BNDigital

Acervo da BN | A produção e o comércio de gravuras

05 fev 2021

Artigo arquivado em Acervo da BN
e marcado com as tags @culturagovbr, Biblioteca Nacional, Gravura, Louis Audran, Secult

A produção e o comércio de gravuras nos principais centros urbanos europeus no decorrer dos séculos XVI a XIX envolviam pessoas atuando em diversos papéis, como gravadores, pintores, desenhistas, impressores, editores, comerciantes e patronos. No entanto, a divisão de funções não era propriamente uma divisão de pessoas, já que os mesmos indivíduos podiam desempenhar diversos papéis simultaneamente. Alguns gravadores dedicavam-se parcialmente a outras atividades, relacionadas às belas artes ou não.

O comércio de gravuras concentrava-se em um pequeno número de grandes cidades, entre as quais Antuérpia, Augsburgo, Roma, Paris e Londres. Para as pequenas cidades, o vínculo com os grandes centros era importante para a formação dos gravadores, a demanda de trabalhos e o suprimento de materiais. Os mercados locais das pequenas cidades eram reduzidos e os serviços realizados eram geralmente retratos, ilustrações de livros, anúncios e cartões de visita, ou ainda a gravação de nomes e brasões em objetos de metal. Para os editores, além da dificuldade de distribuir as gravuras e de obter lucro, havia a concorrência da produção das grandes cidades, onde era mais fácil gravar e imprimir com qualidade superior. Iniciar um negócio, florescer ou mesmo manter a qualidade em ambientes onde havia pouco conhecimento técnico e estrutura era muito difícil.

Os laços familiares eram extremamente importantes, sendo comuns os casamentos que uniam famílias que atuavam no ramo da produção de gravuras. O exercício das atividades muitas vezes se estendia por gerações e a participação da família nos negócios era significativa. Os filhos podiam ser ensinados pelos próprios pais. Algumas mulheres trabalhavam como gravadoras ou coloristas, lidavam com o gerenciamento dos negócios e do orçamento doméstico.

Os vínculos entre os profissionais também se formavam no meio social, em festas, jantares, guildas, academias ou confrarias. Conversas casuais podiam resultar em acordos e parcerias de trabalho e poucas vezes contratos eram redigidos. Os vínculos pessoais eram essenciais e os profissionais podiam conhecer-se pessoalmente ou por reputação. A confiança era construída paulatinamente dos pequenos aos grandes negócios, pelos vínculos familiares ou pelo compartilhamento das mesmas origens ou fé religiosa. Portanto, ter crédito e confiança era de suma importância e uma recomendação dentro do próprio negócio favorecia o avanço na carreira. Os vínculos proporcionavam também cooperação mútua em casos de necessidade. Problemas de visão eram riscos concretos e, por amizade ou caridade, certos gravadores podiam concluir as matrizes de colegas mortos ou incapacitados de trabalhar.

(Seção de Iconografia)


A gravura “Le serpent d'airain” faz referência à serpente de bronze feita por Moisés no episódio bíblico narrado em Números, capítulo 21. Gravada por Louis Audran (1670-1712), membro de uma família de gravadores, a partir de uma pintura de Charles Le Brun. Editada em Paris na Rue Saint Jacques (“chez la veuve Audran”), onde se concentrava o comércio de livros e gravuras.