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A Epocha (Rio de Janeiro, 1889)

25 jul 2014

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e marcado com as tags Partido Conservador

Lançado no dia 8 de agosto de 1889, poucos meses antes da proclamação da República, tinha redação e oficina na rua Primeiro de Março nº 10, em Recife. Intitulava-se “órgão do Partido Conservador” e, assim como fazia a apologia do regime instaurado pela Constituição do Império de 1824, segundo revela o artigo-programa publicado no primeiro número, apoiaria logo depois o governo republicano, comandado pelo marechal Deodoro da Fonseca. Era, pois, uma publicação governista, e as polêmicas em que se envolveu, no seu curto período de existência, se restringiam basicamente às lutas políticas que ocorriam dentro do próprio Partido Conservador, sem críticas ao governo central.

A Carta de 1824 – a primeira do Brasil, outorgada pelo imperador D. Pedro I e tida como pouco democrática – estabeleceu no país o sistema representativo, no qual contracenaram partidos liberais, porém conservadores em sua grande maioria, como foram os partidos Conservador e Liberal que dominaram o jogo político no Segundo Reinado. Na verdade, não constavam do programa de nenhum deles as grandes questões que logo entrariam na ordem do dia, como por exemplo a abolição da escravatura e o fim do regime monárquico. Expressando os interesses de facção mais conservadora do Partido Conservador, cujo líder era Paulino José de Sousa, o visconde do Uruguai, A Epocha conclamava à luta aqueles que desejassem "ver regenerado e restituído a seu antigo prestígio o grande e patriótico” partido.

Com quatro páginas de cinco colunas e formato de 50cmx32cm, o jornal tinha como redatores João Barbalho Uchoa Cavalcanti, José Soriano de Sousa e Felício Buarque de Macedo. Logo no primeiro número, divulgou proclamação de Paulino José de Sousa e um artigo atacando o Diário de Pernambuco, jornal alinhado com o chefe de facção conservadora rival, o conselheiro João Alfredo Correia de Oliveira. Tido como “conservador progressista”, João Alfredo era a favor da Abolição e chefe do Conselho de Ministros de D. Pedro II (foi durante Gabinete de Ministros por ele chefiado que se conseguiu aprovar decreto de extinção da escravidão). A chefia do Partido Conservador tornou se, por algum tempo, ponto de discórdia entre os dois jornais, cada um a impugnar o nome apoiado pelo outro. Participava igualmente da polêmica, em menor escala, o jornal A Província, favorável a João Alfredo.

A partir de 22 de novembro o matutino adotou novo cabeçalho. Com o título impresso em enormes caracteres negros, de seis centímetros de altura, passou a ser apenas um "órgão conservador" e não mais “órgão do Partido Conservador”, já que este deixara de existir. Da mesma forma que apoiavam o governo imperial, foi também bem recebida pelos editores a profunda alteração na forma de governo com o fim da Monarquia e a implantação da República. Em 23 de novembro, após uma série de considerações a respeito do novo regime, escrevia um articulista:

"A nossa posição está, pois, definida. Obedeceremos com lealdade ao governo provisório, auxiliando-o do modo que for possível, para que se mantenha a paz e a integridade da nossa grande pátria. Não aconselharemos coisa diversa aos nossos amigos, sejam quais forem as suas opiniões políticas e ideias religiosas".

Como órgão conservador – concluía o articulista –, A Epocha não mudava de intuitos por ter mudado a forma política do Estado. Dias depois, a 3 de dezembro, o jornal salientava que os atos do governo provisório de Pernambuco, exercido pelo coronel Jose Cerqueira de Aguiar Lima, estavam merecendo "geral aplauso". Igual apoio mereceria, a seguir, o governo do marechal José Semeão de Oliveira. A edição de 20 de dezembro homenageou, com tarja negra em todas as páginas, a memória do conselheiro Álvaro Barbalho Uchoa Cavalcanti, falecido na véspera.

De rotina, mantinha ligeiro noticiário e seções fixas como o "Correio das Musas", com poemas e sonetos a cada dia de autores diferentes; a seção de variedades "Utile Dulci" e as seções "Para distrair", "Andam dizendo...", “Seção Sportiva", "Comercio", “Folhetim”, "Seção Livre", e de resto anúncios, que ocupavam pouco mais que uma página. Publicava às vezes artigos sobre jurisprudência, assinados por Oliveira Fonseca, e divulgava atos oficiais. Em 4 de outubro apareceram as "Notas Diárias", assinadas por C. Filho, destinadas a analisar os acontecimentos do cotidiano – sem "ofender, pessoalmente, qualquer vulto que, por acaso, neles tome parte" – e a protestar contra eventuais desmandos das autoridades.

A Epocha prosseguiu, ora diário, ora trissemanal, mas teve a circulação suspensa após o número 55, de 20 de março de 1890. Ressurgiu cinco dias depois, impresso em oficinas próprias, situadas no Cais 22 de Novembro (atual avenida Martins de Barros), números 58 e 60, com mais quatro centímetros de tamanho, seis colunas de composição e novo cabeçalho, mais adequado aos novos tempos políticos: "Brasil - 7 de setembro de 1822 - Órgão Republicano Conservador - Brasil - 15 de novembro de 1889".

Com boa tiragem, o jornal pareceu iniciar uma nova fase, inclusive divulgando um projeto de Constituição para o Estado de Pernambuco, de autoria do professor José Soriano de Sousa. No mês de maio a folha voltou a criticar o conselheiro João Alfredo, mantendo porém neutralidade no tocante à política estadual. Não faltaram, até o fim, substanciosos editoriais, em que se abordavam aspectos da vida brasileira em geral e da pernambucana em particular. Divulgavam-se artigos de França Pereira e versos de João Ribeiro. Em junho surgiu a seção "Revistinha", assinada por Oscar, pseudônimo de Teotônio Freire, que também escrevia prosa assinando-se Nemo.

Desde o lançamento, o jornal podia ser assinado por um ano ou por um semestre, tanto pelos leitores da capital quanto “para (os de) fora”. Ao editorial do primeiro número seguia-se um "Aviso" com instruções aos assinantes da folha residentes no interior: "Os que não tem correspondentes, e residem em lugares onde há agência do correio, podem remeter por intermédio dela, em vales postais, a importância das assinaturas, mediante a despesa de 200 reis, sendo 100 reis de percentagem e 100 reis do porte da carta".

Chama a atenção advertência impressa no alto à esquerda da primeira página de cada edição – “As pessoas, que nos fizeram a fineza de não devolver o presente número desta folha pedimos permissão para consideral-as nossos assignantes”. Mostra que certas “técnicas de marketing”, hoje usadas com frequências por várias empresas e tidas pelo senso comum como “novos” recursos de um capitalismo pouco ético, já eram praticadas no país que mal havia se livrado da escravidão.

Não obstante a normalidade e saudável aparência em seus últimos meses de circulação, o matutino desapareceu após o n°. 176, de 13 de setembro de 1890.

Fonte

1. NASCIMENTO, Luiz do. História da Imprensa de Pernambuco. Vol. II. Diários do Recife 1829/1900. Pernambuco, Recife: Universidade Federal de Recife, 1966. Disponível em: < http://www.fundaj.gov.br/geral/200anosdaimprensa/historia_da_imprensa_v06.pdf> Acesso em: 11 dez. 2012