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Memória | O bicentenário de García Moreno

27 nov 2021

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2021 marca o bicentenário de nascimento do estadista equatoriano Gabriel García Moreno (1821-2021), assassinado por conspiradores liberais em 6 de agosto de 1875, depois de ter dominado a política equatoriana desde 1859. De manhã, ao sair da Missa, foi morto por um pequeno grupo de assassinos empunhando facas, facões e revólveres. Seu corpo foi levado para uma sala da Catedral de Quito, onde o médico francês Esteban Gayraud administrou a autópsia.
A autópsia realizada destacou não só a condição mutilada do cadáver, mas o fato de que García Moreno usava diversas insígnias religiosas. Estas incluíam "um pedaço da verdadeira cruz de Cristo", uma medalha que de um lado exibia o símbolo do primeiro Concílio Vaticano, e do outro, um retrato de Pio IX, um rosário, um escapulário do Sagrado Coração de Jesus, além do discurso com que ia inaugurar seu terceiro mandato presidencial, em 10 de agosto de 1875.

Posteriormente, seu cadáver foi exposto na Catedral com uniforme militar completo, chapéu de penas e rodeado por guardas de honra. García Moreno foi apresentado como um soldado de Cristo, conforme definido por uma das orações fúnebres pronunciadas durante seu funeral. (Cf. Espinosa Fernández de Córdova, Carlos Ramiro y Jordi Canal. “La memoria transnacional de Gabriel García Moreno: la imagen póstuma del caudillo católico en Ecuador, Francia y Roma (1875-1921)”. Historia Crítica n.° 75 (2020): 3-23.

Na atual historiografia equatoriana, Gabriel García Moreno é conhecido como um “caudilho latino-americano”, modernizador que promoveu uma “modernidade católica” e a “formação do Estado” no Equador. Fora do Equador, as memórias do líder católico circularam, tornando-o um ícone de múltiplas causas internacionais, como o lado católico em “la guèrre entre les deux Frances” e a matriz católica ultramontana. Essas memórias desterritorializadas, que circularam em contextos distantes daqueles em que ocorreram os eventos lembrados, foram o produto de trocas por meio de redes políticas e religiosas que conectavam católicos equatorianos conservadores com católicos na Europa.

García Moreno e seu regime é, ainda hoje, motivo de debates e confrontos no Equador. Sua imagem ainda serve como um epítome do bom católico ou do déspota. Sendo um ferrenho opositor da corrupção, chegou até mesmo a dar o próprio salário para obras de caridade. (Cf. Kenneth Scott Latourette, The Nineteenth Century Outside Europe: The Americas, the Pacific, Asia, and Africa, Harper, 1961, p. 326)

Foi o mais típico estadista católico de seu tempo. O único chefe de Estado no mundo contemporâneo cujo nome foi lembrado para a canonização na Igreja; uma figura controvertida, de sábio, de estadista, de déspota, de santo e de ultramontano. Assassinado, ao que se diz, pela maçonaria, depois de haver consagrado o país inteiro ao Sagrado Coração de Jesus.

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