Condes de Castelo Melhor
Vinícius Dantas
Doutorando em História Moderna Universidade Nova de Lisboa
Bolsista Capes

No Portugal do século XVII, nos sessenta anos de união das coroas ibéricas (1580-1640) muitas famílias ascenderam ao posto da primeira nobreza através do serviço prestado aos seus soberanos. Nesse sentido, através da guerra ou da carreira jurídica eram remunerados pelos monarcas com mercês que poderiam ir desde uma comenda das ordens militares até bens materiais como senhorios e propriedades. Outra das formas de remuneração por serviços prestados aos reis era a criação de um título nobiliárquico que conferia distinção dentro da nobreza.

Entre as principais casas nobiliárquicas de Portugal no século dezessete, a de Castelo Melhor ganhou destaque pelos serviços prestados aos monarcas de Portugal e pelo patrimônio adquirido. Descendentes da linhagem dos Vasconcelos, cujos membros se destacaram nas batalhas da Reconquista no século XIII, atingiram o primeiro lugar entre as famílias nobres do reino no período da União Ibérica.

Assim, durante o reinado de Felipe III (1598-1621), o capitão-general de Tânger Rui Mendes de Vasconcelos era recompensado pelos seus serviços militares e em 21 de março de 1611 se tornava o primeiro conde de Castelo Melhor.

Após a morte do primeiro conde, o titulo passou para João Rodrigues de Vasconcelos (1593-1658), destacado militar do reinado de D. João IV (1640-1656) e governador-geral do Estado do Brasil entre 1650-1654. Com a morte de João Rodrigues em 1658, o seu filho primogênito Luís de Vasconcelos e Sousa (1636-1720) herdava seu título. Em Abril de 1660 se tornava oficialmente o terceiro conde de Castelo Melhor. Em pouco tempo Luís de Vasconcelos e Sousa ganhava a confiança do rei D. Afonso VI e entre 1662-1667 foi o mais importante ministro da coroa portuguesa. Apesar de sua rápida experiência administrativa, o “ministério” do 3º conde de Castelo Melhor foi fundamental para a definição das formas de governo em Portugal nos séculos XVII e XVIII, antecipando algumas das práticas governativas posteriormente utilizadas pelo Marquês de Pombal.

No século dezoito, outro membro da casa de Castelo Melhor se destacava nos serviços a coroa e administração. Luis de Vasconcelos e Sousa (1742-1809), filho do 1º marquês de Castelo Melhor, era o 4º conde de Figueiró. Entre 1778 e 1790 foi o 12º vice-rei do Brasil. Sua administração ficou marcada por medidas no processo de urbanização do Rio de Janeiro, como a construção do passeio público entre outras.

No setor de Manuscritos da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro encontramos o “Fundo/Coleção Condes de Castelo Melhor”. De uma forma geral, o fundo é composto por diversas cópias de documentos manuscritos que se associam direta ou indiretamente à história desta importante casa nobiliárquica portuguesa em diferentes gerações e por escritos do Pe Antônio Vieira.

Pela importância de Luis de Vasconcelos e Sousa, 3º conde de Castelo Melhor no governo do reino e de seu homônimo do século seguinte, o 4º conde de Figueiró, no governo do Rio de Janeiro, destacamos os seus manuscritos.

Nos documentos referentes a Luis de Vasconcelos e Sousa (1636-1720), 3º conde de Castelo Melhor e ministro do rei D. Afonso VI (1662-1667), encontramos um manuscrito intitulado «O perfeito privado ou papel político que a título de carta escreveu o padre Antônio Vieira da Companhia de Jesus ao conde de Castelo Melhor». Pelas diversas cópias existentes em bibliotecas e arquivos portugueses pode-se imaginar que o manuscrito alcançou algum sucesso nos séculos XVII e XVIII. De acordo com uma das versões sobre a origem do documento, o manuscrito teria sido escrito pelo Pe Antônio Vieira e oferecido a Luís de Vasconcelos e Sousa no início do seu “ministério” em 1662. Entretanto, não há qualquer indício seguro de que o mesmo seja de autoria de Vieira, existindo a hipótese de outros autores como o então secretário de Estado Antônio de Sousa de Macedo e Frei Gabriel da Purificação.

Do 4º Conde de Figueiró destacamos a sua correspondência com a coroa portuguesa no período do seu vice-reinado (1779-1790), contendo cartas sobre questões de defesa do território, assuntos comerciais e administrativos.

O fundo também possui importantes documentos do Pe Antonio Vieira, como escritos do jesuíta e manuscritos relativos ao seu processo inquisitorial. Além disso, é composto por um documento com memórias sobre o tempo de Felipe II, contendo informações sobre o período da união das coroas ibéricas.

Assim, o “fundo coleção condes de Castelo Melhor” será de grande interesse para os estudiosos de aspectos políticos da monarquia portuguesa, da administração do Rio de Janeiro setecentista e da obra do Pe Antônio Vieira.

:: Copyright © 2010 | Fundação Biblioteca Nacional | ::