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A Revolução Pacífica

05 ago 2014

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e marcado com as tags Liberalismo, Partido Liberal, Rio de Janeiro, Segundo Reinado

A Revolução Pacifica foi um semanário lançado em Niterói (RJ) em 2 de fevereiro de 1862, em provável continuidade aos periódicos A Pátria, que circulou de 1851 até 25 de março de 1860, e Echo da Nação, que circulou de março de 1860 a 15 de dezembro de 1861. Todos os três foram fundados por Carlos Bernardino de Moura e todos eles, segundo se pode inferir de suas páginas, fizeram oposição certos grupos conservadores durante o Segundo Reinado. A razão da mudança de nomes entre os periódicos – na realidade, era o mesmo jornal – teria sido a proibição de que o primeiro deles, A Pátria, continuasse a circular com este título. Segundo o Catálogo de periódicos de Niterói, organizado por Marcello e Cybelle de Ipanema em 1988, no qual se obtêm essas informações, há indícios de que esta “linhagem” tenha gerado ainda o jornal O Moderado também em 1862. A Revolução Pacifica durou, ao que se sabe, até a 113ª edição, de 11 de outubro de 1862, quando, a partir de 16 de outubro deste ano, A Pátria voltou a ser editada.

Assumindo posturas anti-oligárquicas e defendendo a liberdade de expressão, A Revolução Pacifica era contrária ao grupo adepto do chamado “puritanismo conservador” na política, em especial os “saquaremas”, apelido dado a um grupo de políticos fluminenses dentro do Partido Conservador e que acabou se estendendo a todo o partido. A eles se opunham aos “luzias”, apelido dos liberais no Segundo Reinado, e ao qual o semanário aparentemente se ligava.

Logo em seu primeiro número, o jornal destacava a “necessidade indeclinavel que tem o paiz de ver reformadas muitas de suas leis de occasião, muitos de seus hábitos funestos”. Dizendo-se avesso “aos excessos e à prepotência do poder”, o texto bradava:
Queremos, pois, a Revolução Pacifica, que se opera nas idéas, que se faz lenta e regularmente pela razão, persuadindo, aconselhando e convencendo á soberania popular que ella tem meios muito legitimos e beneficos de se fazer respeitar, de cortar os abusos, de restaurar o poder que se desvirtuou, e recompor as instituições que se viciaram ou estragaram com sophismas deploraveis. É nesse campo que a Revolução Pacifica vai atuar.

Apesar da forte oposição aos governos conservadores, o jornal reverenciava a monarquia e parecia estimar alguns poucos homens públicos nacionais, como o liberal (e mais tarde republicano) Saldanha Marinho.

De início, A Revolução Pacifica circulava aos domingos e era vendida a 200 réis. Após conseguir um número suficiente de assinantes, passou à periodicidade bissemanal na 9ª edição, de 13 de abril de 1862, não sem antes viver um breve hiato na publicação – a mudança provavelmente deu-se pelo fato de a impressão passar a ser feita em Niterói, na Typographia Moderna, de A. V. G. da Fonseca. A partir do nº 30, de 2 de julho do mesmo ano, o jornal tornou-se diário.

Oferecendo conteúdo predominantemente político, sobretudo na forma de artigos, o jornal abordou assuntos como a divisão de poderes na organização estatal brasileira durante o Segundo Reinado (eram quatro poderes: Executivo, Legislativo, Moderador e Judicial), administração pública, economia, comércio e indústria, finanças estatais, agricultura, memória de figuras importantes da política nacional, eleições provinciais, polêmicas políticas (quando jornais governistas eram especialmente criticados), legislação, sessões e trabalhos no Senado e na Câmara dos Deputados, abuso de privilégios por parte das autoridades, degradação do homem público, conceitos aplicados à política, construção e manutenção de obras públicas, problemas de infraestrutura, religião, literatura, movimentos portuário e das estradas de ferro etc. Notas esparsas e comentários sobre política e sociedade, efemérides, noticiário policial, discursos transcritos, textos eventuais sobre províncias brasileiras, notícias internacionais, crônicas teatrais, folhetins, anúncios e textos a pedidos também eram publicados.

A Revolução Pacífica não trazia em expediente o endereço da redação nem o nome de seu proprietário e diretor, que apenas assinava alguns artigos. Era impresso inicialmente na tipografia de outro jornal, na rua do Rosário nº 84, no Rio de Janeiro, e tinha apenas quatro páginas.

Fontes:

IPANEMA, Marcello de e IPANEMA, Cybelle de. Catálogo de periódicos de Niterói. Rio de Janeiro: Instituto de Comunicação Ipanema, 1988.