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14 de Maio de 1998: o mundo dá adeus a Frank Sinatra

14 maio 2020

Artigo arquivado em Música

Francis Albert Sinatra, ou apenas, Frank Sinatra, é considerado dono de uma das melhores vozes de todos os tempos, o que lhe rendeu o apelido “The Voice” (A Voz, em português). O “Velho Olhos Azuis” – como também era chamado – nasceu em Hoboken (Nova Jérsei – EUA), em 12 de dezembro de 1915, filho único dos imigrantes italianos Natalina "Dolly" Garaventa e Antonino Martino "Marty" Sinatra. Seus pais eram donos de uma taberna na cidade, onde Frank começou a cantar acompanhado de um piano mecânico, tendo o jazz como forte influência musical e o cantor Bing Crosby – considerado um dos artistas mais populares do século XX – como grande inspiração. Aos 16 anos, Sinatra abandonou a escola para se dedicar exclusivamente à música, o que fez seu pai, inconformado, expulsá-lo de casa.

Em 1935 formou, ao lado de amigos, um conjunto musical chamado “Hoboken Four”, vencendo, no mesmo ano, a competição de rádio Major Bowes' Amateur Hour. Em 1939 se casou com sua primeira esposa, Nancy Barbato, com quem teve seus três filhos: Nancy Sinatra, Frank Sinatra Junior e Tina Sinatra. Chegou ainda a integrar a Orquestra de Tommy Dorsey – que também lhe foi uma grande influência – e então sua carreira começou a decolar. Ao longo dos anos de 1940 e até a década de 1950 ele foi destaque em importantes programas de rádio. Nesse período – conhecido como “Sinatramania” – e já em carreira solo, gravou dezenas de músicas, dentre as quais um dos seus grandes sucessos, “Night and Day” e, em um programa de rádio em 1946, interpretou pela primeira vez o que seria uma das canções mais aclamadas na sua voz: “I've Got You Under My Skin”, de Cole Porter. Justamente nessa época, surgiu o apelido "The Voice". Em 1958 Sinatra lançou “Come Fly with Mee liderou o ranking nas paradas de álbuns da Billboard.

No início da década de 1950, abalos em sua vida pessoal e consequentes problemas de voz, levaram o cantor a ter uma queda em sua carreira. Cantando em clubes e hotéis e com complicações financeiras, chegou a pedir empréstimos para pagar os impostos devidos. No entanto, dono de talentos múltiplos, Sinatra já engrenava uma carreira no cinema, tendo feito sucesso em filmes como “Noites de Rumba”, “Marujos do Amor” e “Um dia em Nova Iorque”. Essa foi uma de suas saídas para a crise que enfrentava. Em 1953, dedicou-se de corpo e alma para um filme – “A Um Passo da Eternidade” –, cujo sucesso foi tanto que lhe rendeu o Oscar de melhor ator coadjuvante. O filme ganhou ainda outros sete Oscars. Sinatra fez também dezenas de outros filmes. Nessa época, fundou o conjunto “Rat Pack”, com os amigos Dean Martin, Sammy Davis Jr., Peter Lawford e Joey Bishop, com quem apareceu em filmes e em apresentações nos palcos no começo dos anos de 1960. Dentre as películas mais famosas estreladas pelo grupo está “Onze Homens e Um Segredo”, de 1960.

Um artista cheio de controvérsias, teve seu nome associado algumas vezes aos mafiosos italianos, o que explicaria, inclusive, o reerguimento de sua carreira, a indicação para o papel que lhe rendeu o Oscar e o fim de suas obrigações contratuais com a orquestra de Tommy Dorsey. Esse episódio teria servido de inspiração para o autor Mario Puzo criar o papel de Johnny Fontaine em sua obra “O Poderoso Chefão”, retratando um cantor que pede ajuda ao chefe da máfia, Don Corleone, para se desprender de um contrato (a famosa e polêmica cena da cabeça do cavalo, pra quem se lembra do filme homônimo). Contestações à parte, o fato é que Frank Sinatra já foi visto e fotografado, algumas vezes, ao lado de mafiosos famosos, dentre eles Lucky Luciano. Seus biógrafos dizem ainda que o cantor teria intermediado a relação entre a máfia italiana e John F. Kennedy, quando da sua campanha presidencial. Apesar de todas essas histórias incertas, Sinatra militou ainda pelos direitos humanos, ao abraçar a cruzada de Martin Luther King Jr. pela igualdade racial nos direitos civis, cantando e levantando dinheiro para o movimento.

Em 1967, Frank Sinatra estreitou relações com a música brasileira ao gravar, em parceria com o cantor e compositor brasileiro Tom Jobim, o disco “Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim”, cujo maior sucesso foi a canção "The Girl from Ipanema" (uma versão bilíngue da música “Garota de Ipanema). A gravação dos dois ajudou a tornar a bossa-nova brasileira ainda mais famosa no mundo. Foi o único disco em que Sinatra usou seu nome de batismo completo. No ano seguinte, gravou aquele que talvez seja o seu maior sucesso, a música “My Way”, uma adaptação de Paul Anka para a canção francesa “Comme d'habitude”. Em 1969 a música “Fly Me To The Moon” – com arranjo de Quincy Jones e na voz de Sinatra – foi tocada na missão espacial da Apollo 11, a primeira a levar o homem à Lua. E em 1977, o cantor lançou outro de seus grandes hits, “New York, New York”.

O dia 26 de janeiro de 1980 entrou pra história do Rio de Janeiro como “o dia em que Frank Sinatra fez a chuva parar”. A cidade estava debaixo de um temporal, justamente no dia marcado para a apresentação do cantor no estádio do Maracanã. Minutos antes do show, a chuva caia torrencialmente e Sinatra até ameaçou desmarcar a apresentação, cujo palco – no meio do gramado – era a céu aberto. Temendo o cancelamento, o empresário Roberto Medina – responsável pelo evento – pegou o cantor pelo braço e o levou até a boca do túnel de acesso ao campo. Ali, cerca de 175 mil pessoas aguardavam, ansiosas, a entrada do “Velho Olhos Azuis”. A chuva parou 7 minutos antes da hora marcada para o espetáculo, que foi um sucesso, tanto que a estrela agradeceu Medina aos prantos, dizendo ter sido uma das melhores noites da sua vida. O evento foi ainda marcado por um acontecimento inusitado. Ao final de “My Way”, Frank foi atacado carinhosamente pelo folclórico “Beijoqueiro”, o taxista José Alves de Moura, conhecido, à época, por esse tipo de performance.

Com a saúde debilitada, Sinatra parou de fazer shows em 1995, com 80 anos. No dia 14 de maio de 1998 morreu de um ataque cardíaco em Los Angeles (EUA). Está sepultado no Desert Memorial Park, na Califórnia. Deixou a viúva, Barbara Sinatra, e os três filhos.



Veja a matéria sobre a morte de Sinatra na Revista Manchete, edição 2407, de 23 de maio de 1998.

Veja a matéria sobre o show de Frank Sinatra no Rio de Janeiro, na Revista Manchete, edição 1451, de 09 de fevereiro de 1980.

Veja a notícia do lançamento do disco “Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim”, no jornal Diário de Notícias (RJ), edição 13592, de 12 de março de 1967.