Acervo da BN | O Fazendeiro do Brazil
por Juliana Uenojo
19 fev 2022
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“O Fazendeiro do Brazil” é uma obra representativa do espírito pragmático que marcou a atividade editorial de Frei José Mariano da Conceição Veloso (1742-1811), naturalista brasileiro que dirigiu a Tipografia do Arco do Cego instalada em Lisboa entre 1799 e 1801.
Esta compilação de saberes rurais ou manual agrícola ilustrado foi organizado por Frei Veloso em cinco tomos, dos quais os três primeiros são subdivididos em duas ou três partes. A obra completa dedicada ao fazendeiro “cultivador” compõe-se de dez volumes e abarca os temas da cana-de-açúcar, tinturaria, bebidas alimentosas (café e chocolate), especiarias e filatura. Os volumes foram publicados em Lisboa entre 1798 e 1806 pela Impressão Régia, também conhecida como Régia Oficina Tipográfica, e pelas oficinas de Simão Tadeu Ferreira e João Procópio Correia da Silva.
Além dos dez volumes mencionados, há um outro intitulado “O Fazendeiro do Brazil criador”, dedicado a ensinar ao fazendeiro criador de animais os meios de obter um bom leite e os métodos de fabricar manteiga e queijo. Trata-se do único volume publicado pela Tipografia do Arco do Cego, em 1801.
Os textos que compõem os volumes foram coligidos de memórias estrangeiras escritas por autores da Europa e da América, havendo algumas contribuições de autores instalados no Brasil.
O tomo I é composto de duas partes e dedicado à cultura da cana e à produção do açúcar. No conhecido prefácio da primeira parte, Frei Veloso declarou ter sido incumbido de reunir e traduzir para o português as memórias estrangeiras convenientes aos estabelecimentos do Brasil, para o melhoramento da economia rural e das fábricas que dela dependiam. Com isto pretendia-se incentivar o progresso das práticas rurais e a diversificação agrícola. Tal projeto editorial alinhava-se à política colonial portuguesa do final do século XVIII e ao programa reformista de D. Rodrigo de Sousa Coutinho, ministro da Secretaria de Estado dos Negócios da Marinha e Domínios Ultramarinos. Sua estratégia de desenvolvimento contemplava o conhecimento e a exploração do território e das riquezas naturais dos domínios ultramarinos, a modernização da marinha portuguesa e das técnicas agrícolas praticadas no Império.
A gravura exibida na postagem apresenta o “Plano da reforma das moendas e picadeiro dos engenhos de açúcar” proposto por Jerônimo Vieira de Abreu. Ilustra a primeira parte do tomo dedicado à cultura da cana e à produção do açúcar. Seu autor, Manuel Luís Rodrigues Viana, além de gravador foi também abridor de tipos. A respeito da ornamentação das obras, Frei Veloso declarou que para facilitar o conhecimento das doutrinas expostas ao longo dos trabalhos, acrescentou as estampas que julgou necessárias, “com as quais pudessem os olhos ajudar ao entendimento na sua mais cabal e completa inteligência”. Nestas palavras, fica patente a função didática reservada à gravura em seu programa editorial.
Ainda no prefácio da primeira parte do tomo I, Frei Veloso incluiu entre suas reflexões e inovações teóricas a “conservação das brasílicas matas”. Questionava a exploração das matas supostamente abundantes para a satisfação das necessidades presentes, sem o receio de virem a faltar para o futuro. Segundo Veloso, a “mal entendida Agricultura” dos habitantes do Brasil, tal como eram praticadas as culturas de cana e de milho, a mineração que “revolve os montes com as bases para o céu”, o consumo de madeiras pelas grandes povoações e seu transporte anual para a Europa eram atividades responsáveis pela derrubada das matas e deterioração do solo. Outro mal provocado pela devastação das florestas, “tutoras e dispenseiras das águas”, seria a “redução da terra a um sequeiro”.
Referências bibliográficas:
BIBLIOTECA NACIONAL (Portugal). A Casa Literária do Arco do Cego (1799-1801): bicentenário. Lisboa: Biblioteca Nacional: Impresa Nacional-Casa da Moeda, 1999.
VELOSO, José Mariano da Conceição. O Fazendeiro do Brazil: melhorado na economia rural dos generos já cultivados, e de outros, que se podem introduzir; e nas fabricas, que lhe são próprias […], tomo I, parte I. Lisboa: Regia Officina Typografica, 1798.
VELOSO, José Mariano da Conceição. O Fazendeiro do Brazil, cultivador: melhorado na economia rural dos generos já cultivados […], tomo III, parte II. Lisboa: Officina de Simão Thaddeo Ferreira, 1799.
“Plano da reforma das moendas e picadeiro dos engenhos de açúcar”, gravura de Manuel Luís Rodrigues Viana que ilustra o primeiro tomo de “O Fazendeiro do Brazil”, dedicado à cultura da cana e à produção do açúcar.
Esta compilação de saberes rurais ou manual agrícola ilustrado foi organizado por Frei Veloso em cinco tomos, dos quais os três primeiros são subdivididos em duas ou três partes. A obra completa dedicada ao fazendeiro “cultivador” compõe-se de dez volumes e abarca os temas da cana-de-açúcar, tinturaria, bebidas alimentosas (café e chocolate), especiarias e filatura. Os volumes foram publicados em Lisboa entre 1798 e 1806 pela Impressão Régia, também conhecida como Régia Oficina Tipográfica, e pelas oficinas de Simão Tadeu Ferreira e João Procópio Correia da Silva.
Além dos dez volumes mencionados, há um outro intitulado “O Fazendeiro do Brazil criador”, dedicado a ensinar ao fazendeiro criador de animais os meios de obter um bom leite e os métodos de fabricar manteiga e queijo. Trata-se do único volume publicado pela Tipografia do Arco do Cego, em 1801.
Os textos que compõem os volumes foram coligidos de memórias estrangeiras escritas por autores da Europa e da América, havendo algumas contribuições de autores instalados no Brasil.
O tomo I é composto de duas partes e dedicado à cultura da cana e à produção do açúcar. No conhecido prefácio da primeira parte, Frei Veloso declarou ter sido incumbido de reunir e traduzir para o português as memórias estrangeiras convenientes aos estabelecimentos do Brasil, para o melhoramento da economia rural e das fábricas que dela dependiam. Com isto pretendia-se incentivar o progresso das práticas rurais e a diversificação agrícola. Tal projeto editorial alinhava-se à política colonial portuguesa do final do século XVIII e ao programa reformista de D. Rodrigo de Sousa Coutinho, ministro da Secretaria de Estado dos Negócios da Marinha e Domínios Ultramarinos. Sua estratégia de desenvolvimento contemplava o conhecimento e a exploração do território e das riquezas naturais dos domínios ultramarinos, a modernização da marinha portuguesa e das técnicas agrícolas praticadas no Império.
A gravura exibida na postagem apresenta o “Plano da reforma das moendas e picadeiro dos engenhos de açúcar” proposto por Jerônimo Vieira de Abreu. Ilustra a primeira parte do tomo dedicado à cultura da cana e à produção do açúcar. Seu autor, Manuel Luís Rodrigues Viana, além de gravador foi também abridor de tipos. A respeito da ornamentação das obras, Frei Veloso declarou que para facilitar o conhecimento das doutrinas expostas ao longo dos trabalhos, acrescentou as estampas que julgou necessárias, “com as quais pudessem os olhos ajudar ao entendimento na sua mais cabal e completa inteligência”. Nestas palavras, fica patente a função didática reservada à gravura em seu programa editorial.
Ainda no prefácio da primeira parte do tomo I, Frei Veloso incluiu entre suas reflexões e inovações teóricas a “conservação das brasílicas matas”. Questionava a exploração das matas supostamente abundantes para a satisfação das necessidades presentes, sem o receio de virem a faltar para o futuro. Segundo Veloso, a “mal entendida Agricultura” dos habitantes do Brasil, tal como eram praticadas as culturas de cana e de milho, a mineração que “revolve os montes com as bases para o céu”, o consumo de madeiras pelas grandes povoações e seu transporte anual para a Europa eram atividades responsáveis pela derrubada das matas e deterioração do solo. Outro mal provocado pela devastação das florestas, “tutoras e dispenseiras das águas”, seria a “redução da terra a um sequeiro”.
Referências bibliográficas:
BIBLIOTECA NACIONAL (Portugal). A Casa Literária do Arco do Cego (1799-1801): bicentenário. Lisboa: Biblioteca Nacional: Impresa Nacional-Casa da Moeda, 1999.
VELOSO, José Mariano da Conceição. O Fazendeiro do Brazil: melhorado na economia rural dos generos já cultivados, e de outros, que se podem introduzir; e nas fabricas, que lhe são próprias […], tomo I, parte I. Lisboa: Regia Officina Typografica, 1798.
VELOSO, José Mariano da Conceição. O Fazendeiro do Brazil, cultivador: melhorado na economia rural dos generos já cultivados […], tomo III, parte II. Lisboa: Officina de Simão Thaddeo Ferreira, 1799.
“Plano da reforma das moendas e picadeiro dos engenhos de açúcar”, gravura de Manuel Luís Rodrigues Viana que ilustra o primeiro tomo de “O Fazendeiro do Brazil”, dedicado à cultura da cana e à produção do açúcar.