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A Immigração – Orgão da Sociedade Central de Immigração

03 jul 2015

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e marcado com as tags Crítica política, Desenvolvimento rural, Imigração, Liberalismo, Questões agrárias, Rio de Janeiro, Segundo Reinado, Xenofobia

Lançado em dezembro de 1883, A Immigração foi um boletim informativo da Sociedade Central de Immigração. Era editado simultaneamente a outro periódico da emtidade, o boletim também chamado Sociedade Central de Immigração. Veiculada através da Imprensa Nacional em periodicidade irregular – entre mensal e bimestral –, A Immigração teve sede inicial no nº 63 da Rua General Camara, depois no nº 83 da Rua da Alfândega. Sua longevidade foi maior do que a de seu periódico irmão: chegou a lançar 76 edições, findando em abril de 1891, momento em que a própria iniciativa que a editava acabou.

Segundo o “Manifesto de 25 de Novembro”, publicado em ambos os periódicos, o grupo que os editava tinha como prioridade “promover, por todos os meios directos e indirectos ao seu alcance, o augmento da emigração europea para o Brazil”. Visando difundir no Brasil a ideia da imigração europeia, informar o imigrante europeu, trabalhar politicamente pelas reformas que julgava necessárias e, num segundo momento, divulgar na Europa a imigração para o Brasil, ambas as publicações eram redigidas pela própria diretoria da sociedade, um grupo composto por figuras liberais de certa importância frente ao Império.

A Sociedade Central de Immigração foi fundada por três destacados imigrantes alemães: o jornalista e deputado provincial pelo Rio Grande do Sul Karl Von Koseritz, Hermann Blumenau, fundador da colônia de mesmo nome em Santa Catarina, e Hugo Gruber, editor do periódico Allgemeine Deutsche Zeitung no Rio de Janeiro. No período entre 1883 e 1891 seus diretores se empenharam em fazer uma ampla campanha em favor não só da imigração europeia no Brasil: uma série de reformas quanto ao sistema latifundiário era proposta. Realizando a crítica da sociedade brasileira sob um viés liberal, a Sociedade Central de Immigração tinha suas próprias noções sobre como mudar a estrutura do país. Assim, seus filiados se reuniam regularmente, remetendo tanto para o governo quanto para os jornais cartas e petições, além da publicação de A Immigração e do boletim Sociedade Central de Immigração.

Michael M. Hall, no artigo “Reformadores de classe-média no império brasileiro: a Sociedade Central de Imigração”, esclarece alguns detalhes sobre a Sociedade Central de Immigração – e, portanto, a linha condutora de seus posicionamentos através de seus periódicos:
A Sociedade Central foi (...), em geral, dirigida por indivíduos da nova classe média-alta urbana, sobretudo intelectuais, profissionais independentes com treinamento científico e técnico, altos funcionários públicos e negociantes envolvidos no comércio externo. Praticamente todos os líderes tinham filiação com a Europa, através de nascimento, família, educação ou negócios. Pela sua eloquência, auto-confiança e treinamento técnico, eles demonstraram ser uma nova força na vida brasileira: um grupo de classe média consciente de seus interesses próprios e donos de uma crítica coerente e cabal da sociedade tradicional brasileira. A meta principal da Sociedade Central era a criação de uma forte classe média rural composta de imigrantes europeus que seriam agricultores independentes. A Sociedade criticava com veemência o sistema da grande lavoura que era característico da agricultura brasileira desde o século XVI. (...) A Sociedade proclamava que as grandes propriedades eram irremediavelmente ineficientes e atrasadas, sobretudo porque estavam baseadas na exploração brutal e absurda do trabalho escravo. Alem de difamar os fazendeiros como tiranos feudais sem inclinação a abandonar um sistema de trabalho vicioso e antiquado, a Sociedade também os apresentava habitualmente como incompetentes, incapazes ou mal dispostos a aplicar a tecnologia moderna para elevar a produtividade estarrecedoramente baixa das suas propriedades. Por cima de tudo, os fazendeiros eram tidos como socialmente irresponsáveis.

À época de lançamento de A Immigração e Sociedade Central de Immigração, a diretoria da entidade editora já não contava mais com seus fundadores: Koseritz havia voltado para o Rio Grande do Sul e Blumenau para a Alemanha. Ocupavam seus lugares, no entanto, Antônio Luiz von Hoonholtz, José Luiz Cardoso de Salles, Joseph Hermann Von Tautphoeus (respectivamente os barões de Teffé, Irapuá e Tautphoeus), Henrique de Beaurepaire Rohan, Ennes de Souza, Gustavo Trinks, Hugo A. Gruber, A. de Escragnolle Taunay, André Rebouças, Fernando Schmid, João Clapp, Vicente de Souza, Ferreira de Araújo, o major Leite de Castro, o conselheiro Nicolau Moreira e os comendadores Oliveira Lisboa e Malvino Reis.

Via de regra, A Immigração publicou manifestos, extensos relatórios, artigos, estatísticas, notícias de utilidade ao colono europeu e apelos em geral, focando questões variadas em torno da imigração no Brasil: questões econômicas, trabalhistas, salariais, humanitárias, de transporte e de propriedade territorial, em especial. Em paralelo, a sociedade expunha, através de suas páginas, suas noções do seria o desenvolvimento rural ideal para o caso brasileiro (ou seja, seu projeto de “democracia rural”), e relatava particularidades da imigração de determinadas nacionalidades, sem deixar de dar o parecer eurocêntrico da Sociedade Central de Immigração em cada caso – a imigração chinesa, por exemplo, era veementemente repudiada. Por outro lado, a sociedade também tratou de questões agrárias específicas das colônias habitadas e mantidas por escravos libertos.

Fontes:

- Acervo: ao nº 1, de 1º de dezembro de 1883, ao nº 4, sem data.

- BARRETO, Gustavo. Sociedade Central de Immigração: Em defesa do eurocentrismo e contra a “ameaça” do “elemento chinez”, cujo “odio à raça branca é innato”. Disponível em: http://midiacidada.org/sociedade-central-de-immigracao-em-defesa-do-eurocentrismo-e-contra-a-ameaca-do-elemento-chinez-cujo-odio-a-raca-branca-e-innato/. Acesso em: 17 jun. 2015.

- HALL, Michael M. Reformadores de classe-média no império brasileiro: a Sociedade Central de Imigração. In: Revista de História nº 105, 1º trimestre de 1976. Departamento de História, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Disponível em: http://revhistoria.usp.br/images/stories/revistas/105/a08n105.pdf. Acesso em: 17 jun. 2015.