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Livros de Aventura | A Ilha do Tesouro

09 maio 2022

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Um dos mais aclamados escritores do século XIX, Robert Louis Stevenson foi o autor, entre outras obras, de “Raptado”, “O Médico e o Monstro” e o juvenil “A Ilha do Tesouro”, considerado um marco da literatura de aventura.

Robert Lewis Balfour Stevenson (Edimburgo, 1950 – Ilhas Samoa, 1894) era filho de um engenheiro civil que trabalhava em faróis. O pai desejava que seguisse a mesma profissão, mas o jovem preferiu a Faculdade de Direito de Edimburgo, onde começou a colaborar com o jornal universitário. Formado, mudou-se para Londres e, algum tempo depois, empreendeu uma viagem pela Europa. Sua saúde era frágil, e ele estava constantemente em busca de tratamento e de lugares onde o clima quente pudesse amenizar seus problemas respiratórios.

Em 1878, Stevenson publicou seu primeiro livro, um relato de viagem. Outro se seguiu, e em 1880 o escritor se casou com uma mulher que conhecera na França, a escritora norte-americana Fanny Van de Grift Osbourne. Tornou-se, assim, padrasto dos filhos que Fanny tivera do primeiro casamento, Isobel e Lloyd. Ambos viriam também a ser escritores. Lloyd colaborou com várias obras de Stevenson, a começar pelo mapa da ilha imaginária que pintaram juntos, quando o menino tinha 12 anos, e que teria inspirado a criação da obra-prima do escocês: “A Ilha do Tesouro”.

Livro de aventura e, ao mesmo tempo, romance de formação – pois acompanha uma etapa do amadurecimento do jovem herói, Jim Hawkins --, a história foi publicada de forma seriada entre 1881 e 1882 na revista “Young Folks”, com o título de “A Ilha do Tesouro ou o Motim do Hispaniola”. O autor usava o pseudônimo “Capitão George North”. Em 1883 veio a primeira edição em livro, e desde então “A Ilha do Tesouro” se tornou uma das obras mais traduzidas e adaptadas do mundo, com versões para o teatro, o cinema e outras mídias.

Sempre buscando melhoras para sua saúde, Stevenson viajou com a esposa e o enteado pelo Pacífico Sul e acabou por se estabelecer em Ápia, capital das Ilhas Samoa. Morreu em dezembro de 1894, deixando um romance inacabado, além de vários ensaios, contos – muitos dos quais famosos, como “O Ladrão de Corpos” – e romances, entre os quais se destacam o juvenil “Raptado” (1886); sua continuação, “Catriona” ou “Aventuras de David Balfour” (1893); e “O Estranho Caso do Dr. Jekyll e Mr. Hyde”, também conhecido como “O Médico e o Monstro” (1886). Nenhum deles, no entanto, se tornou tão famoso quanto “A Ilha do Tesouro”, com sua narrativa permeada de ação e emoções contínuas, personagens memoráveis como Long John Silver e elementos que, aqui apresentados pela primeira vez, se tornariam frequentes em histórias de piratas, como o mapa onde o tesouro enterrado era marcado com um X.

No Brasil, a obra foi publicada em fascículos no jornal “O Tico-Tico” a partir de dezembro de 1906. A edição 52 anunciava que “A Ilha do Thesouro” estava sendo traduzida especialmente para os leitores do periódico, mas não anunciava o nome do tradutor, nem do ilustrador.

Veja o anúncio, no qual se atribuem ao protagonista dois nomes diferentes: “Raul”, na ilustração do personagem, e “José”, ao discorrer sobre a obra. Curiosamente, o nome original, “Jim”, foi mantido nos capítulos publicados a partir da edição 53.

Veja uma página em que aparece o anti-herói Long John Silver (1907)

Consultado a respeito dessa edição, o pesquisador Gabriel Castilho, da UFRJ, que estuda “O Tico-Tico”, afirmou que o ilustrador é possivelmente George Wylie Hutchinson,  cujas ilustrações para “A Ilha do Tesouro” foram reproduzidas na revista francesa “Le Petit Journal Illustré de la Jeunesse”. “O Tico-Tico” publicou muitas ilustrações desse periódico, no qual a obra de Stevenson saiu em fascículos um ano e três meses antes do início da edição brasileira.

A tradução de 1906 parece ter sido a primeira feita no Brasil, pois, alguns anos após a publicação em fascículos, a sugestão dada pelos editores de ”O Tico-Tico” a um leitor que lamenta ter perdido “A Ilha do Tesouro” é que encomende a obra em inglês ou francês por intermédio de uma boa livraria. O público brasileiro, contudo, não ficaria muito tempo sem acesso à obra-prima de Stevenson. Em 1933, “A Ilha do Tesouro”, com tradução de Álvaro Eston, foi o oitavo livro publicado pela Coleção Terramarear, da Cia. Editora Nacional, e em 1934 “O Tico-Tico” passou a publicar nova edição em fascículos de “A Ilha do Tesouro”, ilustrada pelo artista baiano Cícero Valladares.

Veja a edição de 1934.

Embora os livros sobre viagens marítimas e piratas já existissem antes de Stevenson, e fossem até bastante populares, “A Ilha do Tesouro” foi um marco dentro do gênero, estabelecendo parâmetros e estendendo sua influência para boa parte do que, a partir daí, se escreveu e produziu a respeito do tema.



Capa de “A Ilha do Tesouro” por Cícero Valladares (“O Tico-Tico”, 1934).