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Acervo da BN | A produção e o comércio de gravuras: os gravadores

11 fev 2021

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A arte e o comércio da gravura dependiam em grande parte do gravador, que precisava ter a habilidade de manusear as ferramentas de trabalho entre as quais o buril, conhecimento especializado adquirido pela prática ou treinamento formal sob a orientação de um mestre gravador e muita paciência e cuidado.

No século XVII era comum iniciar-se como gravador sendo um aprendiz, como ocorria em outros ofícios. O período de formação podia ser de 3 a 7 anos e a idade em que os jovens começavam seu treinamento era por volta dos 13 anos. Contratos de trabalho estabeleciam diretrizes quanto ao horário, folgas, alimentação e alojamento dos aprendizes e os valores que seus pais deviam pagar aos mestres variavam de acordo com as habilidades e a experiência de ambos. Os jovens que nasciam no seio de famílias que já atuavam no ramo tinham a oportunidade de serem treinados pelos familiares. O treinamento em desenho, especialmente o de figura humana, era fundamental para sua formação artística e podia ser realizado nas academias, nos estúdios de pintores ou pela cópia de gravuras e desenhos.

Após o período de formação, muitos gravadores ainda desconhecidos e sem condições financeiras de se estabelecerem tinham como alternativa trabalhar para seu mestre ou outro gravador recebendo um salário, ou ser contratado por hora ou por peça. Inicialmente podiam fazer os planos de fundo das composições ou os estágios preliminares das gravuras e, mesmo sendo remunerados, quase sempre não recebiam os créditos pelo trabalho nas inscrições. Empregar assistentes no ramo da gravura era uma prática comum, mas sua aceitação não era unânime e eventualmente surgiam queixas ou denúncias dentro do próprio meio. Outra alternativa aos gravadores era trabalhar para os editores de gravuras e, nos casos em que suas atividades se reduziam à cópia ou retoque de matrizes antigas para gerar mais impressões, não tinham a oportunidade de construir uma carreira e uma reputação.

No século XVIII a produção de gravuras se especializou em decorrência da expansão da demanda por imagens gravadas e da profissão de gravador. A especialização do trabalho ocorreu tanto em relação aos gêneros quanto às técnicas e suportes. Algumas áreas eram mais prestigiadas e competitivas, como as gravuras de figura humana e de paisagem, e aos gravadores menos habilidosos restavam áreas de menor destaque, como as ilustrações de livros e revistas. A especialização dos gravadores ocasionou inúmeras colaborações entre profissionais. Como exemplos, podemos citar o trabalho de um água-fortista que executava o desenho básico de uma gravura antes que ela fosse entregue a um burilista para sua conclusão, ou ainda a colaboração de gravadores especializados em figuras humanas, que as adicionavam em gravuras de arquitetura ou de paisagem feitas por outrem.

(Seção de Iconografia)


Modo de lançar agoa forte sobre a chapa.
Gravura para a edição portuguesa do "Tratado da gravura a agua forte, e a buril, e em maneira negra com o modo de construir as prensas modernas, e de imprimir em talho doce”, de Abraham Bosse, publicada pela Tipografia do Arco do Cego em 1801.