Acervo da BN | Radical Paulistano: fazendo jus ao nome
por Bruno Brasil
15 jul 2020
Artigo arquivado em Acervo da BN
e marcado com as tags 1869, História, Joaquim Nabuco, Lei do Ventre Livre, Liberalismo, Política, Rui Barbosa
Os anos 60 foram turbulentos no Brasil, especialmente o final da década. Regime militar, AI-5, Tropicália e guerrilha? Não: embora normalmente tomemos por referência os períodos mais próximos ao nosso tempo, é à década de 1860 que hoje fazemos referência. O ano de 1868, particularmente, é apontado como divisor de águas entre a fase mais estável do Segundo Reinado, marcado pela costura política de conciliação entre os partidos Liberal e Conservador, e o início de uma crise que levaria ao fim da monarquia brasileira vinte anos depois. Foi naquele ano em que, valendo-se de seu Poder Moderador, Dom Pedro II demitira abruptamente o gabinete liberal de Zacarias de Góes, substituindo-o por um conservador. A decisão acabou catalisando a união de forças até então dispersas dentro do Partido Liberal, majoritário no Parlamento e revoltado de cabo a rabo. A conciliação estava morta. A pleno vapor se encontrava o processo que, de início, desemperrou reformismo suficiente para encetar a Lei do Ventre Livre, em 1871. A revolta não era pouca e o liberalismo brasileiro se modernizava, por assim dizer. Foi aí, nesse contexto, que surgiu o Radical Paulistano, jornal que fazia jus ao nome.
Lançado na capital da província de São Paulo em 12 de agosto de 1869, há 151 anos, o Radical Paulistano foi um periódico do chamado “Club Radical Paulistano”, pertencente à ala considerada mais radical do Partido Liberal – que, futuramente, se articularia no movimento republicano que retiraria a coroa dos alvos cabelos de Dom Pedro II. Tendo contado com jovens redatores como Rui Barbosa, Joaquim Nabuco, Luís Gonzaga Pinto da Gama, Martim Cabral, Bernardino Pamplona e Castro Alves, nem todos paulistanos, mas relativamente ainda desconhecidos, o jornal era tirado primeiro das oficinas da folha O Ypiranga, para depois ser impresso pelo maquinário do Correio Paulistano. Assim foram impressas suas apenas 26 edições, publicadas entre 12 de agosto e 13 de novembro de 1869. Nelson Werneck Sodré já dizia: os jornais mais longevos da imprensa brasileira sempre foram conservadores, salvo pequenas exceções.
Já em sua primeira edição o jornal era taxativo: “O Partido Conservador está morto”. Noves fora, o texto continuava: “A revolução caminha, é melhor pois que ela seja prevenida por medidas profundas e largas, antes que vê-la chegar de braços cruzados, ou peor ainda, precipitá-la mais depressa, continuando-se com o systema absoluto que nos governa”. Esse tom reformista, todavia, assumiria contornos verdadeiramente antimonarquistas apenas duas edições depois. O discurso político da folha, ademais, não estava desacompanhado de outras pautas progressistas, como a substituição da escravidão pelo trabalho livre.
Oscar Pilagallo, em sua “História da imprensa paulista”, destaca a importância que o Radical Paulistano teve junto à luta pela abolição da escravatura, além de ter, naturalmente, revelado seus redatores para o restante da imprensa liberal brasileira:
Em sua última edição, o Radical Paulistano louvava os nomes de quatro integrantes da corrente política a que pertencia: Bernardino Pamplona, Freitas Coitinho, Carneiro de Campos e Marcondes Varella. Incendiário, em sua época.
Explore o documento:
Capa de uma das primeira edições de Radical Paulistano.
Lançado na capital da província de São Paulo em 12 de agosto de 1869, há 151 anos, o Radical Paulistano foi um periódico do chamado “Club Radical Paulistano”, pertencente à ala considerada mais radical do Partido Liberal – que, futuramente, se articularia no movimento republicano que retiraria a coroa dos alvos cabelos de Dom Pedro II. Tendo contado com jovens redatores como Rui Barbosa, Joaquim Nabuco, Luís Gonzaga Pinto da Gama, Martim Cabral, Bernardino Pamplona e Castro Alves, nem todos paulistanos, mas relativamente ainda desconhecidos, o jornal era tirado primeiro das oficinas da folha O Ypiranga, para depois ser impresso pelo maquinário do Correio Paulistano. Assim foram impressas suas apenas 26 edições, publicadas entre 12 de agosto e 13 de novembro de 1869. Nelson Werneck Sodré já dizia: os jornais mais longevos da imprensa brasileira sempre foram conservadores, salvo pequenas exceções.
Já em sua primeira edição o jornal era taxativo: “O Partido Conservador está morto”. Noves fora, o texto continuava: “A revolução caminha, é melhor pois que ela seja prevenida por medidas profundas e largas, antes que vê-la chegar de braços cruzados, ou peor ainda, precipitá-la mais depressa, continuando-se com o systema absoluto que nos governa”. Esse tom reformista, todavia, assumiria contornos verdadeiramente antimonarquistas apenas duas edições depois. O discurso político da folha, ademais, não estava desacompanhado de outras pautas progressistas, como a substituição da escravidão pelo trabalho livre.
Oscar Pilagallo, em sua “História da imprensa paulista”, destaca a importância que o Radical Paulistano teve junto à luta pela abolição da escravatura, além de ter, naturalmente, revelado seus redatores para o restante da imprensa liberal brasileira:
Em São Paulo, a defesa mais contundente do abolicionismo estava distante do republicanismo conservador dos cafeicultores. Na imprensa, a campanha contou com a participação de Rui Barbosa, que a ela se lançara, ao lado de Luiz Gama, no jornal Radical Paulistano, em 1869, quando, ainda estudante de direito no largo São Francisco, chegou a morar com o poeta abolicionista Castro Alves, seu colega. Nessa publicação, ‘derrocando o princípio da propriedade civil, [Rui Barbosa] constrói os alicerces em que se apoiaria a emancipação dos nascituros’, escreve Elmano Cardim, em referência à Lei do Ventre Livre, assinada pouco depois, em 1871. (p. 39)
Em sua última edição, o Radical Paulistano louvava os nomes de quatro integrantes da corrente política a que pertencia: Bernardino Pamplona, Freitas Coitinho, Carneiro de Campos e Marcondes Varella. Incendiário, em sua época.
Explore o documento:
Capa de uma das primeira edições de Radical Paulistano.
