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Annaes da Escola de Minas de Ouro Preto

02 set 2014

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e marcado com as tags Ciências geológicas, Claude Henri Gorceix, Escola de Minas de Ouro Preto, Minas Gerais

Lançados em 1881, os Annaes da Escola de Minas de Ouro Preto foram a primeira e principal publicação periódica da Escola de Minas de Ouro Preto, instituição idealizada por dom Pedro II e organizada pelo francês Claude Henri Gorceix, também seu primeiro diretor. Fundada em 12 de outubro de 1876, a Escola de Minas foi pioneira no ensino de estudos geológicos, mineralógicos e metalúrgicos no Brasil e na valorização do trabalho de campo, opondo-se à tradição livresca baseada essencialmente na leitura de textos. Tornou-se famosa na época a prática pedagógica conhecida como “espírito de Gorceix”. Vital para a introdução da pesquisa científica no Brasil, a Escola de Minas foi uma das bases da criação, em 1969, da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).

Em seus primeiros anos, os Annaes eram publicados com o subtítulo “Collecções de memorias e de noticias sobre a Mineralogia, a Geologia e as explorações das minas no Brazil”. Nas sobrecapas, o periódico trazia a frase Cum mente et malleo (“Com a mente e o martelo”), que, além de lema da Geologia, servia de divisa da escola.

A primeira edição dos Annaes foi impressa no Rio de Janeiro (RJ), na Typographia Nacional. Já o nº 2, de 1883 – em 1882 o periódico não foi publicado – foi composto em Ouro Preto, na tipografia do jornal A Província de Minas, publicação local do Partido Conservador. Nos números 3 (1884) e 4 (1885), no entanto, os Annaes voltaram a ser impressos na capital do Império, na Tipographia G.. Leuzinger & Filhos, localizada no nº 31 da rua do Ouvidor. Considerando-se apenas as edições de nº 1 ao nº 4, os Annaes da Escola de Minas de Ouro Preto tiveram número de páginas oscilante, entre 164 e 331. Ao contrário de jornais e revistas da época, sua diagramação era como a de livros, de acordo com o caráter formal e acadêmico da instituição.

Em sua edição inicial, de 1881, os Annaes traziam prefácio assinado por Claude Henri Gorceix, que revelava, primeiro, as dificuldades para a manutenção de uma publicação periódica, discorrendo depois sobre o programa da publicação:
Os Annaes da Escola de Minas de Ouro Preto fornecerão os pormenores mais precisos que se puderem dar sobre a situação das minas exploradas no Imperio do Brazil e sobre o estado das diversas concessões feitas pelo governo, dos estudos sobre os estabelecimentos metallurgicos existentes, dos trabalhos de mineralogia e geologia relativos ao paiz, dos resultados das analyses feitas no laboratorio de docimasia da Escola. Darão também noticias dos aperfeiçoamentos mais recentes introduzidos na exploração das minas e na metallurgia, e enfim informações sobre as questões financeiras ou juridicas mais importantes, que interessem tanto a industria mineira do Brazil, como a do resto do mundo.

Ao final, depois de discorrer sobre os temas abordados no volume, o diretor da Escola de Minas dizia que a publicação deveria circular também fora do Brasil, e lembrava que alguns dos colaboradores do periódico eram alunos da instituição. Gorceix também deixava transparecer seu grande interesse pela pesquisa de campo: “O tempo das discussões frivolas sobre palavras e theorias, simples especulações do espirito legadas pela idade média, das quaes ha muito o velho mundo desembaraçou-se, já passou”.

Além de trazer informações gerais, notícias e programas de ensino da Escola de Minas, o periódico publicou artigos, estudos, leis e disposições oficiais, relatos, experiências, estatísticas, textos transcritos de outras publicações, gráficos, gravuras, mapas e plantas relativos às áreas de pesquisa da escola. Entre os assuntos mais abordados nos Annaes estão estudos químicos e geológicos das rochas da província de Minas Gerais, exploração de minas de galena, viagens de estudos a determinadas localidades, análises laboratoriais, números da produção de metais preciosos em Minas Gerais e no mundo (ver números 1 e 2), processos aplicados na exploração industrial de recursos naturais, a indústria mineral em Minas Gerais (com detalhes sobre empresas de exploração no nº 2), o trabalho do naturalista dinamarquês Peter Wilhelm Lund no Brasil (em destaque nos números 3 e 4, um texto desse arqueólogo sobre ossadas fósseis em cavernas de calcário), transmissão de forças motoras à distância pela eletricidade, bacias terciárias de água doce em Ouro Preto, ferramentas e instrumentos usados em pesquisas de campo, particularidades de determinados compostos minerais e rochas, engenharia de minas, particularidades sobre a indústria do ferro brasileira, dados disponibilizados pelo Observatório Meteorológico da Escola de Minas de Ouro Preto, etc.

Gorceix foi o autor de boa parte dos artigos publicados nos primeiros números. Com o tempo, cresceu o número de colaboradores, entre os quais Francisco de Paula Oliveira, Joaquim Cândido da Costa Sena, Armand de Bovet, Artur Thirè, Leônidas Damázio Botelho, João Florentino Meira de Vasconcellos, Leandro Dupré, Antonio Olinto dos Santos Pires, Paul Ferrand, Luiz C. Ferraz, Alberto Mazoni Andrade, Fausto Alves de Brito, Alceu de Lellis, Miguel Arrojado Lisboa, Clodomiro de Oliveira, Domingos Fleury da Rocha e Emídio Ferreira da Silva Júnior.

Os Annaes, como sucedeu com várias publicações nacionais, não conseguiram manter periodicidade estável. Sua edição nº 4 veio a público em 1885, o nº 5 só em 1902 e as demais nos seguintes anos: nº 6 (1903), 7 (1905), 8 (1906, ano em que ainda circularam duas edições extras), 9 (1907), 11 (1909), 12 (1910), 13 (1911), 14 (1912), 15 (1917), 16 (1920), 17 (1921), 18 (1922), 19 (1923), 20 (1924), 21 (1925), 23 (1932), 24 (1933), 26 (1935), 27 (1946), 28 (1947). Após outro grande hiato, o nº 29 veio à luz em 1956, mantendo a publicação regularidade até 1961, quando saiu a 34ª e última edição, como informa a biblioteca da Universidade Federal de Ouro Preto. Seu desaparecimento pode ter relações com o período difícil vivido pela Escola de Minas a partir de 1939 – um panorama de crise tanto política quanto institucional. Até pouco antes do fim do periódico, a escola era ligada à Universidade do Brasil, o que durou até 1960, um ano antes circulação do último número.

Fontes:

1. Acervo: edições do nº 1, de 1881, ao nº 4, de 1885.
2. CARVALHO, José Murilo de. A Escola de Ouro Preto: o peso da glória. São Paulo: Ed. Nacional; (Rio de Janeiro): Financiadora de Estudos e Projetos, 1978.
3. Catálogo on-line. Sistema de bibliotecas e informação Sisbin. Universidade Federal de Ouro Preto. Disponível em: www.sisbin.ufop.br. Acesso em 5 abr. 2012.
4. Contato com Renata Ferreira dos Santos, da biblioteca da UFOP, via e-mail.
5. _______. A Escola de Minas – Histórico e Diretoria. Escola de Minas de Ouro Preto. Disponível em http://www.em.ufop.br/em/apresentacao.php. Acesso em 4 abr. 2012.
6.________. Claude Henri Gorceix e a Escola de Minas de Ouro Preto. In A França no Brasil. Biblioteca Nacional Digital. Disponível em http://bndigital.bn.gov.br/homolog/francebr/gorceix.htm Acesso em 4 abr. 2012.