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100 Anos sem Lima Barreto

29 nov 2022

Artigo arquivado em Efemérides

O dia 1 de novembro de 2022 marca o centenário de morte de Lima Barreto, um dos mais relevantes nomes da Literatura Brasileira.

Nascido no Rio de Janeiro a 13 de maio de 1881, neto de escravizados, Afonso Henriques de Lima Barreto teve sua educação garantida pelo padrinho, o visconde de Ouro Preto. Estudou Engenharia na Escola Politécnica, mas, devido aos problemas psiquiátricos de seu pai, abandonou os estudos para ajudar no sustento da família. Em 1903 começou a trabalhar na Secretaria de Guerra e, ao mesmo tempo, a colaborar com diversos jornais, tais como o “Correio da Manhã” e o “Jornal do Commercio”, além da revista “Fon-Fon”.

A primeira obra de Lima Barreto, “Recordações do Escrivão Isaías Caminha”, foi publicada em 1909. Dois anos, “Triste Fim de Policarpo Quaresma” começou a sair como folhetim no “Jornal do Commercio”. Seguiram-se outros romances e contos, alguns realistas, outros satíricos, que acompanham de perto as camadas mais pobres da sociedade, incluindo artistas e boêmios.

Em 1915, tendo passado por uma internação no Hospício Nacional de Alienados, Lima Barreto publicou, como folhetim, o romance “Numa e a Ninfa” e começou a colaborar com a revista ilustrada “Careta”, bem como a publicar alguns textos em periódicos políticos. Esse foi um importante meio de divulgação de suas ideias, que combatiam a hipocrisia, a desigualdade e outras mazelas sociais. Sua saúde, no entanto, piorou, e em 1918 ele foi obrigado a se aposentar da Secretaria de Guerra.

O romance seguinte, “Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá”, foi publicado em 1919 pela editora Revista do Brasil, de Monteiro Lobato. Havia grandes expectativas a respeito do livro, mas suas vendas foram muito baixas. Lobato optou por não editar novos livros de Lima Barreto, que continuava a enfrentar problemas de saúde e internações. Durante as temporadas que passou no hospício, escreveu diários e um romance, “Cemitério dos Vivos”, que ficou inacabado. Faleceu em sua casa, no Rio de Janeiro, vítima de um colapso cardíaco.

Nas décadas de 1940 e 1950, graças ao trabalho do pesquisador Francisco de Assis Barbosa, algumas obras de Lima Barreto foram publicadas postumamente. Barbosa foi também quem apresentou o Arquivo Lima Barreto a Rubens Borba de Moraes, então diretor da Biblioteca Nacional. Em 1947, a instituição adquiriu o Arquivo, composto por aproximadamente 1126 documentos compreendidos entre as datas 1892-1922. Entre eles, originais literários como os de “Numa e a Ninfa” e parte de “Clara dos Anjos” e correspondência de Lima Barreto com vários interlocutores, incluindo Monteiro Lobato. O conjunto, que integra o acervo da Seção de Manuscritos, é de grande interesse não apenas para pesquisadores da Literatura como também para cientistas sociais e historiadores, principalmente os que trabalham com questões ligadas às relações interraciais.

Em 2017, o Arquivo Lima Barreto foi nominado pelo Registro Memória do Mundo da UNESCO. Esse reconhecimento propiciou novas ações voltadas à difusão do acervo: os documentos foram digitalizados, passando a ser acessíveis por meio da BN Digital, e sua descrição em base de dados foi revista. Um instrumento de pesquisa, o Catálogo do Arquivo Lima Barreto, foi encaminhado à Coordenação de Pesquisa e Editoração e em breve será disponibilizado, como publicação virtual, na página da Fundação Biblioteca Nacional.

 

Veja alguns documentos do Arquivo na BN Digital.

Carta do jovem Afonso Lima Barreto a seu pai, explicando o porquê de não poder sair do internato em Niterói.

http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_manuscritos/mss1448639/mss1448639.pdf

Caderno de Lima Barreto com apontamentos sobre a distribuição de “O Triste Fim de Policarpo Quaresma”. Entre notas a respeito de exemplares enviados a amigos e jornalistas, um desabafo: “Passou-se o Carnaval e Portugal teve a scisma de provocar guerra com a Allemanha.  As folhas não se importaram com outra cousa (...) E não têm tempo de falar no meu livro, os jornaes, estes jornaes do Rio de Janeiro.”

http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_manuscritos/mss1428168/mss1428168.pdf

Fragmento de um dos manuscritos de “Clara dos Anjos”, datado de 1919. Lima Barreto o concluiu em 1922, ano de sua morte. O romance, que denuncia injustiças sociais e raciais e expõe a fragilidade da posição das mulheres negras, só viria a ser publicado em 1948.

http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_manuscritos/mss1428141/mss1428141.pdf