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09 de julho | Morte de Vinícius de Moraes

09 jul 2020

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e marcado com as tags 40 anos da morte do Poetinha, Poetinha, Vinícius de Morais

Vinícius “Poetinha” de Moraes

“A vida é a arte do encontro, embora haja tantos desencontros pela vida”.
Vinícius de Moraes
(Folha Regional de Caxias do Sul)

Naquele 9 de julho de 1980, há exatos 40 anos, despedia-se desse mundo Vinícius de Moraes. Diplomata que exerceu, com maestria, o dom da poesia e a arte da composição de músicas e dramaturgia. Suas composições e parcerias musicais com Tom Jobim (1927-1994), Baden Powell (1937-2000), Chico Buarque (1944), João Gilberto (1931-2019), Toquinho (1946), Carlos Lyra (1933), Nara Leão (1942-1989), são importantes referências na Música Popular Brasileira, em especial para o Samba e a Bossa Nova.

Formado em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 1933, aos 30 anos foi selecionado em concurso para a carreira diplomática. Entre os anos de 1946 e 1950, exerceu cargo de vice-cônsul em Los Angeles, também tendo atuado em Paris e em Roma. Sua carreira, entretanto, seria abruptamente interrompida durante a ditadura militar brasileira (1964-1985) que o aposentou compulsoriamente, alegando postura boêmia e incompatível com o exercício das funções diplomáticas. Sua anistia, post-mortem, ocorreu em 1998 e, em 2010, foi elevado a "ministro de primeira classe", do Ministério das Relações Exteriores (Lei 12.265 de 22 de junho de 2010).

Nasceu na Zona Sul do Rio de Janeiro, em 1913. Em sua juventude, ainda na década de 1930, Marcus Vinícius da Cruz de Mello Moraes chegou a filiar-se ao movimento integralista de Plínio Salgado, pelo apelo nacionalista do grupo e por influência Otávio de Faria e Augusto Frederico Schmidt, fundador da Livraria Schmidt (A Offensiva, http://memoria.bn.br/DocReader/178586/601). Se distanciaria dessa vertente de pensamento, posteriormente. Um exemplo é a poesia Para uma menina com uma flor, onde expõe as expectativas de uma vida plena de tolerância onde ingleses, franceses, italianos pudessem “tomar um chopp no ‘Alemão’”, após o fim a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) - (Nicolau).

Com a maturidade intelectual e literária, o Poetinha aproxima-se da cultura popular, sem deixar de lado o seu cabedal erudito. Seus poemas exaltam o operário, o negro e, sobretudo, o amor à mulher brasileira e às belezas naturais. Algumas poesias, imersas em filosofia, incentivam seu leitor a refletir sobre os reais valores da vida. Uma delas, o poema Testamento - musicado por Toquinho, um de seus grandes amigos -, faz uma reflexão sobre a ambição de acúmulo financeiro para, ao fim, todos terminarem na fria vestimenta do sepulcro (O Campo Belo).

Da mistura entre cultura popular, erudição, experiência de vida, filosofia, viria a surgir um movimento de renovação do Samba, irradiado nos anos 1950 por músicos e compositores ambientados na Zona Sul carioca que, incorporando ritmos como o Jazz ao Samba, se tornaria mundialmente conhecido como Bossa Nova. Um dos movimentos culturais que projetou a Música Popular Brasileira, daquela década, nas culturas europeia e norte americana (Dayli Post).

Poeta apaixonado, reverenciava o amor, e teve sua consagração a partir de 1956, com a obra Orfeu da Conceição que, transposta para o cinema pelo cineasta francês Marcel Camus (1912-1982) como Orfeu Negro, ganhou a Palma de Ouro, no Festival de Cinema de Cannes, em 1959 (O Cruzeiro, A Cigarra), e o Oscar de melhor filme estrangeiro, em Hollywood (O Fluminense). A obra retratava o gingado carioca, o amor entre o Orfeu Negro e sua Eurídice, o samba e as experiências de uma vida em favela carioca, e trazia várias das composições musicais de Vinícius com Tom Jobim (Manchete, Revista IPHAN). Ainda na atualidade, a vemos encenada em peças para os mais variados públicos (O Município). A premiação para o filme abriu ainda as portas dos juke-boxes dos cafés franceses para as músicas que compunham a sua trilha sonora (O Mundo Ilustrado).

Mas não só a musica atraía a atenção do Poetinha. Atento aos acontecimentos de seu tempo, participou de celebração do 1º de maio, em 1979, em São Bernardo, declamando trechos de seu poema Operário em Consturção (Movimento), bem como participou como membro da organização da Exposição sobre Brasília, em Paris, (Módulo Brasil Arquitetura). Foi também membro do Conselho de Redação da revista Módulo Brasil Arquitetura.

Casado por nove vezes, teve um de seus encontros descrito de forma romanceada no Jornal do Tocantins. Apaixonado pelas mulheres, contribuiu para mudar a visão sobre a mulher brasileira nas músicas e poesias, segundo estudo na Revista de Cultura Brasileña: de vilã e traidora, ela passa a ser cantada como preciosidade a ser alcançada por seu admirador e apaixonado. Em uma de suas entrevistas, em que comentava sobre os atributos femininos, certa vez declarou ser a “beleza fundamental”, uma afirmativa polêmica e que foi posteriormente debatida e ressignificada por seus críticos, como no artigo a revista Mulherio.

Grande amigo do poeta chileno Pablo Neruda, e do pintor e ceramista uruguaio Carlos Páez Vilaró, chegou a frequentar a Casapueblo, casa em que Vilaró recebia personalidades das artes, música, literatura, e onde Vinícius congregava com os amigos latino-americanos. Em uma dessas viagens, houve o curioso boato de seu falecimento, em 1978, desmentido pelo próprio Vinícius (O Estado de Mato Grosso).

Partiria dois anos depois, em 9 de julho de 1980, deixando centenas de composições musicais, poemas e quatro peças teatrais. Faleceu momentos após ter escrito, para a obra Arca de Noé dedicada ao público infantil, o poema São Francisco:

Lá vai São Francisco
pelo caminho
de pé descalço
tão pobrezinho
dormindo à noite
junto ao moinho
bebendo água
do ribeirinho.
(Revista de Cultura Brasileña)

Várias foram as homenagens e grande foi a cobertura de seu sepultamento pela imprensa (O Fluminense, Correio Brasiliense: http://memoria.bn.br/DocReader/028274_03/7463, http://memoria.bn.br/DocReader/028274_03/7476; Movimento: Cena Brasileira. Homenagem do Folha de Hoje, pelos 10 anos de falecimento do Poetinha.

*A Fundação Biblioteca Nacional contém acervo de Vinícius de Morais em sua seção de Manuscritos, disponível para consulta presencial. Para consulta no acervo digital, há diversos trechos de composições musicais, alguns listados abaixo.

Explore os documentos:

Poesias:
A ausente – O Estado de Mato Grosso
Poema dos olhos da amada - Jornal de Pains

Músicas

Sonho de amor e paz
Serenata do adeus
São Francisco
Poema dos olhos da amada
Doce Ilusão