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Artes | O pintor e desenhista francês Jean Baptiste Debret

12 maio 2021

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e marcado com as tags Artistas Franceses, Biblioteca Nacional, Debret no Brasil, Missão Francesa, Secult, Viagem de Debret

Jean Baptiste Debret nasceu na França em 18 de abril de 1768. Era primo e aluno do pintor Jacques-Louis David. Atuava como professor de desenho na École Polytechnique em Paris e sua carreira como pintor histórico ganha destaque em função da representação nas telas dos triunfos de Napoleão. Com a queda deste, Debret se viu sem apoio e no âmbito pessoal sofre a desventura de perder seu único filho. Tantos dissabores acabam por propiciar as condições para que ele venha para as exóticas terras além mar.

Em 1815 Antonio Luis de Meneses, o Marques de Marialva, embaixador português na França e Antonio Araújo e Azevedo, o Conde da Barca, então ministro de assuntos estrangeiros no Rio de Janeiro, priorizando o desenvolvimento industrial e cultural do Brasil, durante o agitado período de 1814-15 na França intentam fundar aqui a Escola Real das Ciências, Artes e Ofícios , tendo como consequência legal o decreto executivo de 12 de agosto de 1816 através do qual seria possível alocar recursos para a vinda de artistas estrangeiros, passando a existir legalmente a instituição que viria a se tornar na Academia Imperial de Belas Artes, aos moldes daquela existente em Paris.

Essa atitude, como tantas outras, deixa clara a intenção de D.João de aqui permanecer e estabelecer no Rio de Janeiro a capital imperial num plano de afirmação política em relação a Londres e Lisboa. Cabe ao francês Joachim Lebreton, que havia sido destituído do cargo de secretário perpétuo da classe de Belas Artes do Instituto de França, organizar, a mando do governo português, a vinda dos artistas para o Brasil. A intenção era de que eles por aqui permanecessem por 6 anos.

Jean Baptiste Debret faz, então, parte do grupo de artistas, artesãos, mecânicos, carpinteiros que parte para o Brasil, a chamada Missão Francesa.

D.Maria I havia morrido poucos dias antes da chegada dos artistas que aportam no Rio de Janeiro em 26 de março de 1816. Com eles chegam também mais de 50 quadros, obras de artistas importantes como Canaletto, Poussin, Tintoretto e Veronese, para júbilo de D.João. Incluídos na bagagem havia assim elementos da cultura que deixavam para trás.

São recebidos na corte com muita pompa e permanecem ocupados com os festejos da aclamação de D.João: havia que pintar retratos, projetar arcos triunfais, varandas e outros elementos de Arquitetura efêmera. Debret passa a ser o pintor oficial da Corte. A projetada Academia ainda não tem existência real.

D.João, pressionado pela política, retorna a Portugal em 1821, com ele viajando o aparato da Corte. D.Pedro fica no Brasil como regente, mas a abertura da Academia continuava sendo adiada. Debret deixa passar o tempo de retornar à França e aqui vai ficando. Resolve, então, ministrar aulas de pintura a partir de 1824. Após marchas e contramarchas, a Academia é enfim inaugurada em 1826 já com trabalhos executados por alunos de Debret.

Em 1827 realiza uma excursão ao Sul retratada em uma série de aquarelas. Só em 1831 o artista retorna à França, tendo, portanto, permanecido no Brasil por quinze anos, bem mais do que os seis inicialmente propostos. Em 1837 quando chegava ao fim o segundo período de licença que havia pedido na Academia, indica Araújo Porto-Alegre para sua vaga. Durante oito anos após sua volta à pátria, Debret se dedica aos três volumes da obra referida aqui: Voyage pittoresque et historique au Brésil, ou séjour d’um artiste français au Brézil, depuis 1816 jusqu’em 1831 inclusivement que foi publicada pela editora Firmin Didot apresentando obras de vários gravadores, como Simon Pradier, a partir dos desenhos de Debret apresentando pessoas, costumes e paisagens brasileiras.

É interessante notar no percurso da produção artística de Debret o contraste entre o pintor de quadros históricos de grandes proporções que retratavam os feitos de Napoleão Bonaparte e o desenhista de cenas bem detalhadas e minuciosas do cotidiano e da natureza encontrados por aqui.

Em 1837, o governo lhe concedeu uma pensão como reconhecimento pelos serviços prestados ao Brasil. Morreu em Paris, em 28 de junho de 1848.

As imagens das obras de Debret são largamente reproduzidas em livros didáticos e até em enredos de escolas de samba e cinema. Em 1965, no primeiro carnaval após o golpe militar, todas as Escolas de Samba homenagearam o Rio de Janeiro em seu quarto centenário tendo sido a cidade ornamentada com temas de obras de Debret e Rugendas.

(Seção de Iconografia)


Voyage pittoresque et historique au Brésil.Paris, 1834-1830. Paris [França]: Firmim Diderot Freres, 1834 -1839.