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Fundação Biblioteca Nacional

A Representa��o Cartogr�fica no Brasil Colonial
na Cole��o da Biblioteca Nacional

Texto: Maria Dulce de Faria
Revis�o: Isa Adonias

Introdu��o

A documenta��o cartogr�fica da Biblioteca Nacional come�ou a ser  formada em fins do s�culo XVIII, ao ser criada em Lisboa a Real Biblioteca, mais tarde transferida para a cidade do Rio de Janeiro, no per�odo da vinda da Corte Portuguesa para o Brasil. Seu acervo cresceu atrav�s dos tempos, mediante aquisi��es de importantes cole��es particulares e de exemplares originais em livrarias especializadas, constituindo, hoje, um rico patrim�nio de imagens do Mundo, no todo e em suas partes. Ele inclui alguns milhares de mapas, vistas e planos [1] avulsos, manuscritos e impressos, e outros tantos anexos a documentos hist�ricos ou inseridos em livros e op�sculos raros, al�m das centenas de Atlas reais e fact�cios, n�o raro truncados � material esse que se encontra disperso em v�rias �reas da Biblioteca Nacional: Cartografia, Manuscritos, Iconografia e Obras Raras.

Antiguidade

A Biblioteca Nacional possui uma documenta��o hist�rica, que remonta � cartografia da Antiguidade Cl�ssica, contida em obras impressas a partir do s�culo XV. Dentre estas merecem destaque: a Geografia de Estrab�o (58-25 a.C.), editada em 1494, 1539, 1557, 1571, 1587, e 1707; Bellum Catilinae de Salustio (ca.86-ca34 a.C.); editada em 1491, 1518, 1519, 1531; Pharsalia de Lucano (ca.39-65), editada em 1479, 1486, 1492, 1519, 1542, 1560, 1578; a Geografia de Ptolomeu (s�culo II), redescoberta no Renascimento, que ser� abordada nesse per�odo; Historiarum adversum paganos de Paulus Orosius (fl.385-417) editada em 1542 e 1561; os Commentarii in Somnium Scipionis de Ambr�sio Teodosio Macr�bio (ca.395-436), editada em 1492, 1501, 1515, 1519, 1524 e 1535.

A cartografia do per�odo romano deu �nfase � representa��o dos itiner�rios de estradas e caminhos, mas s�o poucos e fragmentados os registros que escaparam da destrui��o. Um dos poucos de que se tem conhecimento � a c�pia no s�c. XIII, de um original do s�culo VI, denominada Tabula itineraria Peutigeriana. Conforme algumas fontes, o mapa teria sido elaborado no s�culo I, copiado ca. 250 e recebido alguns acr�scimos entre os s�culos IV e VI. A Biblioteca Nacional possui a edi��o fac-similar de 1824, com o pref�cio assinado por Fridericus Thiersch.

Idade M�dia

Na Idade M�dia foi dominante a influ�ncia exercida pela Igreja romana crist�, principalmente do s�culo IV ao XV, per�odo em que a cartografia terrestre desenvolveu-se, de in�cio, como suplemento ilustrativo de textos lit�rgicos (missais, psalt�rios), de livros sagrados (b�blias) e trabalhos de cunho hist�rico-geogr�fico. O tipo preferido de representa��o foi a imagem do Mundo em mapas-m�ndi circulares, ditos Mapa da roda ou Mapa T-O, inclu�dos em in�meras obras medievais que foram reescritas dezenas e centenas de vezes pelos copistas no sil�ncio dos mosteiros e igrejas. Al�m dessa esp�cie de ilustra��o, algumas obras inclu�ram, tamb�m mapas regionais e itiner�rios de caminhos, principalmente os que levavam � Terra Santa. O Mapa T-O, de forma circular, � dividido em tr�s partes, conciliadas na triparti��o crist�, com a id�ia b�blica da divis�o do Mundo pelos tr�s filhos de No� (G�nesis). A �sia ocupa a metade superior do espa�o figurado (Sem, primog�nito), a Europa (Jafet, terceiro filho) abrange a metade inferior, � esquerda, e a �frica (Cam, o segundo filho) a outra metade inferior, � direita. O modo como o mundo � disposto forma um T, � direita , constitu�do pelos rio Nilo e � esquerda pelo Don, no sentido horizontal e no meio pelo Mar Mediterr�neo, no sentido vertical. O Oriente est� situado na parte superior, de onde vem a palavra orienta��o. Exemplos de Mapa T-O � o de autoria de Santo Isidoro, Bispo de Sevilha (ca.560-635) inclu�do num c�dice [2] Etymologiae, que foi publicado pela primeira vez em 1472. Existe na Biblioteca Nacional uma edi��o de 1483.

Outro exemplo de documento cartogr�fico deste per�odo, tamb�m existente na Biblioteca, � a Sphaera mundi, de Joannes Sacro Bosco (fl.1250), com suas edi��es de 1513, 1537, 1543, 1550, 1551, 1557, 1568, 1559 e 1562.

Aos poucos, por�m, a cartografia foi deixando de ser mero complemento ilustrativo de livros, passando a ser produzida de forma independente, com o aparecimento dos primeiros esp�cimes avulsos, alguns de grandes dimens�es. Entre eles se destacam os mapas-m�ndi conhecidos como Ebstorf [3] (ca. 1235), Hereford [4] (ca. 1290) e o de fra Mauro (m. 1459). Existe na Biblioteca uma reprodu��o deste �ltimo, que faz parte da obra Il mappamondo di Fra Mauro, Camaldolese de autoria de Placido Zurla, publicada em 1806.

No final do s�culo XIII e durante o s�culo XIV, surgem as cartas-portulanos.  Estas eram destinadas �s navega��es no Mar Mediterr�neo e ao longo das costas ocidentais da Europa. A Biblioteca Nacional n�o possui as originais.

Renascimento

No Renascimento a cartografia tomou um impulso significativo. Isto se deve �s novas descobertas da imprensa, da t�cnica de grava��o (xilogravura e gravura em metal), ao aperfei�oamento de instrumentos astron�micos (a b�ssola, o quadrante etc), � cria��o da Escola de Sagres, �s navega��es ultramarinas (descobertas de novas terras) e � redescoberta da Geografia de Ptolomeu. 

Cl�udio Ptolomeu, ge�grafo, astr�nomo e matem�tico alexandrino, viveu no s�culo II, foi autor de duas grandes obras: Composi��o matem�tica ou Almagesto, estudo sobre astronomia, e Geografia ou Cosmografia, manual com instru��es para a elabora��o de mapas, uso de proje��es e uma enorme lista de coordenadas geogr�ficas (latitudes e longitudes).

A Geografia de Ptolomeu foi conservada pelos �rabes e introduzida no ocidente durante a Idade M�dia. Com a sua total recupera��o impulsionou grandemente a cartografia, deixando de lado a vis�o patr�stica do mundo medieval, atraindo estudiosos e interessados na arte e na ci�ncia. Escrita em grego, sua primeira tradu��o para o �rabe foi no s�culo IX e para o latim, em c�dice, em 1406. Com o advento da imprensa, no �ltimo quartel do s�culo XV, foram publicadas oito edi��es em vers�o incun�bula[5], sendo seis com mapas. A Biblioteca Nacional possui a edi��o de 1486, publicada em Ulm (Alemanha). No s�culo XVI, foram publicadas 30 edi��es da Geografia. Estas edi��es tiveram acr�scimo de cartas relacionadas �s novas terras descobertas. Existem na Biblioteca Nacional 13 destas edi��es, incluindo a edi��o de 1513, que foi dedicada ao Novo Mundo, intitulada Tabula terre noue, conhecida como Carta Atl�ntica. Al�m destas edi��es, Cornelis Wytfliet publicou a obra Descriptionis Ptolemaicae Augmento, em 1597, significando um acr�scimo das terras do Novo Mundo, n�o registradas por Ptolomeu. Por isso, � considerado o primeiro atlas americano. A Biblioteca Nacional det�m um exemplar desta edi��o.

A cartografia no Brasil Colonial

O grande marco das navega��es portuguesas se deu primeiro com a tomada do Ceuta[6] aos �rabes, em 1415. Em seguida, rumando ao Oriente, os portugueses alcan�aram terras nas costas africanas, nas ilhas oce�nicas, no litoral brasileiro.

Com rela��o �s descobertas portuguesas, a Biblioteca Nacional mant�m sob sua guarda cartas referentes aos territ�rios de Portugal, das suas col�nias e das conquistas no Ocidente e no Oriente, entre os s�culos XVI e XVIII. Dentre elas distinguem-se: o volume Mappas do Reino de Portugal e suas conquistas, reunidos por Diogo Barbosa Machado; Mapas de Manuel Godinho de Er�dia como  Plantas de pra�as das conquistas de Portugal : feytas por ordem de Ruy Louren�o de Tavora Vizo rey da �ndia, Nova tavoa geographica da tera do sertam de Malaca,  Nova tavoa hydrographica do mar de novas teras do sul, Austr�lia, onde mostra trecho da costa  deste territ�rio visto inicialmente pelos portugueses, em 1601; al�m de cartas de Angola, Mo�ambique, �ndia, Ilha de Santa Helena[7] , a planta mais antiga de Funchal[8], elaborada por Mateus Fernandes, em 1570. etc.

S�culo XVI

A primeira representa��o cartogr�fica do Brasil aparece no planisf�rio de Juan de la Cosa, de 1500, mostrando a Costa Norte at� as proximidades da Ponta do Mucuripe (Cear�), cujo tra�ado revela conhecimento que se prendem � viagem de Vicente Ya�ez Pinz�n.

Quanto aos documentos cartogr�ficos portugueses que retratam o Brasil, o primeiro foi o denominado Planisf�rio de Cantino, existente na Biblioteca de Estense, em M�dena (It�lia). Foi elaborado em 1502 por um cart�grafo portugu�s an�nimo, que se baseou no padr�o real [9]. O trabalho foi realizado mediante suborno praticado por Alberto Cantino, agente italiano, a servi�o de H�rcules d�Este, Duque de Ferrara, que por ele pagou 12 ducados de ouro. A Biblioteca Nacional possui parte referente ao Ocidente, numa reprodu��o impressa do s�culo XX.

O Brasil foi tamb�m representado na cartografia alem�, portuguesa e italiana, no in�cio do s�culo XVI, como, por exemplo, o planisf�rio de Waldseem�ller, de 1507, existente na Biblioteca do Congresso, em Washington. A Biblioteca Nacional possui o fac-s�mile datado de 1903.

Ainda do in�cio do s�culo XVI, existem outras cartas importantes que mostram o Brasil entre as costas do Rio Grande do Norte e S�o Paulo. Esta �rea geogr�fica � representada nas cartas do genov�s Nicolo di Caverio, ca.1503 e 1504, de Kunstman III[10], tamb�m com a data da mesma �poca, e outro genov�s Vesconte Maggiolo, de 1504. A primeira e a segunda cartas n�o fazem parte da Biblioteca Nacional.

Uma carta que se deve salientar � o planisf�rio de Pir� Reis de 1513, existente no Pal�cio Topkapi, em Istambul, do qual se conhece apenas a metade ocidental representando as Antilhas, o leste da Am�rica do Sul, e o noroeste da �frica e da Europa. H� nela figura��es m�ticas como o unic�rnio e criaturas ac�falas, ou ainda lend�rias, como a de S�o Brand�o que, em sua viagem pelo Atl�ntico, teria ancorado em cima de uma baleia. Na costa oriental brasileira aparecem pela primeira vez duas localidades: Cabo Frio (kav Fryio) e Rio de Janeiro (Sano Saneyro). Pir� Reis era almirante, cart�grafo e sobrinho de Kemal Reis, almirante turco cujos navios operavam em a��es de corso no Mar Mediterr�neo e na costa atl�ntica do noroeste africano. Pir� Reis conseguiu informa��es sobre o Novo Mundo atrav�s de navegadores espanh�is e portugueses que foram aprisionados. A Biblioteca Nacional possui um fac-s�mile de 1966.

As primeiras denomina��es dadas ao Brasil, encontradas em alguns mapas e fac-s�miles, que pertencem � Biblioteca Nacional, foram: Terra de Vera Cruz, Terra de Santa Cruz, Terra dos Papagaios (Planisf�rio de Waldseem�ller, 1516), Terra Inc�gnita (aparece na Carta Atl�ntica da Geographia de Ptolomeu de 1513), Bras�lia (mapas de Bertius), Antrop�fagos (Planisf�rio de Pedro Apiano)  e Brasil. Concorrendo com a denomina��o Terra de Santa Cruz, registrada em alguns mapas at� o s�culo XVIII, a de Brasil aparece desde o s�culo XVI. Exemplos destas denomina��es s�o encontradas nas cartas de Paolo Forlani, Gastaldi, Blaeu etc. 

Durante o s�culo XVI, surgiram grandes cart�grafos portugueses, como Lopo Homem, Pedro e Jorge Reinel, Sebasti�o Lopes, L�zaro Lu�s, Fern�o Vaz Dourado, Diogo Homem, Bartolomeu Velho, Bartolomeu Lasso e outros que retrataram o Brasil.

Uma carta importante desse per�odo � a Tabula hec regionis magni Brasilis, ou Terra Brasilis, atribu�da aos cart�grafos Lopo Homem, Pedro e Jorge Reinel, que faz parte do conhecido Atlas Miller, ca. 1519, pertencente � Biblioteca Nacional de Fran�a. Ela representa o escambo do pau-brasil no s�c. XVI, sendo considerada a primeira carta econ�mica do Brasil e a primeira imagem do desmatamento no Pa�s. A Biblioteca Nacional possui uma reprodu��o, que faz parte da obra A mui leal e her�ica cidade do Rio de Janeiro, editada em 1965. Al�m disso, ela aproxima a configura��o da costa brasileira com a atual. Outro exemplo de carta que possui esta aproxima��o � o mapa-m�ndi atribu�do a Jorge Reinel, reproduzido no Kunstman IV.

N�o existe na Biblioteca Nacional a documenta��o cartogr�fica portuguesa manuscrita sobre o Brasil no s�culo XVI. Por�m, muitos destes mapas foram copiados por cart�grafos italianos, franceses e holandeses e gravados suas firmas. Dentre eles, citam-se Gerardus Mercator, autor da famosa proje��o de Mercator, Abraham Ortelius, autor do primeiro atlas Theatrum Orbis Terrarum, publicado em 1570 etc. A Biblioteca Nacional possui as outras edi��es do Theatrum Orbis Terrarum de Ortelius, em latim (1575, 1579, 1584,1612), espanhol (1588) e italiano (1598). As edi��es em latim de 1579 e 1612 incluem o Parergon[11]

Al�m das cartas portuguesas gravadas por cart�grafos europeus, o acervo da Biblioteca Nacional cont�m os seguintes documentos do s�culo XVI: carta de um cart�grafo de Verona, como Paulo Forlani , mapa do Brasil, mostrando a explora��o do pau-brasil pelos franceses, (elaborado por Giacomo Gastaldi; faz parte do terceiro volume do livro Navigationi et viaggi de Giovanni Battista Ramusio), mapas do Brasil, que fazem parte das edi��es da Geografia de Ptolomeu publicadas neste s�culo, mapas mostrando o per�odo do dom�nio franc�s no Rio de Janeiro, como a carta de Jean de Lery e os documentos que fazem parte da obra La cosmographie universelle de Andr� Thevet. 

A Biblioteca Nacional possui, tamb�m, fac-s�mile do Roteiro de todos os sinais, conhecimentos, fundos, baixos, alturas e derrotas que ha na costa do Brasil desde o cabo de Santo Agostinho ate ao estreito de Fernao de Magalhaes , de Lu�s Teixeira, ca.1586 e editado em 1988, que consta de um mapa do Brasil, dividido em capitanias e mapas parciais da costa.

A Regi�o Norte, com o tra�ado serpenteado do rio Amazonas, representada na cartografia desde o s�culo XVI, figura em mapas at� o s�culo XVII. Nas viagens de navega��o por este rio, sob os comandos de Francisco Orellana (1542) e Pedro Ursua (entre 1560 e 1561), surgiu o mito expansionista do El Dourado. O nome Amazonas foi dado pelo capel�o da viagem de Orellana, Gaspar de Carvajal, que falou da exist�ncia de mulheres guerreiras �s margens do rio. 

S�culo XVII

Com a Uni�o Ib�rica (1580-1640), holandeses, ingleses e franceses passaram a invadir o litoral nortista e nordestino, obrigando os portugueses a defender a col�nia. Como resultado, estes conquistaram, constru�ram fortifica��es e fundaram algumas cidades na Regi�o Nordeste. Exemplo de mapa deste per�odo � o de Ant�nio Sanches

Nessa �poca, a coroa filipina[12] permitiu aos luso-brasileiros ultrapassar os limites estabelecidos pelo Tratado de Tordesilhas[13], avan�ando em dire��o � foz do delta amaz�nico, onde eles fundaram em 1616, junto � Ba�a de Guajar�, o Forte do Pres�pio, origem da cidade de Nossa Senhora de Bel�m, sede da nova Capitania do Gr�o Par�. A seguir, expandiram-se na dire��o oeste e norte, empenhando-se em lutas para expulsar os invasores holandeses e franceses que haviam ocupado alguns pontos da regi�o.

Os epis�dios da conquista inicial da Amaz�nia foram registrados no mapa Discripc�o dos Rios Para Curupa e Mazonas de Ant�nio Vicente Cochado, datado 1623, e, tamb�m, no Pequeno Atlas do Maranh�o e Gr�o-Par� atribu�do a Jo�o Teixeira Albernaz I.

No �ltimo quartel do s�culo XVI e na primeira metade da cent�ria seguinte, os holandeses come�aram a atacar as col�nias portuguesas, principalmente em Pernambuco e Bahia.

A primeira investida foi a invas�o da Bahia entre 1624 e 1625 (mapa1), (mapa2) (mapa3),  mas foram expulsos pelo comando de d. Fradique de Toledo Os�rio, Marqu�s de Vilhanueva de Valduesa.  Em seguida, os batavos ocuparam Pernambuco entre 1630 e 1654, quando foram combatidos pelas tropas luso-brasileiras. A expans�o do dom�nio holand�s chegou at� o Norte, Maranh�o, e ao sul, at� Sergipe. Invadiram, tamb�m, as col�nias de S�o Tom� e Angola, no Continente Africano, com a finalidade de trazer m�o-de-obra para os engenhos de a��car no nordeste brasileiro. A Biblioteca Nacional conta com dois mapas deste per�odo: um que faz parte da obra impressa Istoria delle guerre del regno del Brasile  de frei Jo�o Jos� Maria de Santa Teresa, datado de 1698,  e outro manuscrito intitulado Descrip�am da Barra do Reino de Angola, de 1626.

A cartografia e a iconografia s�o vast�ssimas neste per�odo, devido � vinda de artistas (Franz Post e Albert Eckhout), cientistas (Willhelm Piso e Georg Marcgrave) cart�grafos e engenheiros (Pierre Gondreville, Cornelis Bastiaanszoon Golijath, Hendrik van Berchem, Tobias Commersteijn, Pieter van Bueren, Sicke de Groot, Sems, Andrea Drewisch, David van Orliens,) e arquiteto (Pieter Post), que acompanharam Maur�cio de Nassau (Johann Mauritius van Nassau-Siegen) no Brasil. Do outro lado do Atl�ntico, por sua vez, editores  e cart�grafos renomados retratavam o per�odo holand�s no Brasil, como Joan Blaeu, Henricus Hondius, Nicolaes Visscher, Pierre Mortier etc. Sobre o mesmo tema eram publicadas not�veis obras de cunho hist�rico-geogr�fico com farta documenta��o cartogr�fica e iconogr�fica da autoria de Gaspar Barlaeus, J, Laet, Arnoldus Montanus, F. Plante e Pieter van der Aa e outros. Existem na Biblioteca Nacional 35 cartas digitalizadas sobre este assunto.

A obra Mapa de Isa Adonias, relaciona as categorias da cartografia holandesa, segundo K. Zandvliet, em:

�--Cartas hidrogr�ficas, resultantes de levantamentos costeiros; exemplos: Brasilysch Paskaert de Vingboons, Zee-Fakkel de Johannes van Keulen; 

-- cartas topogr�ficas, representando levantamentos terrestres;

-- plantas de cidades e desenhos de engenharia � s�rie de cartas referentes a Recife e cidade Maur�cia, (Perfect Caerte der Gelegen theyt van Olinda de Pharnambuco Mauritsstadt ende t'Reciffo de Cornelis Goliath, de 1648) 

-- Mapas de not�cia (new maps) � um misto de cen�rios cartogr�ficos e reportagens de longo texto, na mesma folha, registrando etapas da conquista holandesa em v�rios locais do Nordeste. Tais mapas destinavam-se a manter o p�blico informado sobre as a��es da Companhia das �ndias Ocidentais, criada em 1621, para agir na costa oeste da �frica, em toda a Am�rica e no pac�fico.� Exemplo s�o as cartas de Visscher.

A cartografia portuguesa tamb�m abrangeu o Brasil, no s�culo XVII. Fazem parte do acervo da Biblioteca Nacional mapas de Jo�o Teixeira Albernaz I, considerado o maior cart�grafo portugu�s do s�culo XVII e filho de Lu�s Teixeira, Jo�o Teixeira Albernaz II, seu neto � outro grande cart�grafo, Pedro Nunes Tinoco e Antonio Vicente Cochado. Existem indica��es de fortalezas em alguns desses documentos.

Uma carta representando a Amaz�nia no final do s�culo XVII, considerada de grande import�ncia, � a que mostra a viagem do jesu�ta alem�o Samuel Fritz pelo rio Solim�es, em 1687. Ligado aos mission�rios inacianos[14] espanh�is, ele pretendia se expandir pelo rio Solim�es. Sem sucesso, retornou ao Peru por ordem do Governador Ant�nio de Albuquerque Coelho de Carvalho, em 1691. Neste mesmo ano, elaborou o Mapa Geographico Del Rio Mara�on o Amazonas..., existente na Biblioteca Nacional de Fran�a. Por�m, o mapa, que ficou conhecido foi El gran rio Mara�on o Amazonas, gravado em metal pelo padre Juan de Narvaez, em Quito, 1707. Nele se encontram informa��es sobre vilas, povoa��es, aldeias, na��es ind�genas, minas e trilhas. A Biblioteca Nacional possui o referido mapa. 

S�culo XVIII

No final do XVII e na primeira metade do XVIII, surgiu na Regi�o Sudeste a expans�o dos bandeirantes e entradistas rumo ao interior do Brasil. Os principais pontos de dispers�o de irradia��o desse movimento foram: S�o Paulo (chamados de bandeirantes), Rio de Janeiro, Esp�rito Santo e Bahia. Estes sertanistas, a princ�pio, tinham como finalidade o apresamento dos �ndios, mas com a descoberta do ouro nas Minas Gerais, em 1668, passaram a se interessar pela busca de riquezas minerais. Mais tarde, descobriram ouro na Regi�o Centro-Oeste nas seguintes localidades: foz do rio Miranda (antigo rio Mbotete�, no Estado do Mato Grosso do Sul), em 1718, em Cuiab�, em 1725, e depois nas margens do rio Vermelho, afluente do rio Araguaia, situado perto da cidade de Goi�s (Estado de Goi�s). A expans�o aur�fera ia do Alto Jequitinhonha e rio Doce, em Minas Gerais, e at� as margens do rio Guapor�, no atual Estado de Rond�nia, e abrangia tamb�m no norte de Goi�s, atual Estado de Tocantins. A Biblioteca Nacional possui um conjunto representativo de mapas denominados pelo pe. Diogo Soares de cartas sertanistas, conforme o livro Hist�ria do Brasil nos velhos mapas, de Jaime Cortes�o. S�o esbo�os tra�ados a l�pis ou a pena, sobre papel de qualidade inferior, sem ornamentos, quase sempre esquematizados, e referentes �s novas descobertas territoriais ou regi�es economicamente valorizadas.

Algumas destas cartas sertanistas mostram as duas vias de comunica��o entre o Rio de Janeiro e as Minas de Ouro, atual Estado de Minas Gerais, chamadas de Caminho Velho e Caminho Novo. O primeiro se fazia por Parati e Taubat�, o segundo, descoberto a partir de 1698 e aberto em 1704, tinha in�cio no Porto de Estrela, no Rio de Janeiro e ia direto para Minas Gerais. (mapa) 

Est�o localizadas tamb�m, nas citadas cartas, as redu��es jesu�ticas destru�das pelos bandeirantes, entre 1632 e 1648. Desde o final do s�culo XVI, as miss�es inacianas vinham se expandindo pelo territ�rio que se tornaria brasileiro (Regi�es Sul e Centro-Oeste), tendo Assun��o, no Paraguai, como foco irradiador. Essa expans�o foi detida pelos bandeirantes ao destru�rem Guair�, Itatim e Tapes. Ao primeiro n�cleo pertencia Ciudad Real e Vila Rica, abandonadas em 1632. (mapa)

Com rela��o �s antigas miss�es jesu�ticas, existem na Biblioteca Nacional  v�rias plantas e mapas, que pertenceram �s Cole��es Pedro de Angelis, Morgado de Mateus e outras.  Sobre o mesmo tema, a Biblioteca possui tamb�m alguns mapas gravados no Atlas Mayor ou Geographia Blaviana, editados por Joan Blaeu, no s�culo XVII 

Cartas que despertam interesse s�o as que representam as mon��es, designa��o dada �s expedi��es feitas entre as Capitanias de S�o Paulo e Mato Grosso, rumo a Cuiab�, vila que concentrava denso povoamento. Os bandeirantes formavam comboios de canoas em Araritaguaba, (atual Porto Feliz, situada �s margens do rio Tiet�, no atual Estado de S�o Paulo). Desciam este rio e o Paran�, subiam o Pardo e o Anhandu� (Estado do Mato Grosso do Sul). Depois atravessavam por terra, a regi�o da Vacaria para atingir o Rio Miranda (Mato Grosso do Sul), por onde navegavam at� o Paraguai para chegar � cidade de Cuiab� (Mato Grosso). Outra op��o era a descida pelos rios Tiet� e Paran� (S�o Paulo), a subida pelo rio Pardo (entre os Estados de S�o Paulo e Mato Grosso do Sul) e a travessia de varadouro do Camapuan, na Serra de Amamba�, no Estado de Mato Grosso do Sul. Em seguida, os viajantes baixavam os rios Coxim, Taquari (Mato Grosso do Sul) at� o rio Paraguai, por onde prosseguiam a viagem rio acima at� chegar aos rios S�o Louren�o (antigo Porrudos, em Mato Grosso) e Cuiab�. 

A Biblioteca Nacional possui um c�dice intitulado Plano em borr�o de todos os rios, e todas as caxueyras, e todas as cousas mais notaveis que vi desde o Porto de Araraytaguaba at� a povoa��o de Guatemy..., de Teot�nio Jos� Juzarte, que mostra detalhadamente a jornada da expedi��o.

Al�m destas cartas, existe outra da �poca em que foi institu�da a Capitania de S�o Paulo e Minas Gerais, 1709-1720, intitulada Mapa das Minas do Ouro de S. Paulo, e a costa do mar que lhe pretence [sic], datada 1714.

Os sertanistas descobriram tamb�m que a Lagoa de Xarayes (assim denominada pelos espanh�is) era uma regi�o pantanosa. A express�o Lago ou Lagoa dos Xarayes permaneceu numa boa parte da cartografia europ�ia at� meados do s�culo XVIII, exceto na portuguesa, onde a denomina��o preferida foi Lagoa Eupana, atual Pantanal Matogrossense. (mapa)

Em 1680, nas margens do rio da Prata, foi fundada a Col�nia do Sacramento, aumentando a expans�o do dom�nio para o Sul (mapa 1 mapa 2). Como conseq��ncia, iniciou-se o povoamento do Rio Grande do Sul, com a imigra��o lagunense e a�oriana. Fundaram-se dois n�cleos, em 1737, pres�dio Jesus-Maria-Jos� e Vila do Rio Grande de S�o Pedro. No interior do Estado, foram criados outros dois locais: Viam�o e Porto dos Casais, a atual cidade de Porto Alegre.

A ocupa��o no Paran� se deve em parte � abertura da estrada Viam�o-Sorocaba, que tinha como finalidade transportar o gado do Rio Grande do Sul para Sorocaba, em S�o Paulo para abastecer aos exploradores de riquezas minerais de Minas Gerais. Existem algumas cartas indicando este caminho, da Cole��o Morgado de Mateus, que est� na Biblioteca Nacional

Na regi�o Sudeste, a cidade do Rio de Janeiro foi tomada novamente pelos franceses, entre 1710 e 1711, sob o comando de Du Clerc e Du-Guay Trouin. Este saqueou a cidade e, ao retirar-se para a Fran�a, exigiu, como pagamento do resgate, 610 mil cruzados, 500 caixas de a��car e 200 bois necess�rios para o abastecimento da esquadra.A Biblioteca possui uma edi��o francesa do s�culo XVIII sobre este epis�dio, intitulada Recueil des combats de Du Guay-Trouin...

No final do s�culo XVII, come�ou a tomar impulso a cartografia francesa, com a funda��o da Academia Real das Ci�ncias por Colbert, em 1666, e a constru��o de observat�rio astron�mico em Paris. No s�culo XVIII, a cartografia francesa predominava. Os cart�grafos deste per�odo foram: Giovanni Dom Domenico Cassini, Nicolas Sanson, Guillaume Sanson, filho de Nicolas, Nicolas de Fer, Philippe Buache, Guillaume de L�Isle, Jean Baptiste Bourguignon d�Anville, autor de uma das melhores cartas do s�culo XVIII representando a Am�rica do Sul, intitulada Amerique Meridionale,  publicada em 1748.

Guillaume de L�Isle recebeu o t�tulo de Primeiro Ge�grafo do Rei, na Fran�a, e teve um papel preponderante na quest�o de fronteiras entre os dom�nios portugu�s e espanhol na Am�rica do Sul. L�Isle mostrou que os portugueses cometiam erros de c�lculos das longitudes nos mapas, desde o s�culo XVI, colocando o rio da Prata no hemisf�rio portugu�s. Esta demonstra��o foi apresentada atrav�s do seu trabalho Determination g�ographique de la situation et de l��ntendue des diff�rentes parties de la Terre, na Academia Real de Ci�ncias, em 1720. A Biblioteca Nacional possui duas edi��es da carta intitulada Carte D'Amerique, de 1733 e 1763. (mapa - 1733) (mapa - 1763) 

Portugal resolveu, ent�o, contratar dois padres matem�ticos Diogo Soares (1684-1748), portugu�s, e Domingos Capassi (Domenico Capacci ou Capasso, italiano, 1694-1736), com a miss�o �de fazerem mapas do territ�rio brasileiro, n�o s� pela marinha, mas pelos sert�es, com toda a distin��o, para que melhor se assinalem e conhe�am os distritos de cada bispado, governo, Capitania, Comarca...�, segundo declarava o Alvar� de 18 de novembro de 1729. Eles trabalharam em conjunto e separadamente, mas o pe. Capassi faleceu em 1736, ficando a miss�o entregue apenas ao pe. Diogo Soares. O projeto final seria a apresenta��o do Novo Atlas da Am�rica Portuguesa. As opera��es de campo ent�o realizadas abrangeram o levantamento da Col�nia do Sacramento, de toda a costa Sul e Sudeste at� Cabo Frio, e de grande parte do interior, al�m da elabora��o de uma lista de coordenadas geogr�ficas (latitudes e longitudes, estas observadas segundo a nova metodologia, baseada na oculta��o dos sat�lites de J�piter), da reda��o de relatos e descri��es geogr�ficas, e da coleta de roteiros e mapas de sertanistas. A Biblioteca possui um mapa atribu�do ao pe. Capassi, que um mostra a rede hidrogr�fica do Brasil e o outro assinado por ele, que representa a Capitania do Rio de Janeiro

Em janeiro de 1750, foi assinado o Tratado de Madri, que estipulou novos limites entre as possess�es portuguesas e espanholas na Am�rica. Seus termos favoreceram as pretens�es de Portugal (artigo XIV), uma vez que reconheciam seu dom�nio sobre a extens�o territorial da Amaz�nia, das regi�es Centro-Oeste e Sul, conquistadas pelos colonizadores. A Espanha, por sua vez, tinha interesse em obter a Col�nia do Sacramento e o Territ�rio da Col�nia, o que foi confirmado no artigo XIII do referido Tratado. O novo acordo consagrava o princ�pio de uti possidetis, que significa o direito de propriedade, e institu�a a ado��o dos acidentes naturais conhecidos (rios, montanhas...) como balisas entre os dom�nios das duas na��es ib�ricas. Eliminava-se, assim, o Tratado de Tordesilhas. Serviu de base, nas negocia��es do Tratado um mapa, elaborado por um cart�grafo an�nimo, sob a orienta��o de Alexandre de Gusm�o. Intitulado Mapa dos confins com as terras da Coroa de Espanha Am�rica Meridional, ficou conhecido como Mapa das Cortes, por conter no verso as assinaturas e os selos dos Ministros Plenipotenci�rios das duas coroas. Foram feitas c�pias em portugu�s e em espanhol. A Biblioteca Nacional possui uma c�pia em portugu�s, de 1749, que deveria ter servido de modelo para a c�pia em espanhol, conforme Hist�ria do Brasil nos velhos mapas de Jaime Cortes�o.

Por�m, verificou-se que havia erros de longitude na representa��o cartogr�fica, favorecendo aos interesses de Portugal. Segundo Max Justo Guedes, a regi�o do �Alto Paraguai havia desviado para o leste entre quatro e sete graus, a extens�o do Rio Amazonas-Solim�es reduzida em tr�s graus e os  afluentes do mesmo rio, notadamente o Madeira e seu formador o Guapor�, e o Tocantins chegaram a ter desvios de nove graus�.

Em conseq��ncia deste tratado, foram organizadas duas comiss�es mistas (portuguesa e espanhola), uma para operar na regi�o setentrional e, outra, no Sul, cada uma subdvidida em tr�s partidas, respons�veis pela demarca��o dos limites em trechos bem definidos. A comiss�o mista do Sul, tinha por miss�o fazer o levantamento de demarca��o, desde Castilhos Grandes (atual cidade de Castillos, no Uruguai), na margem atl�ntica at� o Rio Jauru, no Paraguai. Foram seus comiss�rios Gomes Freire de Andrade, do lado de Portugal e Marqu�s de Val de L�rios, de Espanha. Suas tr�s subdivis�es trabalharam entre 1752 e 1759 com interrup��o de 1754 e 1756, devido � Guerra Guaran�tica. Dentre os participantes destacam-se do lado portugu�s: Jos� Cust�dio de S� e Faria, Jos� Fernandes Pinto Alpoim, Manuel Viera Le�o, Manuel Pacheco de Christo, Miguel �ngelo Blasco e Miguel Ant�nio Ciera. Eles elaboraram cartas, sendo algumas junto com a comiss�o espanhola. 

A Biblioteca Nacional possui uma s�rie de cartas digitalizadas de Jos� Cust�dio de S� e Faria referentes ao levantamento de demarca��o. 

Al�m das cartas de S� e Faria, a Biblioteca Nacional possui um trabalho de Miguel Antonio Ciera que foi doado ao Rei de Portugal, intitulado Mappa geographicum quo flumen Argentum, Paran� et Paraguay exactissime nune primum describuntur, facto inito a nova Colonia ad ostium usque fluminis iauru ube, ex pactis finuim regundorum... 1758 

As comiss�es mistas para o Norte, tamb�m subdivididas em tr�s partidas, tinham como chefes, Francisco Xavier de Mendon�a Furtado, irm�o do Marqu�s de Pombal, do lado portugu�s, e d. Jos� Iturriaga, do lado espanhol. Mais tarde Mendon�a Furtado foi substitu�do por d. Ant�nio Rolim de Moura, Conde de Azambuja, Governador de Mato Grosso e posteriormente vice-rei do Brasil. A primeira partida foi incumbida de fazer o levantamento do trecho entre a conflu�ncia dos rios Jauru e Paraguai e o curso m�dio do Madeira; a segunda, o tra�ado da linha paralela Madeira-Javari, e a terceira, Solim�es abaixo e Japur� acima, se encarregaria de estabelecer os limites pelas cordilheiras setentrionais at� a foz do Oiapoque no Atl�ntico. Participaram desta comiss�o: Ant�nio Jos� Landi, Jo�o Andr� Schwebel, Gaspar Jo�o Geraldo Gronsfeld, Ad�o Leopoldo Breunig, Henrique Antonio Galluzzi, Sebasti�o Jos� da Silva, Felipe Sturm e o pe. In�cio Sermatoni (Stenmartony). As comiss�es espanhola e portuguesa iriam se encontrar na aldeia de Mariu�, atual cidade de Barcelos, no Estado do Amazonas. Mas, n�o houve o encontro, e os trabalhos n�o foram realizados em conjunto. A comiss�o portuguesa ficou desempenhando o trabalho de reconhecimento geogr�fico nas margens do rio Negro, deixando uma produ��o cartogr�fica bastante apreci�vel.  Landi tra�ou planos de alguns edif�cios civis e religiosos em Bel�m, que hoje pertencem � Divis�o de Iconografia da Biblioteca Nacional.

Em 1761, foi assinado o Tratado de Pardo, que anulou o Tratado de Madri.  A partir da� come�aram as hostilidades dos colonizadores espanh�is no sul do Brasil e na fronteira ocidental. Alguns mapas existentes na Biblioteca Nacional, que retratam esta �poca s�o: Mapa da Ilha de Santa Catarina, com o canal e a terra firme de Jos� Cust�dio de S� e Faria e Plano da regi�o do Rio Itenes ou Guapor� e seus afluentes afluentes com a situa��o da fortaleza de Nossa Senhora da Concei��o dos Portugueses..., de Miguel Blanco Crespo. 

Em 1� de outubro de 1777, foi assinado o Tratado preliminar de Santo Ildefonso que estabeleceu novos limites entre as possess�es portuguesas e espanholas na Am�rica do Sul. Ao contr�rio do Tratado de Madri, cujos negociadores dispuseram do Mapa das Cortes, o governo espanhol e seus assessores t�cnicos n�o puderam utilizar o Mapa geografico de America Meridional de Juan de la Cruz Cano y Olmedilla, publicado em 1775, e gravado em oito folhas, que, apesar de minucioso e bastante exato para a �poca, n�o favorecia seus interesses. A Biblioteca Nacional possui dois exemplares entelados em 2 partes.

Para a execu��o deste Tratado, foram nomeadas quatro comiss�es mistas encarregadas de demarcar as fronteiras entre as col�nias espanhola e portuguesa na Am�rica do Sul. A primeira se estenderia do Chu� ao Igure� (Regi�o Sul); a segunda do rio Igure� ao Jauru (Regi�es Sul e Centro-Oeste). A terceira partiria do rio Jauru, at� o ponto m�dio do curso do Madeira, de onde sairia a linha paralela rumo ao Javari, e por este e pelo Solim�es abaixo, at� a boca mais ocidental do rio Japur�; e a quarta, subindo este rio e outros, alcan�aria as cordilheiras que separam as bacias do Amazonas e do Orenoco, demandando o rio Oiapoque at� sua foz no Atl�ntico. Salvo modifica��es no trecho da fronteira meridional, a linha divis�ria nos demais segmentos era a mesma do Tratado de Madri.

Os integrantes da partida respons�vel pela demarca��o do setor sul foram: Sebasti�o Xavier da Veiga, Francisco Jo�o do Roscio,  Alexandre El�i Portelli, Jos� Saldanha, Francisco de Chagas Santos e Joaquim F�lix da Fonseca, por parte portuguesa; Jos� Varella y Ulloa, Rosendo Rico Negron, Bernardo Lecocq, Joaquim Gundin, Diogo de Alvear y Escalera, Jos� Maria Cabrer e Andr� de Oyarvide, pelo lado espanhol.

Os participantes da terceira partida, Regi�o Centro-Oeste por parte de Portugal foram Jo�o Pereira Caldas (Comiss�rio da terceira e quarta comiss�es, fora tamb�m governador do Gr�o-Par�), Ricardo Franco de Almeida Serra,  Joaquim Jos� Ferreira, Antonio Pires da Silva Pontes Leme, e Francisco Jos� de Almeida e Lacerda.

No lado espanhol, o representante Felix de Azara foi brilhante nos trabalhos de levantamento que executou. � da sua autoria a Carta esferica o reducida de las provincias del Paraguay y Missiones Guaraniscon el Distrito de Corrientes. A Biblioteca Nacional possui tr�s c�pias manuscritas. Na realidade, espanh�is e portugueses nunca realizaram um trabalho de conjunto na fronteira ocidental.

A equipe portuguesa da quarta partida, na Regi�o Norte, foi constitu�da por: Pereira Caldas (Governador do Gr�o Par� e primeiro comiss�rio), Teod�sio Constantino de Chermont, Francisco Jos� de Lacerda, Henrique WilKens Matos, Jos� Sim�es de Carvalho , Euz�bio Ant�nio de Ribeiros, Jos� Joaquim Vit�rio da Costa,  Pedro Alexandrino Pinto de Sousa e Manuel da Gama Lobo de Almada. A Biblioteca Nacional possui alguns mapas destas comiss�es.

Quanto ao lado espanhol, a quarta comiss�o teve como primeiro comiss�rio d. Francisco de Requena. A Biblioteca Nacional possui um fac-s�mile sob o t�tulo Mapa geografico de la mayor parte de la Am�rica Meridional que contiene los paises por onde debe trazarse la linea divisoria que divida los dominios de Espa�a y Portugal, publicado no s�culo XIX.

Nesta �poca era governador da Capitania de Mato Grosso Lu�s de Albuquerque de Melo Pereira e C�ceres (1772-1790), que foi um grande administrador. Ele refor�ou o esquema defensivo da fronteira mandando construir o Forte de Coimbra (1775), na borda esquerda do Paraguai, e o Real Forte Pr�ncipe da Beira (1776), na margem direita do Rio Guapor�, Rond�nia. Fundou tamb�m povoa��es e promoveu explora��es fluviais e terrestres em v�rias regi�es da capitania. A Biblioteca Nacional possui: Carta em q se mostra a corrente dos rios Guapor� e Mamor� a principiar em Va. Bella captal. do Mato Grosso, oferecida a rainha de Portugal, d. Maria I por este governador e Planta da nova Povoa��o de Cazalvasco.

Ainda no s�culo XVIII, os governadores das capitanias das Regi�es Nordeste e Sudeste contrataram cart�grafos e engenheiros militares para fazerem o levantamento das �reas sob sua administra��o. Dentre eles destacaram-se Jos� Joaquim da Rocha, que elaborou diversas cartas da Capitania de Minas Gerais, Manuel Vieira Le�o, que produziu entre outros trabalhos cartogr�ficos, o mapa da Capitania do Rio de Janeiro, em 16 folhas, Mariano Greg�rio do Amaral, que comp�s cartas da Capitania do Cear� ARC.025,02,009. A capitania de S�o Paulo teve dois not�veis governadores d. Luis Ant�nio de Souza Botelho Mour�o, Morgado de Mateus (1765-1775) e Bernardo Jos� Maria de Lorena e T�vora (1788-1797). O primeiro providenciou a funda��o do pres�dio de Iguatemi, o descobrimento de Guarapuava, a explora��o do Vale do Tibagi e a funda��o de v�rios estabelecimentos na comunica��o entre o Rio Grande do Sul e S�o Paulo. A Biblioteca Nacional adquiriu, em 1952, a Cole��o de Morgado de Mateus. Dentro desta cole��o existe uma boa quantidade de mapas referentes aos trabalhos feitos durante o seu governo. O segundo governador, contou com a eficiente colabora��o de dois engenheiros militares, Jo�o da Costa Ferreira e Ant�nio Rodrigues Montesinhos, respons�veis por in�meras obras p�blicas, como a famosa cal�ada do Lorena (estrada ligando a cidade de S�o Paulo ao porto de Santos), al�m da elabora��o de in�meros mapas e cartas hidrogr�ficas do litoral. A Biblioteca Nacional possui uma carta manuscrita do Litoral entre S�o Paulo e Santa Catarina, de Jo�o da Costa Ferreira.

Al�m destes mapas, merecem ser citados: cartas n�uticas de Jos� Fernandes Portugal como Plano do Rio de Janeiro e Carta reduzida do Oceano Atl�ntico; carta n�utica de Ant�nio Jos� de Ara�jo, intitultada Parte da costa do Brasil ; e documentos cartogr�ficos de viajantes como La Perouse.

Conclus�o

A Biblioteca Nacional conta com uma vasta documenta��o cartogr�fica hist�rica sobre o Mundo e suas partes, e tamb�m sobre o espa�o celeste. Quanto � esfera terrestre, abrange os mais variados assuntos como viagens, descobertas, planos de explora��o e coloniza��o, funda��o de n�cleos de povoamento, fixa��o de fronteiras, constru��o de fortifica��es, guerras etc, que v�o do Mundo Antigo ao Moderno. S�o documentos manuscritos e gravados (xilogravuras e gravuras em metal) que remontam ao s�culo XV e se estendem aos prim�rdios da litografia, no in�cio do s�culo XIX.

O acervo cartogr�fico raro p�de ser restaurado, analisado, catalogado, digitalizado e disponibilizado na Internet pelo Projeto Biblioteca Virtual da Cartografia Hist�rica dos S�culos XVI e XVIII. O Projeto, patrocinado pela FINEP� Financiadora de Estudos e Projetos�, possibilitou reunir toda a cole��o existente nas diversas �reas da Biblioteca Nacional, inserindo-a em uma �nica base e divulgando-a aos interessados do mundo inteiro.

O Projeto tamb�m ofereceu uma compreens�o melhor da expans�o territorial do Brasil at� o final do s�culo XVIII, �poca em que come�ou a oficializar a sua configura��o geogr�fica.

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[1]  Plano= Planta, carta elaborada em escala grande.

[2] C�dice ou C�dex= grupos de folhas manuscritas sobre pergaminho (�s vezes em papel) unidas em forma de livro.

[3] Mapa-m�ndi de Ebstorf= esta denomina��o tem por origem o fato do mapa de ter sido preservado no mosteiro beneditino em Ebstorf, at� a sua descoberta em 1830. Quinze anos mais tarde foi transferido para o Historisches Verein f�r Niedersachsen (Museu Hist�rico da Baixa Sax�nia), em Hannover, Alemanha. Durante a II Guerra Mundial, o mapa foi desaparecido em decorr�ncia do bombardeamento da cidade, restando apenas fac-s�miles e fotografias.

[4] Mapa-m�ndi de Hereford= mant�m-se preservado na Catedral de Hereford, na Inglaterra.

[5] Incun�bulo= obra impressa desde a origem da imprensa, meados do s�culo XV, at� 1500.

[6] Ceuta= hoje cidade espanhola, situada na costa da �frica, diante do Gibraltar (Espanha), no Estreito de Gibraltar.

[7] Santa Helena, Ilha= localizada na parte sul do Oceano Atl�ntico. Foi descoberta pelos portugueses em 1502.  Em 1633, a Ilha foi anexada oficialmente aos holandeses, e em 1659, tornou-se col�nia brit�nica. Foi o local onde Napole�o Bonaparte se exilou, em 1815.

[8] A planta de Funchal faz parte do volume Mappas do Reino de Portugal e suas conquistas

[9] Padr�o real= Planisf�rio que servia de modelo para elabora��o de outros mapas at� o s�culo XVI, existente no Armaz�m da Guin� e da �ndia, conhecido como Casa da �ndia � centro oficial da cartografia.

[10] KUNSTMAN, Friedrich. Atlas zur entdeckungsgeschite Amerikas...M�nchen : In Commission bei A. Asher &   Cie in Berlin, 1859. 1 atlas :13 fac-sims., mapas col. Todas as cartas s�o chamadas pelo nome de Kunstman, com o n�mero de suas seq��ncias, como Kunstman III e IV, terceira e quarta cartas do atlas.  Estas cartas que outrora pertenciam a Wehreisb�cherei de Munique (Alemanha), desapareceram na Segunda Guerra Mundial.

[11] Parergon= Palavra grega significa acr�scimo, suplemento. Ortelius incluiu em 1579 um suplemento de mapas hist�ricos e religiosos da Antiguidade.

[12] Filipino= pertencente ou relativo � dinastia dos Filipes (Filipe I, II e III) em Portugal e Espanha, entre 1580-1640

[13] Tordesilhas, Tratado de= Tratado assinado em Tordesilhas, Espanha, em 1494, onde fixava as novas col�nias espanholas a 370 l�guas (ca.2220 km.) a oeste de Cabo Verde.

[14] Inaciano= relativo ao fundador da Companhia de Jesus, Santo In�cio de Loyola (1491-1556).