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Acervo da BN | A Tipografia do Arco do Cego

26 maio 2021

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A Tipografia do Arco do Cego, como é comumente conhecida, foi um empreendimento editorial que teve breve existência em Lisboa, entre 1799 e 1801, dirigido pelo naturalista brasileiro Frei José Mariano da Conceição Veloso (1742-1811).

Apesar do controle oficial que existia sobre a produção de impressos no Brasil e a divulgação de informações a seu respeito, a Tipografia publicou diversas obras destinadas a circular nas colônias portuguesas. Obras que tinham como objetivo, por um lado, estimular o estudo e a exploração das riquezas naturais, revigorar a economia agrícola para favorecer o desenvolvimento da metrópole e, por outro, semear o saber científico e instigar novos princípios de trabalho.

O projeto de divulgação científica e cultural de Frei Veloso e de D. Rodrigo de Sousa Coutinho, ministro português da Marinha e Ultramar, estava alinhado a um projeto de desenvolvimento econômico do império português. O estudo das ciências exatas e naturais tinha grande importância estratégica nos âmbitos político, econômico e militar, pois aplicava-se à agricultura, medicina, engenharia e navegação marítima.

A Tipografia contou com extenso corpo de colaboradores, como os “associados literários”, responsáveis pela seleção e tradução das obras escritas em línguas estrangeiras para o português, além de desenhistas, gravadores, abridores de tipos, impressores.
O ensino de gravura foi instituído na Tipografia, uma vez que era essencial à produção iconográfica. Organizado por Joaquim Carneiro da Silva (1727-1818), o ensino de gravura possibilitou não só a formação de gravadores como também a produção de imagens, atividade que beneficiou-se do suporte teórico oferecido por obras impressas na própria casa.

Extinta em 1801 por decreto de D. João VI, a Tipografia foi incorporada à Impressão Régia de Lisboa. Pouco depois da transferência da corte portuguesa para o Rio de Janeiro, Frei Veloso retornou ao Brasil. Desejando dar continuidade ao seu trabalho editorial, conseguiu obter a ordem para que a Impressão Régia de Lisboa remetesse ao Brasil parte do material relacionado à Tipografia, incluindo as matrizes abertas na oficina calcográfica. O conjunto remetido ao Rio de Janeiro foi recebido na Real Biblioteca em 1813 pelo seu diretor, Padre Joaquim Dâmaso, dois anos após a morte de Frei Veloso. As matrizes de gravura hoje existentes na Biblioteca Nacional compõem a coleção nominada em 2011 no Programa Memória do Mundo da UNESCO.

A gravura da constelação “Virgo”, de José Joaquim Marques, ilustra o “Atlas celeste” publicado pela Impressão Régia de Lisboa em 1804. Essa edição em língua portuguesa é uma tradução da obra “Atlas coelestis”, de John Flamsteed, originalmente publicada em Londres em 1729.

(Seção de Iconografia)