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A Bomba

22 jul 2014

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e marcado com as tags Belle Époque, Humor político, Imprensa humorística, Literatura, Paraná

A Bomba foi um periódico ilustrado de humor crítico, política, literatura e variedades lançado em Curitiba (PR) em 12 de junho de 1913. Seguindo os moldes de publicações ilustradas da moda, como O Malho, era propriedade de Marcello Bittencourt, contando com Rodrigo Júnior e Clemente Ritz como redatores principais, Euclides Chichorro (atendendo pelo pseudônimo “Félix”) como redator artístico, Arthur Wischral como repórter fotográfico e Gastão Gheur como agente comercial. Politicamente aguerrido, polêmico e altamente debochado, apontando falhas na política e na administração pública paranaense da época (fazendo o mesmo a nível nacional, embora nem tanto), além de se mostrar apto a chocar a sociedade burguesa, foi publicado somente até o final de dezembro de 1913. Sua redação funcionava no antigo nº 36 da rua Marechal Deodoro.

Na capa de sua edição nº 1, A Bomba já trazia uma mensagem: um bombeiro jogando um jato de água sobre as palavras “politicagem”, “rotina”, “bandalheira” e “filhotismo”. Paradoxalmente, essa mesma edição denunciava os embaraços que um episódio de falta de água proporcionava a Curitiba, à época. O editorial deste número, assinado apenas por “Bolívar”, expunha:
O gosto das leituras constitue um dos maiores prazeres intellectuaes: confirmam-no todas as pessoas de senso. (...) O escriptor sabe que não poderá agradar a todos. As pessoas que lêm, sabem que não poderão sempre admirar. Não poderão. Mas lêm, para desenvolver o seu commentario opportuno, a sua censura, a sua apreciação discordante. E vamos e venhamos: a satisfação de criticar não é lá das menores! Por isso, quem não lê, no seu desinteresse das coisas humanas, desinteresse tão duro e quasi inconcebivel, será vencido, fatalmente, pela única concurrencia poderosa, que é a das intelligencias que se adestram em observações sobre livros, jornaes e revistas...

Vendido a 400 réis a edição, A Bomba vinha com cerca de 40 páginas, trazendo humor ilustrado, pequenas notícias e comentários mordazes, ensaios, artigos de opinião, poesia, trovas irreverentes, crônicas, quadrinhos, contos, variedades sobre o cotidiano cultural e mundano curitibano, resenhas literárias, fotogravuras, anedotas, indicadores e muitos anúncios, entre outras coisas. Destacava-se no miolo do periódico a seção “O Batates”, veiculada a partir do nº 2, de 21 de junho, até o nº 13, de 10 de outubro: disposta como se fosse um suplemento em forma de jornal, brincava com o sotaque e os costumes dos imigrantes alemães – a sátira com imigrantes de diversas nacionalidades, aliás, era uma constante em A Bomba, assim como grande crítica à força policial da capital. A publicação circulava em periodicidade trimensal, saindo aproximadamente nos dias 10, 20 e 30 de cada mês. Impressa na Typografia Internacional, situada na Praça Tiradentes nº 27, a revista vinha em quatro cores no formato 25 x 18 cm, aproximadamente.

Segundo um verbete sobre A Bomba no site do projeto Revistas Curitibanas: 1900-1920,
A Bomba foi uma das revistas editadas em Curitiba que mais deu ênfase à imagem. Desde o primeiro até o último número sua capa manteve o seguinte padrão: o logotipo desenhado no topo da página e uma grande imagem colorida ocupando o restante do espaço, quase sempre uma charge ou Cartum relativo a eventos e notícias políticas e sociais locais. Já o logotipo sofreu diversas variações nesse curto período de seis meses: ora desenhado em estilo art nouveau por K. Brito (como é o caso dos exemplares de número 1, 3 a 6, 10, 15, 16, 18 e 19), ora em letras geométricas e sóbrias (edições de número 2 e 13) ou com letra “corrida” (edições de número 7 a 9, 17, 20-21). (...) Os autores das imagens que estampam capas e interiores das diversas edições de A Bomba nem sempre as assinam, e quando o fazem usam pseudônimos. Entre os diversos ilustradores que colaboraram com a revista destaca-se a presença constante de: Sylvio (Aureliano Silveira), Felix (Euclides Chichorro) e Helio Scotti. Além destes, também aparecem: Jacob, Xico, Rubi, Juca, Simão, K. Melo, K. D. T, Tiririca, Romão e Mademoiselle Chy.

Além dos desenhistas listados acima, A Bomba publicou trabalhos de nomes como Aluízio França, Emiliano Pernetta, Júlio Pernetta, Miriam Catta-Preta, Marianna Coelho, Mario Rezende, Áurea Pessoa, Zaida Zardo, Costa Faria, Dias da Rocha Filho, Clélio Diniz, Nestor de Castro, João de Tapitanga, Hélio Scotti, Abel de Assumpção, Euclides Bandeira, Annita Philipowsky, Adelino Magalhães, Angelo Guarinello, José Moraes, Conselheiro Acácio, Felizardo dos Prazeres, Lycio de Carvalho, Teixeira Coelho, Gilberto Beltrão, Ernesto Leon Gomez (poeta colombiano), entre outros.

Em sua 17ª edição, de 20 de novembro de 1913, A Bomba dava sinais de que sua edição passava por momentos difíceis:
Devido á terrível crise de algibeira que atravessam os que trabalham na Bomba, deliberamos metter fogo na nossa modesta redacção, estamos apenas á espera que alguma companhia de seguros queira fazer o alto negocio de nos segurar. (...) Os nossos collegas do Corpo de Bombeiros já foram avisados e por especial obséquio prometteram não comparecer ao local. Ao snr. Annibal Carneiro julgamos supérfluo pedir que não forneça água para extinguir as chammas que isso já é de praxe.

A última edição de A Bomba saiu com numeração dupla. O nº 19 veio a lume em 10 de dezembro de 1913 e, com o atraso do nº 20, que deveria ter circulado pouco antes do Natal, a edição derradeira da revista acabou sendo publicada com os números 20 e 21, de 31 de dezembro de 1913. Em algumas de suas edições, A Bomba anunciava a edição de um almanaque ilustrado para 1914, “com mais de 500 páginas”, mas não se sabe se este chegou a ser produzido.

Fontes:

- Acervo: edições do nº 1, ano 1, 12 de junho de 1913, ao nº 20/21, de 31 de dezembro de 1913.

- A Bomba. In: Revistas Curitibanas: 1900-1920. Disponível em: http://www.revistascuritibanas.ufpr.br/ordemalfabetica.php#. Acesso em: 9 jan. 2014.