando, pela primeira vez, li uma novela. Lembro-me que se chamava – O menino da mata e o seu cão Pilôto. Gostei tanto do livro, que me ocorreu uma idéia genial; escondi o volumezinho, dizendo que o tinha perdido, para que meu pai comprasse outro exemplar. E quando ele fez isso, exibi, triunfante, a prova da minha tolice... Em todo caso, quando aos 9 anos quis entrar, não para a primeira, mas para a segunda série do curso do Colégio Pedro II, precisei dar documentos falsos, envelhecendo-me de um ano, porque aos 9 anos só poderia matricular-me na primeira série.
Pág. 18